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'Não me identifico mais com a ideia do concerto'

Maria João Pires resolveu se afastar dos palcos, como diz, "sem grandes alardes". "Fui apenas avisando algumas pessoas após apresentações. Não fiz nenhuma despedida, nada organizado, não teria por que", ela explica.

A pianista começou na música cedo. Aos 7 anos, em Lisboa, já apresentava concertos de Mozart - e o compositor jamais a deixaria. Seus registros dos concertos, assim como das sonatas para piano solo, assim como de sua música de câmara, são tidos por muitos críticos como referência.

Em 1970, no entanto, foi com Beethoven, mais precisamente no concurso em homenagem aos 200 anos do autor, que despontou de vez para a fama. Gravou, desde então, dezenas de discos. Entre os mais recentes, estão o Concerto de Schumann com o maestro John Eliot Gardiner e a Sinfônica de Londres e os concertos nº 3 e nº 4 de Beethoven com Daniel Harding e a Orquestra Sinfônica da Rádio da Suécia. E um CD gravado ao vivo com o violoncelista brasileiro Antonio Meneses na Inglaterra, com obras de Schubert e Brahms.

São leituras capazes, sempre, de revelar facetas novas para obras gravadas à exaustão. E a imaginação da intérprete parece não ter limites, o que sempre agradou maestros como o italiano Claudio Abbado, ex-diretor da Orquestra Filarmônica de Berlim, que a tinha entre suas colaboradoras preferidas. Mas nos últimos anos, a atividade pedagógica, em países como a Bélgica, onde realizou uma residência na Capela Real Rainha Elisabeth, começou a se sobrepor à de recitalista e concertista, com cada vez menos concertos programados anualmente.

"A decisão de parar vem do fato de que sempre chego à conclusão de que não consigo mais me identificar com a ideia do concerto. Eu quero, ao tocar, sentir que estou criando algo junto com a plateia. Passei décadas em aviões e em concertos, tempo suficiente para me dar conta de que nem sempre esse compartilhamento e possível", diz.

Para ela, o público deve ser como "um amigo", dividindo um momento mágico, "que pode dar a todos uma vida melhor". "Mas o modelo do concerto, com teatros enormes, frios, para os quais o público vai apenas para assistir um 'grande nome’ não me atrai. A pessoas estão enganadas, pagam para ver um artista. Não deveria ser assim que funciona. Eu não toco para as pessoas, eu toco com as pessoas. Tocar e ouvir são atividades criativas, é a mesma coisa. Arte é algo que se partilha".

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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