Economia

Risco do aço: Investimento de R$ 4 bi da ArcelorMittal no ES pode ser cancelado

Motivo, segundo presidente da empresa no Brasil, Jorge Oliveira, é a entrada de aço da China e outros países da Ásia por causa do aumento de tarifas imposto pelos EUA

Jorge Oliveira espera que governo renove barreiras ao aço importado que vem para o Brasil de países asiáticos. Crédito: Gabriel Lordello/ArcelorMittal
Jorge Oliveira espera que governo renove barreiras ao aço importado que vem para o Brasil de países asiáticos. Crédito: Gabriel Lordello/ArcelorMittal

A entrada de aço da China e outros países da Ásia continua o pesadelo das siderúrgicas brasileiras. E pode afetar diretamente o Espírito Santo, bem como o maior investimento privado da história do Estado. Isso porque o investimento de R$ 4 bilhões anunciado pela ArcelorMittal para a construção de uma linha de galvanização e um laminador de tiras a frio (LTF) no Complexo de Tubarão, na Serra, pode não ser viável.

De janeiro a março, as importações de produtos acabados de aço cresceram 34% no país sobre o mesmo trimestre de 2024, conforme números oficiais. Nesse sentido, o termômetro das empresas é que elas mantêm o mesmo ritmo a partir de abril. Do mesmo modo, o sistema de cotas-tarifas adotado pelo governo brasileiro no início de junho do ano passado vence no fim deste mês. Ainda mais que não surtiu efeito.

“Maio é um mês chave para discutirmos o futuro do setor de aço”. A afirmação é de Jorge Luiz Ribeiro de Oliveira, novo presidente da ArcelorMittal Brasil, que assumiu o cargo no início de abril. O executivo tem longa carreira na unidade capixaba da empresa. Ele diz que a companhia aguarda do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), no mínimo, a renovação do sistema.

Nesse sentido, a medida ajudaria a estancar a enxurrada de aço chinês no País. A China, no todo, coloca quase dois terços do volume importado, que representa quase um quarto do consumo.

Segundo Jorge Oliveira, a renovação da medida é o mínimo que se precisa para o grupo manter sua confiança de investimentos futuros em aço no Espírito Santo e no país. Isso após o ciclo de R$ 25 bilhões que começou em 2022 e termina antes de 2027.

Temos previstos aos menos mais R$ 10 bilhões, sendo 40% no Espírito Santo. O projeto está na fase de estudos de viabilidade para aprovação do Comitê de Investimento e do Conselho de Administração do grupo no fim de 2025. Jorge Oliveira, presidente da ArcelorMittal Brasil.

Aço do Brasil e tarifas dos EUA

A ArcelorMittal é o maior grupo produtor de aço do Brasil, com uma fatia na faixa de 42% do total. No ano passado, o grupo fabricou 15,5 milhões de toneladas e teve receita líquida de quase R$ 67 milhões. A empresa é a maior exportadora de placas de aço ao mercado americano.

As medidas tarifárias do presidente dos EUA, Donald Trump, atingiram as exportações de aço do país para aquele mercado. Estão em vigor desde 12 de março. Ao mesmo tempo, acirraram a competição em âmbito global. Ou seja, o Brasil, com o mercado amplo que tem, tornou-se mais vulnerável aos exportadores chineses e do Sudeste asiático, afetados com as tarifas americanas.

Segundo publicações especializadas, os preços de venda de placas no mercado americano tiveram queda de 5% a 7% em decorrência da maior concorrência com produtores asiáticos desde o anúncio das medidas. Jorge Oliveira, presidente da ArcelorMittal Brasil

Menos oferta nos EUA

Jorge Oliveira disse que os embarques de placas de aço da ArcelorMittal para a laminadora Calvert, no Alabama, joint venture com a Nippon Steel, continuam normalmente. O motivo é o déficit de oferta desse produto nos EUA e os clientes continuam pagando os 25% para ter aço.

“Não fomos, até o momento, afetados nas exportações de aço”. E uma explicação, diz ele, é que o preço do produto acabado vendido por Calvert e outras laminadoras do país subiu mais que os 25% da tarifa, em alguns casos passando de 30%.

A expectativa do setor é que o governo brasileiro consiga renovar o acordo de 2018 que definiu uma cota dura (hard quote) de exportação de aço semiacabado e produtos laminados aos EUA.