O que vou ser quando “crescer”? Qual curso devo escolher na faculdade? Como devo me preparar para ter sucesso? Essas perguntas me acompanharam durante a adolescência e início da vida adulta. Na verdade, se considerarmos a passagem do tempo, elas ainda frequentam meus pensamentos.
Há inúmeras diferenças entre o ontem da minha adolescência (ou a dos meus pais) e o hoje vivido pelos jovens. Uma delas é fundamental para compreender a contemporaneidade e refletir sobre escolhas de carreira: vivemos em um mundo VUCA.
Mas o que é um mundo VUCA?
A sigla — um acrônimo em inglês — descreve um mundo caracterizado por:
- Volatility (volatilidade)
- Uncertainty (incerteza)
- Complexity (complexidade)
- Ambiguity (ambiguidade)
O termo foi inicialmente cunhado pelo Exército dos Estados Unidos para descrever o contexto pós-Guerra Fria, mas passou a ser amplamente usado no mundo dos negócios para retratar o cenário atual de mudanças aceleradas e incertezas crescentes.
Neste espaço de reflexão, direciono o tema para a educação — mais especificamente para os jovens em processo de planejamento de carreira. Voltemos, então, às três perguntas que abrem o texto.
- O que vou ser quando crescer?
Primeiramente: todos nós já somos. Um jovem, antes de pensar em quem será, deve investir em descobrir quem ele é. Usando o “C” de VUCA, é preciso que o jovem se compreenda como um ser complexo.
Segundo o pensador Edgar Morin, o complexo refere-se à natureza multifacetada e interconectada da realidade e do conhecimento. Somos seres complexos que habitam um mundo igualmente complexo.
Nesse cenário, conhecer suas aptidões, necessidades e sonhos ajuda a trilhar o caminho que chamamos de carreira — hoje compreendida como a jornada pessoal e profissional de um indivíduo.
Reduzir essa jornada a uma profissão ou a um curso universitário é ignorar a complexidade do ser humano e do mundo contemporâneo - Qual curso devo escolher na faculdade?
Para responder a essa pergunta, vamos considerar outras duas letras da sigla VUCA: o “V” e o “U”. A volatilidade dos tempos atuais impõe um desafio inédito à geração prestes a ingressar na universidade.
Profissões que antes ofereciam quase garantias de estabilidade e sucesso financeiro já não são mais tão seguras. Algumas simplesmente deixaram de existir. Outras ainda nem foram criadas. Afinal, jamais poderia imaginar, aos dezoito anos, o que seria um “engenheiro de prompt”.
Essa realidade nos convida também a refletir sobre a incerteza que se tornou uma constante, impulsionada pelas rápidas transformações do mundo.
Como educador, costumo orientar meus alunos da seguinte forma: escolha aquilo que permita que você seja sua melhor versão, conectando-se com seu propósito de vida, seus valores (o que realmente importa para você) e suas habilidades (o que você faz bem, com prazer, e que se alinha a possíveis profissões).
Esses três pilares — propósito, valores e habilidades — são bússolas para navegar na volatilidade e transformar a incerteza em oportunidade. - Como devo me preparar para ter sucesso?
Antes de responder, precisamos abordar o “A” de VUCA: a ambiguidade. Por muito tempo, profissionais bem-sucedidos iniciavam sua carreira em uma área e nela permaneciam por toda a vida.
Muitos de nós conhecem o professor que sempre deu aula da mesma disciplina para a mesma série ou o médico que seguiu uma especialização e nela construiu toda sua trajetória profissional.
Hoje, a realidade é outra. As áreas do conhecimento se entrelaçam. Conheço advogados que se encantaram pela filosofia, executivos que buscaram a psicologia, professores que ampliaram sua formação para a gestão empresarial.
Vivemos em um mundo que demanda a genialidade do “E”, como destaca Jim Collins em Empresas Feitas para Durar: Você pode ser engenheiro e apaixonado por literatura. Pode ter estudado finanças e atuar como diretor de RH em uma multinacional.
A ambiguidade do mundo VUCA nos liberta das “caixinhas”. Por isso, jovem de 2025, não se assuste se estiver em dúvida entre várias opções de curso. É bem provável que você se encontre em mais de uma possibilidade — e tudo bem com isso.
Preparando-se para o sucesso
Essa talvez seja a pergunta mais complexa de todas — não no sentido de difícil, mas de profunda. Compartilho aqui algumas ideias que costumo dividir com meus alunos e suas famílias: Conhece-te a ti mesmo. Esse aforismo grego, atribuído a Sócrates, é o ponto de partida. Seus sonhos, valores, prioridades e habilidades são seu guia.
Tenha autonomia. Sua escolha precisa ser sustentável do ponto de vista pessoal e profissional — e não determinada por pressões externas. Converse com adultos que exercem profissões em diferentes áreas. Pergunte, ouça, questione.
Leia biografias ou veja filmes sobre pessoas inspiradoras. Um dia você poderá ser uma delas. Experimente.
Faça estágios, participe de imersões, viva ambientes de trabalho — mesmo antes da faculdade. Provamos roupas antes de comprar. Por que não “provar” profissões?
Participe de feiras universitárias. Conheça diferentes propostas e cursos. Não se limite a uma única “praia”. Se possível, faça cursos de férias em universidades. Isso pode oferecer um bom “feeling” do ambiente acadêmico.
Mantenha-se um aprendiz por toda a vida. Em um mundo VUCA e altamente tecnológico, são as competências humanas que manterão você relevante.
As reflexões aqui propostas não se esgotam neste texto. As escolhas de carreira feitas por jovens em um mundo VUCA exigem novas ferramentas, diferentes daquelas utilizadas pelas gerações anteriores.
Saber usá-las com consciência e intenção é o que potencializa os jovens de hoje a se tornarem seres humanos realizados — em todas as áreas da vida.