
Já se foi o tempo em que o paisagismo era visto como um elemento secundário, um toque final para valorizar a estética de um imóvel. Hoje, ele é o grande protagonista e tornou-se parte fundamental da arquitetura, especialmente nos empreendimentos de alto padrão, onde cada metro quadrado é pensado para promover bem-estar, saúde e qualidade de vida para os moradores.
Essa mudança de mentalidade não é apenas uma questão de estilo, mas uma resposta direta aos novos comportamentos e desejos.
A casa passou a ser mais do que um local de passagem; virou abrigo, refúgio, espaço de contemplação e autocuidado. E o paisagismo cumpre um papel essencial nesse cenário, ao aproximar as pessoas da natureza e criar ambientes que acolhem.
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Mas não estamos falando apenas de vasos bem ou de gramados. O paisagismo contemporâneo vai muito além e começa a ser desenhado junto com o próprio projeto arquitetônico.
Ele ocupa entradas, corredores, coberturas, áreas comuns e privadas, moldando-se à estrutura do edifício e, muitas vezes, exigindo adaptações importantes: desde reforços estruturais, impermeabilização específica até um cronograma de obra que respeite os tempos da natureza.
Por trás dessa tendência está a biofilia, um conceito que se refere à nossa necessidade de nos conectar com outras formas de vida.
Popularizado pelo biólogo Edward O. Wilson na década de 1980, esse termo propõe que a ligação com a natureza está enraizada na evolução humana e tem impactos diretos sobre o bem-estar físico e emocional.
Não à toa, estudos mostram que ambientes que estimulam a biofilia ajudam a reduzir o estresse, melhoram a concentração, aumentam a sensação de conforto e estimulam a socialização.
Esse movimento não é apenas estético, mas também muito funcional. Cada árvore, planta ou arbusto escolhido para compor o paisagismo de um edifício passa por uma curadoria cuidadosa, que muitas vezes começa anos antes da entrega do imóvel.
O viveiro onde nascem jardins de luxo
A paisagista Ana Campos, por exemplo, cultiva diversas espécies em seu próprio viveiro, em Minas Gerais, acompanhando de perto o desenvolvimento das plantas que, um dia, irão compor projetos sofisticados e exuberantes.
Veja o vídeo:
Para ela, o paisagismo é arte viva. É uma forma que temos de impactar positivamente a vida das pessoas através da natureza e vai muito além de valorizar o imóvel.
“É uma forma de promover aconchego, bem-estar e valorização dos imóveis. Principalmente no pós-pandemia, as pessoas buscaram muito essa conexão com a natureza. Hoje, somos muito exigidos por todas as partes, queremos ser os melhores profissionais, entregar sempre o melhor, mas nem sempre nos priorizamos. Então acho que levar essa biofilia para dentro de casa, é o momento de desligar, momento de fuga e relaxamento”, afirma Ana.
Segundo a paisagista, essa integração entre arquitetura e paisagismo está cada vez mais comum. Mais do que compor ambientes bonitos, o paisagismo cria espaços sensoriais que despertam emoções e memórias.
“O imóvel deixa de ser imóvel a passa a ser lar quando você convida o verde a participar da casa. É o seu lugar de refúgio, de descanso e paz. Eu gosto de trabalhar com jardim biodiverso e sensorial, com plantas exóticas, vegetação nativa, de forma que você possa não só admirar, mas sentir, aguçar o tato, olfato, as texturas, pois conseguimos criar memória afetiva através disso também”, explicou a paisagista.
Não por acaso, muitos moradores passaram a investir também no paisagismo dentro de seus próprios apartamentos. Jardins verticais, paredes vivas, hortas urbanas… o verde ganhou protagonismo até mesmo nos interiores, tornando-se símbolo de bem-estar e qualidade de vida.
Exemplo de integração total: o paisagismo como alma do TAJ Home Resort
Um dos exemplos dessa filosofia é o TAJ, primeiro home resort do Espírito Santo em construção no Jockey de Itaparica, que elevou o paisagismo a um novo patamar.
O projeto foi idealizado com a proposta de criar um verdadeiro oásis urbano, onde o verde é muito mais do que um cenário: ele é o fio condutor de toda a arquitetura.
O engenheiro Igor Leitão, responsável por empreendimentos de luxo, destaca o desafio de integrar a paisagem natural ao máximo de áreas possíveis do condomínio. Segundo ele, o paisagismo ocupa todas as áreas, em todos os contextos do prédio. Ele não fica só limitado à área de lazer.
“Além disso, tem várias funções: primeiro, é ter o paisagismo que converse com o conceito do edifício, no caso das tamareiras. Segundo, é que está dentro de um ambiente de área de lazer, piscinas, então elas conversam com esse ambiente. E a escolha da espécie torna o projeto único, pois aquele tipo de espécie, de projeto, é feito só para aquele ambiente. Isso cria um destaque muito grande e quem vai morar ali, entende que esse projeto é único”, afirma ele.
O projeto de paisagismo do TAJ nasceu junto com o projeto do próprio empreendimento e exigiu uma série de adaptações estruturais para garantir que o verde estivesse presente em todos os contextos do edifício, desde a entrada até o 32º pavimento, onde árvores de médio e grande porte foram plantadas, demandando reforços estruturais e sistemas de irrigação específicos.
“Como é concebido junto com o edifício, o paisagismo precisa de uma série de adaptações para que a ideia funcione, então precisamos fazer adaptações nas estruturas de concreto e no sistema de irrigação, por exemplo. O paisagismo está no contexto do prédio como um todo, até mesmo no 32º pavimento, por exemplo, há árvores de médio e grande porte, então existe toda uma adaptação estrutural para ser feita”, explica Igor.
O cuidado vai além da escolha das plantas. Todo o ciclo é planejado para que, no momento da entrega do empreendimento, o paisagismo esteja em sua melhor fase: exuberante, saudável, integrado ao espaço.
“Há um cuidado na hora de fazer a especificação, a escolha daquela espécie e como ela é plantada. Há um pensamento, desde o início, e uma busca pelas espécies, desde a sua juventude, para no momento do seu plantio elas estarem preparadas para serem plantadas e ser um paisagismo já pronto”, destaca ele.
O resultado é um empreendimento onde o paisagismo cumpre múltiplas funções: estética, emocional, funcional e simbólica, com o verde conectando ambientes internos e externos e transformando áreas comuns em espaços de convivência e contemplação.