O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta quarta-feira (9) uma tarifa adicional de 50% sobre produtos brasileiros que entrarem no país norte-americano. A notícia do tarifaço foi recebida com preocupação pelo empresariado capixaba, que enxerga na tarifa um possível desequilíbrio nas relações econômicas entre os dois países.
O anúncio foi feito por meio de uma carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em que Trump justifica a tarifa como forma de retaliar medidas tomadas pelo Judiciário brasileiro, sobre o que classificou como “perseguição política” contra o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Tarifaço: “Medida extremamente severa”, diz Findes
Quem se demonstrou preocupado com a medida foi o presidente da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), Paulo Baraona.
Para o empresário, a medida anunciada pelo governo norte-americano é extremamente severa e “tomada com base em interesses político-partidários internos e que rompe com os princípios fundamentais que regem o comércio internacional”.
O presidente da Findes exemplifica que os setores mais expostos à nova taxação incluem aço, rochas ornamentais, papel e celulose, minério e café, todos com forte peso na estrutura econômica do Espírito Santo.
Ele justifica ainda que o Espírito Santo tem uma das economias mais abertas do Brasil, o que representa uma das forças do desenvolvimento socioeconômico capixaba, e por consequência, deixa o Estado mais vulnerável a decisões como esta.
“A relação comercial entre ES e EUA é historicamente sólida e relevante. Dados do Observatório Findes, centro de inteligência da Federação, mostram que em 2024 os Estados Unidos representaram 28,6% de todas as exportações capixabas, consolidando-se como o principal parceiro comercial do Estado. Somente no ano passado, exportamos US$ 3,06 bilhões e importamos US$ 2,05 bilhões – saldo positivo para o Espírito Santo que passa a ser ameaçado por uma política comercial arbitrária”, afirmou.
Ainda de acordo com Baraona, a medida anunciada por Trump é inaceitável e desconsidera impactos sobre economias inteiras.
A Findes considera inaceitável que decisões comerciais sejam tomadas com base em disputas políticas internas, desconsiderando os impactos concretos sobre economias inteiras. Reafirmamos a importância do diálogo diplomático e da construção de soluções que respeitem as regras do comércio global. É papel do governo brasileiro atuar de forma firme na defesa dos interesses nacionais, buscando reverter essa medida e preservar o ambiente de negócios internacional.
Impacto no setor de rochas ornamentais
A Associação Brasileira de Rochas Naturais (Centrorochas) relata que a medida afeta diretamente o setor, que tem os Estados Unidos como principal destino de exportação.
De acordo com a associação, em 2024, o mercado norte-americano respondeu por 56,3% das exportações brasileiras do setor, totalizando U$ 711,1 milhões. O Espírito Santo foi responsável por 82,3% desta movimentação, com US$ 672,4 milhões destinados aos Estados Unidos.
Ainda segundo a Centrorochas, a nova tarifa coloca o Brasil em posição delicada em frente a outros fornecedores.
“A nova alíquota coloca o Brasil em desvantagem competitiva frente a outros fornecedores internacionais, como Itália, Turquia, Índia e China, que enfrentarão tarifas inferiores. A medida ameaça o desempenho de mais de 200 empresas exportadoras brasileiras e compromete uma cadeia produtiva que gera cerca de 480 mil empregos diretos e indiretos no país”, informou a Centrorochas, por nota.
A associação informou que segue monitorando a situação e que dialoga com parceiros institucionais, além de autoridades brasileiras, para buscar situações que minimizem os impactos da medida, assim como preservar o espaço do Brasil no mercado norte-americano.
Reação do Planalto
Em resposta ao anúncio de Trump, o presidente Lula foi às redes sociais onde publicou um longo pronunciamento.
Na publicação, Lula afirma que “o Brasil é um país soberano com instituições independentes e que não aceitará ser tutelado por ninguém”.
Na mesma nota, o presidente informa que o processo contra Bolsonaro e outros réus por tentativa de golpe é de competência da Justiça brasileira e que não está sujeito a qualquer tipo de interferência.
“Qualquer medida de elevação de tarifas de forma unilateral será respondida à luz da Lei Brasileira de Reciprocidade Econômica”, disse.