Espaço Educação Lara Brotas 2
Foto: Yago Muller

Vivemos um tempo em que tudo nos empurra para fora — para o visível, para o imediato, para o que se mostra e se mede. A pressa e a produtividade parecem ter se tornado virtudes absolutas.

No entanto, talvez seja justamente no intervalo do não fazer que habite o que há de mais essencial em nós.

A contemplação é uma forma de presença, uma disposição para perceber o mundo sem a urgência da resposta. É um gesto de acolhimento — do outro, do entorno e de si mesmo.

O rabino Nilton Bonder, ao refletir sobre o valor do devaneio e da contemplação, afirma: “O valor é a presença, é a sensação de uma privacidade, uma intimidade, que me dá a consciência de que sou habitado por um sujeito.”

Sua fala toca em algo fundamental: a contemplação nos devolve a consciência de existência interior, de que há em nós um sujeito que pensa, sente e imagina — e que só se manifesta quando o ruído cessa.

É um ato de reconexão com o eu, uma retomada da interioridade num tempo em que a atenção é constantemente sequestrada.

Na educação, esse valor se torna cada vez mais urgente. Formar não é apenas preparar para o desempenho, mas para a experiência — para o encontro com o sensível e com o próprio pensamento.

Em tempos de atenção dirigida por algoritmos, ensinar a contemplar é também um ato de resistência.

Educar é, sobretudo, acompanhar o outro na descoberta de sua própria verdade. É favorecer o espaço onde cada um possa compreender e construir o sentido de sua existência.

Essa construção não se dá por imposição, mas por escuta e presença — um processo que exige tempo, silêncio e abertura. A verdade, quando nasce de dentro, torna-se raiz: sustenta, orienta e dá forma ao que somos.

A criatividade nasce justamente desse espaço de pausa. Não há invenção sem o tempo do olhar, sem o amadurecimento que vem do silêncio e da escuta. Criar é dar forma ao invisível — e isso só acontece quando nos permitimos habitar o instante.

A arte nos ensina isso com delicadeza: diante de uma obra, não há atalhos. É preciso tempo, disponibilidade, entrega. A contemplação, nesse sentido, é uma forma de cuidado — com o olhar, com o outro e consigo mesmo.

Em um mundo que nos dispersa, contemplar é reunir-se. É reencontrar o próprio ritmo, reconhecer-se como sujeito e abrir espaço para o inesperado — o mesmo espaço onde florescem a arte, a imaginação e o pensamento crítico.

Lara Brotas

Mestre em Arquitetura e Urbanismo

Arquiteta e Urbanista Mestre pela UFRJ com estudo sobre Museu Picasso, Fundação Antoni Tapies e Fundação Joan Miró. Cofundadora da Matias Brotas, atua na área de arte contemporânea, curadoria, gestão cultural e de projetos. Membro do NACE (núcleo de arte, cultura e educação), com especialização em História e Teoria da arte tendo implementado projetos acadêmicos e institucionais. Pós graduada em Gestão Cultural pela USP SP e é colunista da coluna Espaço Educação do folha Vitória.

Arquiteta e Urbanista Mestre pela UFRJ com estudo sobre Museu Picasso, Fundação Antoni Tapies e Fundação Joan Miró. Cofundadora da Matias Brotas, atua na área de arte contemporânea, curadoria, gestão cultural e de projetos. Membro do NACE (núcleo de arte, cultura e educação), com especialização em História e Teoria da arte tendo implementado projetos acadêmicos e institucionais. Pós graduada em Gestão Cultural pela USP SP e é colunista da coluna Espaço Educação do folha Vitória.