A decisão do governo dos Estados Unidos de impor uma tarifa de 50% sobre todas as importações brasileiras, a partir de 1º de agosto, expõe o impacto direto e desproporcional sobre estados exportadores como o Espírito Santo. Justificada por Donald Trump com base em críticas ao processo judicial contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e supostos ataques à democracia americana, a medida escapa da lógica econômica. Trata-se de um gesto político com consequências reais, e graves, para a economia capixaba.
Hoje, cerca de 34% das exportações do Espírito Santo têm como destino os Estados Unidos. Entre os principais produtos estão o aço, as rochas ornamentais, a celulose, o café e o minério de ferro. Todos esses setores terão sua competitividade comprometida com o aumento imediato do custo de entrada no mercado americano.
A tarifa mina acordos comerciais, desestrutura margens de operação e, pior, atinge milhares de empregos que dependem dessa relação. O Espírito Santo responde por mais de 80% das exportações brasileiras nessa área. Com uma cadeia que envolve desde pedreiras no interior até polos industriais e logísticos, esse segmento sustenta pequenas e médias empresas, além de postos de trabalho em regiões que vivem desse tipo de atividade.
Com a nova tarifa, o produto capixaba chegará aos EUA até 50% mais caro, uma diferença que pode tirá-lo das prateleiras e dos projetos de construção norte-americanos. A Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes) classificou a medida como “extremamente severa e arbitrária”. O Centrorochas, principal entidade do setor, já alertou para o risco de colapso em parte da cadeia produtiva, com empresas que podem deixar de exportar ou serem obrigadas a reduzir pessoal. A reação do setor privado tem sido forte.
Impactos da Tarifa na Economia Capixaba
Para o setor da construção civil, as consequências são duplas. Por um lado, empresas capixabas que exportam produtos usados em obras e acabamentos podem ver suas vendas despencarem. Por outro, a retração econômica gerada pela queda no PIB já estimada em até 0,4 ponto percentual, segundo o Goldman Sachs, pode atrasar ou suspender investimentos em obras no próprio território nacional. Mais uma vez, o Espírito Santo, por ser uma economia aberta, industrializada e voltada à exportação, é um dos primeiros a sentir os efeitos de crises externas.
Diante disso, três caminhos se impõem. Primeiro, é preciso atuar com urgência no campo diplomático, expondo o caráter político da medida. A tarifa não é apenas um erro de política comercial, mas um ataque indireto à soberania de um país que tem instituições funcionando e decisões judiciais legítimas.
Estratégias e Soluções
Segundo, o momento exige articulação regional. O setor produtivo capixaba precisa de apoio institucional, acesso a linhas de crédito emergenciais e suporte para manter operações em meio à incerteza. A queda de exportações de um estado afeta a balança comercial nacional e o impacto precisa ser tratado com a devida prioridade.
Por fim, é hora de acelerar a diversificação dos mercados de destino. O Espírito Santo tem qualidade industrial, capacidade logística e tradição exportadora. Mas precisa de mais acordos comerciais, mais canais para a Europa, Ásia e África, regiões que oferecem oportunidades e menos riscos geopolíticos. O comércio internacional não pode ser reduzido a instrumento de pressão política. Quando decisões de campanha eleitoral nos EUA afetam empregos em Cachoeiro de Itapemirim ou no Porto de Vitória, é sinal de que algo está errado. A economia capixaba é eficiente, competitiva e produtiva. Não deve pagar a conta de disputas ideológicas alheias.