Creche em Jabour (Foto/reprodução: TV Vitória)
Creche em Jabour (Foto/reprodução: TV Vitória)

O choro, o toque, o olhar atento e as primeiras palavras. O que parece simples é, na verdade, um processo profundo: é nos três primeiros anos de vida que o cérebro humano se desenvolve com mais intensidade e tudo o que a criança vive nesse período define parte de quem ela será no futuro.

Pesquisas da Universidade de São Paulo (USP), do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) apontam que cada real investido na primeira infância retorna até sete vezes mais para a sociedade, em forma de aprendizado, produtividade e redução de desigualdades.

Mesmo assim, o Brasil ainda tem menos de 40% das crianças, de 0 a 3 anos em creches, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica (IBGE).

Estímulo cognitivo na primeira infância

Mônica Ramalho, neuropsicopedagoga  (Foto: Arquivo pessoal)
Neuropsicopedagoga Mônica Ramalho ressalta que aprendizado começa antes da alfabetização. (Foto: Arquivo pessoal)

Entre o nascimento e os 3 anos de idade, o cérebro infantil passa por um processo de desenvolvimento acelerado, em que as conexões neurais — chamadas sinapses — acontecem em velocidade máxima.

Cada som, toque, olhar ou conversa funciona como um estímulo capaz de influenciar o comportamento, a linguagem, a atenção e até o controle emocional.

A neuropsicopedagoga Mônica Ramalho explica que o aprendizado começa antes mesmo da alfabetização e até mesmo antes do nascimento.

Quando a mãe conversa com o bebê, ainda na barriga, o cérebro já está sendo estimulado. Depois, o tom de voz, o olhar e o toque se tornam ferramentas poderosas de desenvolvimento. “Esses primeiros estímulos constroem a base de tudo o que virá depois”, reforça.

No dia a dia da escola, esse cuidado se traduz em momentos de brincar, cantar, explorar e se movimentar. É através da brincadeira que a criança aprende a esperar a vez, a lidar com frustrações e a compreender os próprios sentimentos. Tudo isso faz parte da educação emocional.

O brincar é a linguagem da infância. É brincando que ela experimenta o mundo, desenvolve coordenação, imaginação, empatia e linguagem.

Mônica Ramalho, neuropsicopedagoga

A especialista destaca ainda o que chama de os “três R da infância”: rotina, repetição e regularidade. Segundo ela, esses elementos são essenciais para que a criança se sinta segura e consiga aprender.

Quando há previsibilidade, o cérebro entende o que vem a seguir e se prepara para aprender. A rotina não é rigidez, é segurança. A repetição consolida o aprendizado e a regularidade cria vínculos e confiança.

Mônica Ramalho, neuropsicopedagoga

Esses pilares são ainda mais importantes para crianças que apresentam transtornos do espectro autista (TEA). A rotina estruturada e os estímulos sensoriais adequados, explica Mônica, fazem toda a diferença.

“Crianças com autismo precisam de um ambiente que acolha suas necessidades sensoriais. Luz, som, textura, temperatura… tudo interfere. Quando a escola entende isso e adapta o espaço, o desenvolvimento acontece com muito mais leveza e resultados visíveis”, afirma.

Confira algumas dicas da neuropsicopedagoga de atividades que auxiliam no estímulo e outras que prejudicam:

Atividades que estimulam o desenvolvimento:

  • Conversar, cantar e ler diariamente, especialmente, com os bebês;
  • Estabelecer rotina com horários previsíveis;
  • Brincadeiras de encaixe, empilhar e explorar texturas;
  • Incentivar o contato com outras crianças;
  • Permitir movimento livre e brincadeiras ao ar livre.

Hábitos que podem prejudicar:

  • Exposição prolongada a telas;
  • Falta de rotina e de interação;
  • Ambientes barulhentos ou com excesso de estímulos visuais;
  • Reforçar comportamentos negativos com recompensas imediatas.

O papel da creche na infância

Juliana Rohsner, Secretária de Educação de Vitória (Foto/reprodução: TV Vitória)
Juliana Rohsner, secretária de Educação de Vitória, diz que primeiríssima infância é referência na capital. (Foto/ Reprodução: TV Vitória)

Em Vitória, políticas públicas têm reforçado a importância do aprendizado e do estímulo das crianças na primeira infância.

A secretária municipal de Educação, Juliana Rohsner, explica que a cidade é, hoje, a segunda capital brasileira com maior atendimento à primeiríssima infância, alcançando 96% da demanda, de crianças entre 0 e 3 anos.

Atendimento a primeira infância em Vitória (Foto: Folha Vitória)
Atendimento a primeira infância, em Vitória (Foto: Folha Vitória)

Esse é o principal marco de desenvolvimento do ser humano. É quando nossas conexões cerebrais estão mais preparadas para aprender.

Juliana Rohsner, secretária de Educação de Vitória

Na Capital, a rotina pedagógica na primeiríssima infância valoriza o acolhimento, a ludicidade e o aprendizado, por meio de experiências que estimulam a autonomia, a criatividade e o protagonismo das crianças.

Juliana destaca que a rede municipal tem priorizado investimentos em tempo integral, que passaram de quatro para 41 escolas e na criação de espaços lúdicos, acolhedores e humanizados.

“Cada ambiente foi pensado para estimular o aprendizado e o bem-estar. São escolas que acolhem, que ensinam e que garantem o desenvolvimento integral da criança”, declara.

Na sala de aula, cada atividade vai além do simples entretenimento. Os pequenos aprendem brincando.

Rayane Vaz, mãe (Foto/reprodução: TV Vitória)
Rayane Vaz tem dois filhos e vê a creche como parte da rede de apoio da família. (Foto: Reprodução/TV Vitória)

Entre as famílias que vivem esse impacto está Rayane Vaz Fracalossi Buss, mãe do pequeno Eduardo, de 2 anos. Dona de casa, ela decidiu colocar o filho na creche com apenas sete meses, não por necessidade, mas por planejamento.

Queríamos que ele se adaptasse com calma, que o processo fosse leve. Assim, se ele precisasse da gente, estaríamos por perto.

Rayane Vaz, mãe

A adaptação foi melhor do que o esperado. “Ele gostou de cara da escola e sempre foi muito bem acolhido. Quando veio para a nova unidade, a experiência ficou ainda melhor. A equipe é maravilhosa, carinhosa e atenciosa. Ele se sente parte do lugar”, conta Rayane.

Hoje, ela declara que percebe o quanto a rotina escolar transformou o desenvolvimento do filho.

Dudu evoluiu muito. Ele aprendeu a se comunicar melhor, a socializar e a brincar com os outros. A fonoaudióloga que o acompanha até comentou sobre o avanço que ele teve desde que começou na escola.

Rayane Vaz, mãe

O amor do pequeno pela escola é visível: “Nos dias em que não têm aula, ele pega a mochila, pede para abrir o portão e quer ir. É lindo ver o quanto ele gosta de estar lá”, conta a mãe, sorrindo.

Com um bebê de 4 meses em casa, Rayane também reconhece o papel da creche como parte da rede de apoio da família.

“Enquanto o Dudu está na escola, eu fico tranquila, sabendo que ele está bem cuidado, recebendo carinho, alimentação e atenção. Isso me permite me dedicar ao irmãozinho, que ainda demanda muito”, afirma.

Oferta de vagas na educação infantil

Os investimentos na primeira infância têm sido prioridade em diversos municípios da Grande Vitória. Em Vitória, são 51 unidades de educação infantil com 14.665 crianças matriculadas. Em Vila Velha, são 47 unidades com mais de 14 mil alunos. Em Cariacica, são 50 unidades e 12.763 pequenos matriculados. Já a Serra concentra o maior número: 79 unidades e 21.376 matrículas.

E para quem deseja colocar o filho numa creche pública, tem que ficar atento à chamada escolar. Na Serra, esse processo está em andamento. As rematrículas já começaram e o período para solicitação de vagas de novos alunos será de 17 de novembro a 15 de dezembro.

Nas demais prefeituras da Grande Vitória, as portarias com os processos de matrícula e rematrícula devem ser divulgadas em breve.

Leiri Santana, repórter do Folha Vitória
Leiri Santana

Repórter

Jornalista pela Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) e especializada em Povos Indígenas.

Jornalista pela Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) e especializada em Povos Indígenas.