Economia

Se acelerar reformas, próximo governo pode querer mexer no teto, diz Ana Paula

Se acelerar reformas, próximo governo pode querer mexer no teto, diz Ana Paula Se acelerar reformas, próximo governo pode querer mexer no teto, diz Ana Paula Se acelerar reformas, próximo governo pode querer mexer no teto, diz Ana Paula Se acelerar reformas, próximo governo pode querer mexer no teto, diz Ana Paula

A secretária-executiva do Ministério da Fazenda, Ana Paula Vescovi, afirmou nesta terça-feira, 7, que, se o próximo governo acelerar a aprovação de reformas e conseguir empreender um ajuste fiscal mais rápido, é possível “eventualmente querer” mexer na regra do teto de gastos. “Agora, é emenda constitucional, tem que fazer uma discussão robusta com Congresso e sociedade”, disse após participar de seminário promovido pela Rádio CBN e pelo Iesb.

Antes, no evento, Ana Paula havia desconversado sobre a necessidade de o próximo presidente mexer no teto de gastos, como têm defendido alguns candidatos ao Palácio do Planalto. Ela afirmou, porém, que qualquer discussão dependeria do andamento das reformas.

Segundo a secretária, o governo atual desenhou a regra do teto, que limita o crescimento das despesas à inflação, prevendo um ajuste fiscal gradual ao longo de 10 anos e uma redução de 0,5 pp nas despesas em relação ao PIB em cada ano.

A secretária reconheceu que, se as reformas forem aprovadas logo, isso seria uma sinalização importante para eventualmente mexer no teto de gastos sem despertar desconfiança em relação à sustentabilidade das contas do País. “As reformas são a principal âncora para reequilibrar a condição fiscal”, afirmou.

Ana Paula citou duas reformas essenciais: a da Previdência e a do engessamento do Orçamento. Segundo ela, é necessário desindexar gastos e diminuir o volume de receitas vinculadas.

FGTS

A secretária-executiva do Ministério da Fazenda afirmou que a antecipação da ampliação do limite para financiamento de imóveis com uso de recursos do FGTS para R$ 1,5 milhão “é algo que pode vir a ser estudado”. Ela destacou, porém, que a decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN) já foi tomada. O colegiado determinou que a medida passe a valer a partir de 1º de janeiro de 2019.

“As decisões já foram tomadas, e o fato de se adotar para o ano que vem é gerar previsibilidade suficiente para o setor se organizar. Eu acho que precisa sim de algum tempo para o setor entender a medida”, afirmou Ana Paula.

A secretária disse ainda que todas as medidas tomadas pelo CMN para melhorar a regulamentação do setor imobiliário foram positivas. “Isso permite que os recursos à disposição do setor sejam melhor alocados, com regras claras”, afirmou.

Lei Kandir

O impasse entre Estados e a União sobre os repasses da Lei Kandir precisam ser resolvidos dentro do “realismo das contas”, disse Ana Paula Vescovi.

Como mostrou na segunda-feira, 6, o Broadcast (serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado), a Confederação Nacional dos Municípios (CNM) diz haver R$ 21,26 bilhões no Orçamento da União deste ano que não foram empenhados e poderiam ser repassados aos Estados.

“Mesmo que haja espaço aqui e ali dentro do Orçamento, são despesas permanentes”, alertou Ana Paula.

A secretária afirmou que o governo já ofereceu algo possível dentro do contexto de restrição orçamentária, que é fixar o valor do Fundo de Auxílio Financeiro para Fomento das Exportações (FEX) e corrigir os repasses da Lei Kandir e do fundo à exemplo da regra do teto (ou seja, inflação do ano anterior). “Isso seria passível de implementação”, disse.

Na comissão que analisou o tema no Congresso, a proposta do governo foi de um repasse de R$ 3,9 bilhões. Mas o relatório aprovado prevê um repasse de R$ 19,5 bilhões no primeiro ano após a aprovação, R$ 29,25 bilhões no segundo ano e, a partir daí, de R$ 39 bilhões ao ano.

A Lei Kandir desonerou as exportações do pagamento de ICMS. Em troca, previu que o governo federal faria repasses a Estados e municípios para compensá-los pelas perdas decorrentes do benefício. Nos últimos anos, porém, cresceram as reclamações de que esses repasses estão minguando, onerando os cofres dos governos regionais.

Em 2016, o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou que o Congresso Nacional aprovasse uma metodologia de cálculo para o repasse. O prazo se encerra neste mês. Se não houver consenso, a tarefa será delegada ao Tribunal de Contas da União (TCU).

A secretária defendeu ainda que o efeito dessas transferências seja avaliado de perto. “Talvez a gente tenha que chegar a um momento de avaliar melhor o efeito dessas transferências. A Lei Kandir já se demonstrou importante, o Brasil multiplicou por 4 ou 5 o volume das exportações, mas os diagnósticos da época não se colocam mais hoje.

Hoje os Estados têm tributação mais no destino, e quem é mais produtor de commodities recebe royalties”, disse Ana Paula.

Caixa

A secretária-executiva do Ministério da Fazenda afirmou que não há definição sobre eventual dispensa da segunda parcela do aporte de capital previsto para a Caixa Econômica Federal. Ana Paula, que é presidente do Conselho de Administração do banco, afirmou que a instituição tem um plano de capital gerido junto ao Banco Central e que “os cálculos são refeitos no tempo”.

A Junta de Execução Orçamentária (JEO) aprovou na semana passada um repasse de R$ 878 milhões para a capitalização do banco, que precisa do aporte para cumprir normas regulatórias do sistema bancário que requerem um capital mínimo para fazer frente a riscos. É a primeira parcela de um repasse total de R$ 2 bilhões de que precisa a instituição, como antecipou o Broadcast.

Segundo Ana Paula, resultados positivos contribuem para melhorar a situação de capital, mas ela não descartou a segunda parcela do aporte. “Isso não tem nada definido”, disse.

A secretária ressaltou ainda que a Caixa tem adotado medidas internas para resolver seus problemas de governança e de capital, com ajustes operacionais, otimização de recursos, ganhos de eficiência e recuperação de créditos.

Garantias

O governo quer montar uma estrutura para reunir informações sobre a situação de alavancagem das garantias entregues por Estados e municípios a empréstimos concedidos pelos bancos, disse a secretária-executiva do Ministério da Fazenda. “A ideia é que Banco Central pudesse fazer compilação dessas informações”, afirmou.

Segundo ela, o Tesouro Nacional já encaminhou ao BC informações sobre a entrega, pelos governos regionais, de recursos dos Fundos de Participação de Estados (FPEs) e Municípios (FPMs) como garantia ou contragarantia de operações de crédito. “O BC tem informação do sistema bancário como um todo, então é passível construir isso”, disse Ana Paula, após evento promovido pela Rádio CBN e pelo Centro Universitário Iesb.

A medida está sendo desenhada porque há o temor no governo de que os Estados e municípios tenham prometido a mesma receita tributária como garantia em diferentes operações, ou até a diferentes bancos. É como se o proprietário de um veículo tivesse empenhado o bem como garantia em mais de um empréstimo. Em caso de calote, ninguém conseguiria restituir o total das garantias, o que expõe as instituições financeiras a um risco maior que o previsto.

“Temos riscos associados a esse processo. Essas garantias são dadas a múltiplos agentes, todos têm que conhecer o que foi dado em garantia. Precisamos ter conjunto bastante robusto de informações sobre o que já foi empenhado em termos de garantias provenientes desses recursos, até porque são recursos que estão à disposição da sociedade para financiar políticas como saúde e educação”, afirmou Ana Paula.

A discussão veio à tona em meio à polêmica dos empréstimos concedidos por bancos públicos diretamente a Estados e municípios, sem o aval do Tesouro Nacional. As instituições financeiras, sobretudo Caixa e BNDES, aceitaram receitas do FPE e do FPM como garantia, o que é visto como ilegal por técnicos do Tribunal de Contas da União (TCU) e pelo Ministério Público junto à corte de contas. O caso foi revelado pelo Broadcast.

Além disso, a situação expõe aos bancos a um risco maior, já que não haverá a quem recorrer caso o governo regional dê o calote e não consiga recuperar as receitas prometidas como garantia. Só a Caixa tem R$ 21,4 bilhões nas mãos de Estados e municípios nessas condições, sem garantia do Tesouro Nacional, o equivalente a dois terços do saldo de operações com a administração pública direta no primeiro trimestre deste ano.

A secretária reconheceu que há controvérsia sobre o assunto. O MP-TCU e o comando da unidade técnica que analisou o tema defendem a proibição dessas operações. Outra ala dos auditores não vê irregularidade no empenho dessas garantias diretamente junto aos bancos. “Seja para qual lado for, é preciso ter solução para ter certeza jurídica de qual é caminho a seguir”, disse.

Ana Paula afirmou que a Caixa já tem uma governança bem instalada para decidir sobre os novos pedidos de empréstimos feitos por Estados e municípios. Ela ressaltou, porém, que o banco vai cumprir a decisão que for tomada pelo TCU.

Benefícios aos servidores

A secretária-executiva do Ministério da Fazenda disse que é preciso discutir não só o auxílio-moradia concedido a juízes, mas, sim, todos os benefícios pagos a servidores públicos. Ela lembrou que muitas vezes esses auxílios levam a remuneração do funcionário a ultrapassar o teto, que hoje é de R$ 33,7 mil mensais.

“A sociedade pode definir qual é o teto do funcionalismo, mas não dá para dizer qual remuneração conta ou não”, afirmou Ana Paula. Ela destacou ainda que muitos grupos são organizados e fazem pressão dentro do Congresso Nacional por medidas que os beneficiem. “Temos corporações muito fortes no Brasil, e contra essas corporações que lutam por seus interesses, temos que voltar a pensar no coletivo”, disse.

Segundo a secretária, os servidores ganham em média 60% acima de um funcionário do setor privado. “Isso é fator de desigualdades. Temos que fazer enfrentamento muito claro”, defendeu.

Ana Paula disse também que é preciso “olhar um pouco mais para a tributação do andar de cima”. Para ela, a tributação sobre dividendos é um tema que precisa ser estudado à luz de duas situações.

Uma delas é quando os dividendos são distribuídos para pessoas físicas, ou seja, deixam de ser financiamento para o setor produtivo. Outra é quando são distribuídos para pessoas jurídicas. “Aí tem que cuidar para não tributar a poupança das empresas para investir, gerar crescimento”, disse.

De modo mais geral, ela defendeu que uma reforma tributária parta de um ponto de “neutralidade” na arrecadação, para tornar a cobrança mais racional sem aumentar ou reduzir a carga tributária.