Economia

'Sobra' do Bolsa Família pode ir para outros gastos

O ministro da Cidadania, João Roma, pediu ao ministro da Economia, Paulo Guedes, autorização para usar R$ 9,4 bilhões de "sobras" de recursos

‘Sobra’ do Bolsa Família pode ir para outros gastos ‘Sobra’ do Bolsa Família pode ir para outros gastos ‘Sobra’ do Bolsa Família pode ir para outros gastos ‘Sobra’ do Bolsa Família pode ir para outros gastos
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ Agencia Brasil

Na véspera da prorrogação do auxílio emergencial e antes mesmo do anúncio do novo programa do Bolsa Família, o ministro da Cidadania, João Roma, pediu ao ministro da Economia, Paulo Guedes, autorização para usar R$ 9,4 bilhões de “sobras” de recursos do programa deste ano para o financiamento de outros gastos na área social, como a construção de cisternas e distribuição de alimentos.

Roma propôs a Guedes a alteração na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para viabilizar o remanejamento. As “sobras” no Orçamento do Bolsa Família foram obtidas graças ao auxílio emergencial, benefício concedido aos mais vulneráveis por três meses durante a pandemia, que será prorrogado pelo mesmo período em anúncio oficial marcado para a próxima semana.

Durante o pagamento do auxílio, os beneficiários do Bolsa Família recebem o auxílio, o que acaba gerando uma “economia” no Orçamento previsto para o programa social do governo, que está em processo de reformulação. É essa economia que o ministro Roma quer usar para turbinar programas na área social.

A vantagem para o Ministério da Cidadania é que o gasto com o auxílio é contabilizado fora do teto de gastos, a regra que limita o crescimento das despesas à variação da inflação. Dessa forma, a prorrogação do auxílio por mais três meses acaba, na prática, abrindo mais espaço no orçamento para gastos sociais.

O pedido de Roma indica que o orçamento do novo Bolsa Família que surgirá após a prorrogação do auxílio está assegurado. O benefício médio do programa será acima de R$ 250, mas poderá ficar um pouco abaixo dos R$ 300 cobrados pelo presidente Jair Bolsonaro. O presidente ainda não bateu o martelo.

No ofício, o ministro diz que o objetivo do pedido é qualificar o gasto público de forma a dar acesso a bens e serviços indispensáveis para garantir condições dignas de vida para a população brasileira mais vulnerável, em especial no momento atual da pandemia, em que um fenômeno “imprevisível e impactante” influencia as dinâmicas sociais e econômicas do País.

Medida ‘pontual’

Roma fez questão de ressaltar que o remanejamento é uma inovação a ser aplicada “pontualmente e totalmente justificada pelo momento atual”. Ele quer alterar a LDO para permitir que o remanejamento ou a transferência de recursos de uma categoria de programação para outra possa ser feita apenas em 2021.

No Ministério da Economia, há resistências à abertura dessa brecha. Oficialmente, porém, a pasta informou que está “analisando o pedido”, mas não esclareceu se o entendimento do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre se o uso desses recursos permite ou não o remanejamento. A reportagem fez novos questionamentos e não obteve respostas.

Procurado, o Ministério da Cidadania informou que o governo federal está estruturando um novo programa para fortalecer a rede de proteção social e criar oportunidades de emancipação para a população em situação de vulnerabilidade. Esse trabalho leva em conta uma série de programas já existentes e não apenas o programa Bolsa Família, informou. Segundo o ministério, a proposta de readequação do orçamento tem como objetivo ampliar o alcance das políticas sociais e atingir, com maior eficácia e responsabilidade fiscal, a missão de superar a pobreza e reduzir os efeitos da pandemia.

Em 2020, o TCU examinou a abertura de espaço fiscal no teto de gastos (regra que limita o crescimento das despesas) com recursos da substituição temporária e parcial do programa Bolsa Família pelo auxílio emergencial. Para 2021, o TCU informou ao Estadão que há um processo em curso para analisar a questão. A relatoria é do ministro Aroldo Cedraz.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.