
“O cérebro funciona de um jeito único, cada indivíduo tem um perfil diferente e não deve ser colocado na mesma caixinha”, foi com essa fala que o neurologista infantil Thiago Gusmão reforçou a importância de um ensino individualizado durante o Data Business Educação. O evento realizado pela Rede Vitória e pela Apex aconteceu na última quinta-feira (2), na Fucape Business School.
O painel “Caminhos para incentivar talentos singulares” abordou como o sistema educacional e a família podem reconhecer, acolher e desenvolver crianças e jovens com habilidades únicas. Além de Gusmão, a Coordenadora educacional da Escola Americana de Vitória, Camila Rocha, e a psicóloga e fundadora do Psimama, Fernanda Perim, participaram do bate-papo mediado pela gerente de Wealth da Apex, Ana Luisa Porto.
Segundo Thiago Gusmão, há nove tipos de inteligência, entretanto, o sistema educacional tradicional ainda valoriza apenas a linguística e a matemática. Para ele, ao deixar de desenvolver os outros tipos de inteligência — como interpessoal, musical e corporal — faz com que dificulte o desenvolvimento de novas habilidades.
O futuro da educação passa por reconhecer as habilidades socioemocionais, artísticas e cognitivas de cada criança. É preciso entender essa pluralidade de inteligências e identificar como potencializá-las.
Thiago Gusmão, neurologista
Para Camila Rocha, é papel da escola oferecer espaços que permitam esse desenvolvimento, oferecendo uma educação mais completa e individualizada. Para ela, as escolas precisam de estratégias de ensino adaptativas e equipes capacitadas para atender a diversidade de perfis.
“Escolas precisam de estratégias de ensino adaptativas e equipes capacitadas para atender à diversidade de perfis. Eventos escolares e atividades extracurriculares são oportunidades para desenvolver habilidades não cognitivas, como liderança e criatividade.” complementou.
O papel da família no desenvolvimento educacional
Além da escola, a família também desempenha um papel fundamental na valorização de talentos singulares. Para os especialistas, a educação inclusiva passa pela colaboração entre família, escola e profissionais especializados.
Entretanto, há um desafio que, em alguns casos, ainda precisa ser superado: a projeção e as expectativas depositadas na criança. De acordo com Fernanda Perim, “muitos adultos projetam suas frustrações e expectativas nos filhos, tornando-os pré-programados e sobrecarregados.”
Além disso, ela ainda destacou que essa pressão pode impedir que a criança desenvolva suas próprias aptidões. Para a especialista, o ideal é que os responsáveis incentivem as crianças de forma saudável e individualizada, permitindo o autoconhecimento e desenvolvimento natural.
“É preciso reconhecer o que cada criança quer e precisa, respeitando seu ritmo e habilidades naturais”, afirmou.
Os desafios no caminho da educação individualizada

Apesar de necessária, a implementação da educação individualizada ainda enfrenta desafios. Números apresentado durante o painel “Dados da Educação by Futura” apontam que apenas cinco estados bateram a meta do Índice do de Desenvolvimento de Educação Básica (IDEB).
Além disso, apensar de 5% da população mundial poder ser classificada como superdotada, apenas 0,5% dos estudantes brasileiros (26.815) possuem altas habilidades, segundo o Censo Escolar da Educação Básica de 2023.
Para Camila Rocha, os dados são reflexo de questões socioeconômicas. A especialista aponta que a educação personalizada exige recursos, capacitação contínua de professores e atenção às desigualdades sociais.
“Além disso, grande parte das famílias não tem condições de se dedicar à educação de forma plena devido à carga de trabalho e deslocamentos”, complementou.
Thiago Gusmão também alertou sobre o uso excessivo de telas pode representar um problema. De acordo com ele, isso aumenta a demanda de dopamina, eleva a ansiedade e prejudica o sono, atenção e memorização das crianças.
Crianças atuais processam informações muito rapidamente, mas podem perder habilidades fundamentais, como responsabilidade e foco.
Thiago Gusmão, neurologista infantil
Entretanto, apesar dos desafios, para os especialistas o futuro da educação está na personalização do ensino, reforçando que os métodos de ensino precisam evoluir para acompanhar as habilidades e ritmos individuais.
A educação como foco principal

O evento ainda contou com uma apresentação de dados sobre a educação estadual e brasileira e painéis sobre a tecnologia como ferramenta tecnológica, o esporte como caminho para o desenvolvimento e como construir o futuro da educação.
A programação trouxe reflexões sobre diversos aspecto educacionais debatidos por especialistas no assunto. O objetivo foi debater os principais vetores de transformação na formação de talentos no Espírito Santo e no Brasil.