Educação

Estudantes de escola pública do ES viralizam com vídeo contra o bullying

Conteúdo já atingiu 7 milhões de visualizações nas redes sociais. Vídeo recebeu muitos comentários negativos, ironizando a prática

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Alunos do terceiro ano do ensino médio da Escola Estadual Francisca Peixoto Miguel, em Serra Dourada II, na Serra, viralizaram nas redes sociais com um vídeo de combate ao bullying. Com a legenda “Contra o bullying”, o vídeo já atingiu 7 milhões de visualizações.

De acordo com a diretora da escola, Izabella Magnago de Oliveira, o intuito dos estudantes era fazer uma sátira do assunto, como eles já faziam anteriormente em outros vídeos, mas eles não esperavam toda essa proporção, especialmente negativa.

O que mais surpreendeu foi que os comentários na postagem foram em sua maioria ironizando o que os estudantes mostraram como bullying, incentivando o comportamento e debochando da geração dos adolescentes.

Um dos usuários comentou: “Essa geração não aguentaria 5 minutos nos anos 2000 pra trás kkkkk”.

Outro afirmou: “Cada um segurou a plaquinha com o próprio apelido foi isso? KKKKKKKKKK boa”.

Foto: Reprodução/Redes sociais

Alguns ainda disseram que o bullying deve continuar, pois é “necessário” ou é uma ferramenta para “tornar os fracos, fortes”.

E os alunos não esperavam que as pessoas fossem reagir dessa forma, perpetuando a violência. Segundo a diretora da instituição, esses comentários impactaram os estudantes e a escola precisou intervir para auxiliá-los a lidar com os sentimentos.

Eles ficaram muito impactados com os comentários que fortalecem o bullying, porque o vídeo não tinha esse propósito. Esse impacto fez com que eles pudessem refletir muito, sobre o bullying, sobre como as pessoas enxergam isso e, especialmente como funciona a exposição nas redes.”

Izabella Magnago de Oliveira, diretora da escola

Perigos do bullying

Essa visão de que o bullying fortalece os indivíduos é, segundo a psicóloga e professora Daniela dos Santos Godoy, naturalizar a violência. Ela destacou que essa visão vem da pedagogia da violência, que reconhecia agressões como forma de disciplina.

“No entanto, as consequências dessas práticas já foram inúmeras vezes estudadas e evidenciados os efeitos negativos para a construção emocional, perpetuando o ciclo de violência como um processo aceitável, visto que o agressor tem seu papel legitimado”, afirmou Godoy.

Além disso, a psicóloga destacou que quando pessoas sobrevivem ou não sentem que tiveram sequelas em relação ao bullying, cria-se uma falsa interpretação de que a violência não é danosa. Por isso, os usuários das redes sociais que comentaram no vídeo dos adolescentes acreditam que o bullying “fortalece” ou é “necessário”.

“É preciso continuar desconstruindo a ideia de que falar sobre limites saudáveis e saúde mental seja frescura ou fraqueza”, afirmou Godoy.

Adolescência e o combate ao bullying

Godoy destacou que a infância e adolescência são períodos críticos do desenvolvimento com grande vulnerabilidade a transtornos mentais.

“Especificamente a adolescência (público do vídeo em questão), é uma fase de construção identitária que recebe muita influência do meio social e existe uma grande necessidade de pertencimento. Ser vítima de bullying pode fragilizar essa construção, podendo ocasionar insegurança, baixa autoestima e outros agravos à saúde mental, como ansiedade e depressão”, informou a psicóloga.

Ela ainda destacou que crianças e adolescentes vítimas de bullying podem ter prejuízos no rendimento escolar e na forma como lidam com seus sentimentos. E que esses problemas de saúde mental, iniciados na adolescência, podem perdurar até a vida adulta.

Izabella também informou que a escola estadual já trabalha medidas socioeducativas em combate ao bullying, mas que viu na ocasião mais uma forma de retomar o assunto.

“Nós já trabalhamos o bullying em sala de aula, especialmente em uma disciplina que temos que se chama Projeto de Vida. Então, nessa aula e em outras, fazemos atividades que tratam da importância do assunto. Aproveitamos o impacto que os comentários negativos causaram neles para retomar o assunto e o colocamos em pauta”, destacou Izabella.

Os nove alunos, que têm entre 17 e 18 anos, são Herick Conceição dos Santos, Hugo Silva Campos Rodrigues, Kalynca Victoria Josino de Souza, Marcelly Moreira de Souza, Raquel Dias de Jesus, Victoria Nepomucena de Jesus, Maria Eduarda dos Santos Barcellos Rodrigues, Sara Morozesky de Souza e Sarah Nonato de Souza Marinho.

*Texto sob a supervisão da editora Erika Santos

Ana Piontkowski *

Estagiária

Graduanda em jornalismo pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e estagiária do Jornal Folha Vitória.

Graduanda em jornalismo pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e estagiária do Jornal Folha Vitória.