Pertenço a uma antiga geração de “especialistas”: formação acadêmica sólida, longa e exaustiva. Tive a sorte de viver profissionalmente a docência universitária e a clínica psicoterápica. Ensinar “psicoterapia” sempre foi imenso desafio. Havia de um lado a teoria dos velhos mestres e do outro as pessoas vivas, com suas demandas reais e imediatas, urgentes e atualíssimas. Trabalho duro, recompensa alta!
Ensinar e aprender, em certos sentidos, são sinônimos, sabem disso os educadores. E por isso agradecemos com frequência o pertencer a essa área tão rica, pessoalmente tão recompensadora, por onde navegamos, com Morin, no “oceano de incertezas através de arquipélagos de certezas”.
E nos debatemos, com a mesma frequência, frente ao tamanho das dificuldades que isso tem, na prática. Quem educa não tem dois dias profissionais iguais ao longo de sua vida inteira.
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O mundo acontece sempre no presente e educar é trazer o que já foi “aprendido” para: – iluminar, – resolver problemas ou – projetar novos mundos, a partir do aqui-e-agora onde se educa. Educador é sempre essa ponte entre gerações, pessoas e conhecimentos diversos… em franca transformação.
Educação não acaba nunca… não está definitiva nunca… porque a própria Ciência é a coisa mais em constante transformação que existe! Dogma é coisa de outra categoria. Ciência é seguir avante, em busca da verdade sempre adiante, da revisão do próprio posicionamento anterior, é busca de aperfeiçoamento real.
Educador, que educa mesmo, portanto, não transfere dogmas; ao contrário, imerge seu aluno na aventura incessante de buscar conhecimento e criticidade suficiente para usa-lo, supera-lo e reformula-lo, baseado na ética e nos valores humanos.
Um instrutor transfere instrução. Um educador media a instrução com a criticidade necessária para tentar colaborar na construção de sujeitos do aprendizado (que não são máquinas-orgânicas de consumo desarrazoado). Educar é sempre essa tensão desafiadora de mediar, sem obliterar.
A analogia aqui com os processos psicoterapêuticos é evidente. Um psicoterapeuta não tem “a”receita, mas vai aprender, junto com quem o procura, o que fazer frente à realidade dos fatos considerando a personalidade real, sempre subjetiva! E aí, entre o ideal e o real, trafega a aprendizagem terapêutica da coerência possível entre o /querer/ e o /conseguir/; entre o /saber/ e o /fazer como se sabe/, enfim entre /potência/ e /desenvolvimento real e sustentável/.
Dito isso, confesso: é um desafio escrever uma coluna em jornal digital. Cada uma delas foi fruto vitorioso de uma pequena batalha mental:
- já não está “tudo” escrito por aí?
- a inteligência artificial não escreveria “melhor” que eu?
- a majoritária polarização de opiniões deixa “lugar” ou “necessidade” para meu jeito conciliativo, “junguiano”, que vê nos símbolos a colaboração de opostos complementares?
- o editor manterá o mandamento de “não mudarás meus títulos” não importa o que o Google lhe mande? deixará intacto meu jeito de escrever com…, aspas, negrito, etc…?
O fato é que o Folha Vitória, na Coluna Educação, jamais me forçou uma pauta ou corrigiu meu “estilo”! Esta Coluna me ensinou e me desafia a reescrever. Para alguém das letras e das pessoas, como sou, reescrever é tudo! E sou grata pela oportunidade de contribuir, ainda que muito modestamente, na era digital, com o olhar da psicoterapeuta focada na solução dos problemas e, portanto, tentando aprender.
E foi escrevendo aqui e ali, sobre o que penso ou sobre o que me espanta, que – quando dei por mim… – a Coluna tinha 1 ano de existência! Um ano de convivência, pela leitura, com colunistas incríveis que haviam produzido – a partir do mesmo chão onde piso: o Espírito Santo – material reflexivo de primeiríssima qualidade! Me senti honrada… devendo um “texto”… saiu esse aqui: um manifesto de gratidão pela oportunidade de ser obrigada a reescrever… de próprio punho, até assinar… mesmo na “era digital”!
Como o mundo acontece sempre no presente (sei que já disse acima, repeti, e o editor deixou repetido, gratidão!, é o estilo) enfim… como o mundo acontece sempre no presente, viver requer assumir novos desafios. Um “velho especialista” requer encontrar sua coragem para viver seu próprio tempo!
Um educador tem de ter coragem para redigir como quem dialoga com um leitor não-se-sabe-onde, mas que se sabe aberto a ouvir nossa “opinião”. Que honra! Ser lido em tempos digitais, poder opinar, nem sempre acertar, mas continuar tentando, continuar aprendendo com os pares e com os díspares!
Ouvir opiniões, inclusive muito diferentes da nossa, faz muito bem à inteligência humana! “Seguir” opiniões não tanto! “Obedecer a opinião majoritária” então… é uma temeridade!
Ouvir opiniões serve para construir criticamente a ampliação de nossos pontos de vista e fundamentar nossos próprios argumentos. Mas isso requer algum tempo: ler… depois deixar repousar o lido no silêncio de nosso respeito ao que um OUTRO ser humano nos ofereceu como a opinião dele. Se já leio gritando simultaneamente dentro de mim alguma reprovação por pensamento, perco tempo. Tempo é o ativo mais precioso para os seres humanos. Não devíamos perder tempo com nada. Nada mesmo.
Quer ganhar tempo? Eduque-se. Educar-se não é “seguir”. Educar-se é reformular-se. Requer inclusive, além da razão crítica, saber brincar, rir, descansar, apreciar a Vida e a natureza… dando , assim, um contra-balanço a toda e qualquer decisão ou posição nossa – por mais tecnológica ou econômica que seja. Nosso critério sobre em que perder ou ganhar tempo, deveria confrontar “o” nosso tempo de vida e a isso honrar com sabedoria e inteligência.
Educar-se não é apenas seguir a favor ou contra uma certa pessoa ou ponto de vista. Ouvir, refletir e daí posicionar-se é autoeducação. Reposicionar-se, inclusive, ou seja, mudar de uma opinião antiga para outra mais recente e balizada, é além de tudo chique!! É chiquíssimo mudar de opinião porque crescemos na compreensão do que julgávamos anteriormente!
Reposicionar-se requer segurança, a “autoconsideração positiva” e investimento nas habilidades dialogais. Só quem não dialoga não evolui uma opinião! Ter uma opinião, nova ou antiga, pode, de qualquer forma, ser expressa com polidez. A polidez é a virtude dos verdadeiramente educados, dos que sabem que se Conhecimento é provisório… que dirá opiniões!!
Sobre IA e o mundo digital, pode exemplo, não nos cabe opiniões apressadas. Muito menos a ignorância indiferente. IA tem a ver com o proveito (ou gasto) de nossa Vida tão tão tão humana. Requer um tanto de posicionamento. Requer conhecimento e criticidade que se constrói ouvindo opiniões. No plural mesmo.
As transformações impostas pela presença da Inteligência Artificial estão aceleradas. Todos os desafios educacionais estão acelerados, me parece. Assuntos não faltam!
Ter acesso na Coluna Educação às novas reflexões de tantos diferentes especialistas e educadores, de tantas distintas áreas do Conhecimento Humano, neste novo tempo presente, acelerado… é ganhar tempo! É ganhar muito tempo! É investir em educar-se, simplesmente enriquecedor!
Uma recente pesquisa, publicada em janeiro de 2025, de Michael Gerlich do Centro de Previsão Corporativa Estratégica e Sustentabilidade (da renomada Swiss Business School) trouxe um robusto resultado que corrobora a importância da construção de uma postura e engajamento conscientemente crítico, frente ao uso, incremento e abrangência das IA Generativas.
Comprovou-se que o uso frequente (de prognóstico crescente) leva a erosão da capacidade cognitiva, criativa e mnemônica tanto de estudantes quanto de professores! A super “oferta cognitiva automatizada” provou ser prejudicial à capacidade de raciocinar e transpor dados informacionais para desafios da vida prática ou em situações posteriores.
As recomendações deste estudo não diferem das feitas pelos pesquisadores Cleosanice Lima e Agostinho Serrano em 2024: “o uso de chatbots, como o ChatGPT, na Educação requer estratégias pedagógicas que estimulem o pensamento crítico, a criatividade e a citação correta de fontes pelos alunos, de forma a mitigar os riscos éticos e maximizar os benefícios dessas ferramentas.”
Várias outras fontes de dados avaliativos apontam para uma lição essencial: embora a IA seja útil para agilizar tarefas como escrita, resumo ou pesquisa, entre tantas outras, essa tecnologia não substitui o processo de pensar por nós mesmos.
Pensar requer, num primeiro momento, a ampliação de nosso ponto de vista, ouvir diferenças e julgar sua fundamentação (inclusive com mais pesquisa, se preciso for!). No momento seguinte, pensar evoca refletir, associar, ponderar, debater. Os testes de realidade e validação do que pensamos virão num processo contínuo: aplicação do que pensamos em nossas próprias decisões, acompanhamento e revisão de nossas decisões.
Claro que a IA pode nos ajudar a pensar. Mas não pode pensar por nós. Penso eu.
Um veículo de Comunicação Digital que institui uma Coluna sobre Educação, a partir de textos autorais, oferece a seus leitores e colunistas, portanto, algo de extremo valor frente ao protagonismo de busca de informação e opinião, em tempos de IA ascendente.
A Coluna nos desafia a participarmos dos dados disponíveis à inteligência humana. Autor e leitor formam há muito, e também agora, essa base de troca que semeia e fecunda a inteligência. Entendo a IA como mais uma ferramenta riquíssima de acréscimo de informações a serem partilhadas. Jamais seguidas como autoridade sobre o que devemos pensar.
Um grupo diverso de Colunistas em Educação, uma equipe qualificada de debatedores, enfrenta muito melhor os vieses ocultos nas IAs, tais como discriminações de gênero, perfil de consumo do leitor, estilo cognitivo, padrões anteriores de aprovação, “espectro de leitura” demonstrado, entre outros males do Oceano…
Que nosso público leitor, vocês mesmos que chegaram até aqui através dos longos parágrafos anteriores, possam usufruir da riqueza destes dados, perspectivas, opiniões, olhares e textos tão distintos e distintos!
Vem aí (esperamos e colaboremos para!) muitas modificações na Coluna Educação a fim de que ela possa entregar e dialogar ainda mais com seu universo de seus leitores. As novidades e mudanças irão de “Autor Convidado” a… eventos coletivos. Serão o resultados do que o grupo de Colunistas conseguirem fazer juntos e, quem sabe, resultado também da sua opinião, querido leitor, sobre como e o que acrescentar de Beleza, relevância e efetividade nesta intenção pioneira da Coluna Educação de “reunir” para oferecer o que pudermos de melhor.
A prática da convivência com a “diferente-de-mim” na vida contemporânea não é mais apenas um privilégio. Tornou-se uma necessidade imperativa no mundo que se desenhou nos tempos pós-pandemia. Os processos inalteráveis não permaneceram.
Superar minhas dificuldades em colaborar com essa Coluna, junto com tantos outros, e participar de ampliação deste projeto de Comunicação Digital sobre Desafios e Possibilidades da Educação num segundo ano consecutivo será minha contribuição. O farei porque na importância deste lugar no contexto da era digital e da IA generativas.
A diversidade de perfis e expertises aqui reunidos me estimula. A qualidade deste “time” amplia os pontos de vista de cada um e fortalece a análise coletiva oferecida ao público do Folha Vitória. É uma honra contribuir de alguma forma!
A coerência de nossos princípios éticos no primeiro ano de Coluna me levou a observar: – o rigor do compromisso do apontamento das fontes usadas nos textos, – a escrita cuidadosamente revisada por cada autor que a assinava, livre para transparecer seu posicionamento firme, mas sempre de forma educada e respeitosa, como cabe a educadores, e, ainda – a tentativa de colaborar com proposições reais e pontos de vista bem definidos.
A partir do dia 4 de julho de 2025, nosso aniversário, a Coluna estará trabalhando para integrar ainda mais os Colunistas com o objetivo de ampliar a experiência do pensar coletivo sobre novas estratégias de fortalecimento e ampliação do significado deste espaço de reflexão educacional.
Fica o convite a nossos leitores que se manifestem ativamente! Mandem-nos seus comentários e sugestões e aguardem muitas boas novidades na Coluna Educação no Ano 2! Parabéns Colunistas!! Parabéns Folha Vitória pelo reforço a credibilidade de que “pensando junto, pensamos melhor”.
Este meu texto é bem de esperança mesmo… essa coisinha frequentemente no coração de educadores. Esperança que no Ano 2 e em também nossas vidas, consigamos mover esforços em sinergia (equipe técnica, colunistas e leitores) transformando as letrinhas digitais na tela… num Laboratório de Pensamento Crítico e Criativo — mais eficaz do que qualquer IA isolada.
Por que mais eficaz? Porque poderá orquestrar este dispositivo e ferramenta a um mundo que faça sentido: um mundo melhor para nós, as pessoas humanas, afetivas e efêmeras. Quem sabe participar de uma Coluna de opinião, possa se tornar assim uma Oficina Aberta de Entendimento Ampliado, onde a tecnologia ilumina, mas o humano constrói. Sonhos de uma educadora… hahahaha…
“Quem lê […] tem muitos milhares de olhos: todos os olhos daqueles que escreveram.”
Rubem Alves
“Você tem poder sobre sua mente – não sobre os acontecimentos. Perceba isso e encontrará a força.”
Marco Aurélio