Economia

'Se preciso, vamos cortar as despesas obrigatórias', diz Mansueto

O secretário disse que a maior preocupação é monitorar o comportamento da economia. Ele ainda afirmou que "os dados de recuperação são muito ambíguos"

‘Se preciso, vamos cortar as despesas obrigatórias’, diz Mansueto ‘Se preciso, vamos cortar as despesas obrigatórias’, diz Mansueto ‘Se preciso, vamos cortar as despesas obrigatórias’, diz Mansueto ‘Se preciso, vamos cortar as despesas obrigatórias’, diz Mansueto
O secretário disse que é uma situação desconfortável Foto: Agência Brasil

São Paulo – Apesar da instabilidade política, o secretário de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda, Mansueto Almeida, garante que a equipe econômica continua trabalhando sem pressão para entregar a chave do cofre. “Não tem espaço fiscal para isso e o Tribunal de Contas da União fica em cima”. A preocupação maior é monitorar o comportamento da economia. “Está complicado traçar cenários. Os dados de recuperação são muito ambíguos”, diz.

Se faltar dinheiro, Mansueto afirma que o governo vai buscar alternativas para cortar despesa obrigatória. “Não está no nosso radar elevar a meta de déficit”, diz. A seguir trecho de sua entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo.

O Estado de S. Paulo: Uma eventual mudança na Presidência da República preocupa a equipe econômica?

Mansueto Almeida: É uma situação desconfortável, mas a gente não pensa nisso. Trabalha.

O Estado de S. Paulo: Na atual crise política, vocês sofrem pressão para liberar a chave do cofre?

Mansueto Almeida: Isso hoje é praticamente impossível. Não tem como dar cavalo de pau, pedalar, postergar pagamentos. Simplesmente não há espaço fiscal para isso. E nem que tivesse ou a gente quisesse, não conseguiria. O Tribunal de Conta da União fica em cima. Posso dizer que a postura mais dura do TCU é até confortável. Nos ajuda a dizer não e fazer as coisas como têm de ser feitas.

O Estado de S. Paulo: Alguns órgãos começam a se queixar de falta de dinheiro. O que está havendo?

Mansueto Almeida: É demonstração de que não tem almoço grátis. Chegamos a um ponto em que não há mais espaço para cortar despesa discricionária (aquela que o governo tem autonomia para reduzir e que equivale a menos de 10% da despesa total). Nos relatórios do Tesouro, o valor real dessa despesa este ano voltará ao patamar de 2010. É como se essa despesa tivesse crescido zero nesse período. Então, daqui para frente, teremos de cortar despesa obrigatória. E isso exige planejamento. A gente vai ter de ser muito mais austero para rever alguns programas que dão origem a despesas obrigatórias. O governo já vem fazendo isso. O corte no Ciência Sem Fronteiras foi isso. A revisão do auxílio-doença foi isso. Fizemos perícia em pessoas que ganhavam o programa há mais de dois anos. Vamos ter de intensificar esse tipo de análise.

O Estado de S. Paulo: E se a recuperação demorar e comprometer as projeções, vocês vão elevar a meta de déficit?

Mansueto Almeida: Se acontecer, a gente vai reconhecer. Não temos reconhecido? Por exemplo, parece que está ficando claro que a abertura da Caixa Seguridade não vai acontecer. Pedimos para a Caixa avaliar e dizer na próxima semana. Se for assim, a gente tira do orçamento.

O Estado de S. Paulo: Mas aí, como cobre?

Mansueto Almeida: A gente vai atrás de receita.

O Estado de S. Paulo: Mas, e se faltar? Vão elevar a previsão de déficit?

Mansueto Almeida: Vamos ver se tem espaço para elevar impostos. Alguns não precisam passar pelo Congresso. Ou vamos ver o que dá para cortar.

O Estado de S. Paulo: Não querem mexer na previsão de déficit?

Mansueto Almeida: Não queremos. Isso hoje não está no nosso radar.

O Estado de S. Paulo: Economistas dizem que a situação ficou mais apertada porque o governo se concentrou no ajuste de longo prazo, com a reforma da Previdência, e se descuidou do curto prazo. Qual a sua leitura?

Mansuteo Almeida: Nós sempre destacamos que a reforma da Previdência é importante para o resultado fiscal de médio e longo prazo. Nunca trabalhamos com o fato de ela trazer ganho no curto prazo, mas ela criaria um efeito positivo imediato na taxa de juros, ao sinalizar que mudaríamos para melhor a trajetória das contas públicas. O ajuste de curto prazo depende de corte de despesas e aumento de arrecadação. Começamos a cortar despesas no ano passado. Neste ano, até maio, a despesa teve uma queda real 1,1%, mesmo com inflação baixa. O governo está sendo austero. Mas, na receita líquida, houve uma queda de mais de 3%.

O Estado de S. Paulo: A receita foi muito diferente da projetada. O sr. diria que foram otimistas nas projeções?

Mansueto Almeida: Não foi só a nossa projeção. Foi a de todo mundo, do mercado inteiro. Está complicado traçar cenários ainda hoje. Os dados de recuperação são muito ambíguos. Os dados da semana passada foram até melhores que do que o mercado esperava. A última divulgação de projeção industrial veio um pouquinho acima da expectativa. Mas se a gente precisar reduzir as projeções, a gente vai reduzir. Mas, de fato, não esperávamos a queda de receita que ocorreu e isso tem colocado pressão sobre o fiscal. Por isso anunciamos o contingenciamento tão grande. E se precisar, cortamos mais.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo