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Gaslighting: manipulação psicológica rende polêmica no BBB23

O termo se refere a um tipo de abuso em que a percepção de realidade de uma pessoa é alterada de modo intencional, sem que ela perceba

Redação Folha Vitória

Redação Folha Vitória
Foto: Divulgação

Considerada a palavra mais usada em 2022 nos Estados Unidos pelo dicionário Merriam-Webster, o termo "gaslighting" voltou a chamar atenção após uma situação vivida na casa mais vigiada do Brasil. 

A direção do BBB23 advertiu ao vivo, o casal Gabriel Tavares e Bruna Griphao. O alerta foi dado pelo apresentador Tadeu Schmidt pela identificação de ameaças veladas, atitudes e falas abusivas do rapaz. 

O comportamento do brother incomodou o público e foi identificado como gaslighting. Mas afinal, o que significa esse termo? 

Foto: Reprodução/Wikimedia Commons
Imagem da adaptação para cinema de 1944 com a atriz Ingrid Bergman

A origem da palavra vem de 1938, quando o dramaturgo britânico Patrick Hamilton escreveu a peça GasLight (luz a gás, em português) que conta a história do relacionamento de um casal da era vitoriana construído por manipulações e mentiras. 

O nome da peça, que teve duas adaptações para o cinema nos anos 40, se dá por uma cena em específico, na qual a mulher percebe que a conta de luz a gás está ficando mais cara, porém o protagonista tenta a convencer de que está louca.

O termo se refere a manipulação psicológica na qual a percepção de realidade de uma pessoa é alterada de modo intencional, sem que ela perceba que está sendo manipulada, a famosa "lavagem cerebral". 

Na era da internet, recheada de teorias da conspiração, fake news e memes, gaslighting passou a ser uma palavra usada com frequência pelos internautas para identificar qualquer tipo de engano proposital, seja assunto sério ou não.

Porém, ´é preciso chamar a atenção para a gravidade do termo, que também pode encarado como abuso psicológico na medida em que causa dano a saúde mental e física das vítimas em relacionamentos tóxicos, sejam eles amizades, família, relações de trabalho ou amorosas.

Foto: Folha Vitória
Bruna Griphao e Rafael Tavares foram advertidos

Quando praticado, o gaslighting diminui a autoestima das vítimas, desconsiderando suas opiniões e confiança, até que duvidem da própria sanidade. Por isso, a ação é considerada uma agressão psicológica perversa e silenciosa, na qual a vítima nem mesmo percebe o que está acontecendo. 

Por meio da manipulação, agressores mantém as vítimas sob controle, criando uma dependência cada vez maior. Insultos, agressões verbais, depreciações são disfarçados de demonstrações de afeto esporádicas, confundindo ainda mais a mente de forma proposital.

Crime se enquadra na Lei Maria da Penha

O gaslighting se enquadra como crime pela Lei Maria da Penha, pois além da violência psicológica, as consequências mentais e até mesmo físicas podem ser irreversíveis quando não identificadas a tempo. 

De acordo com a psicóloga professora universitária graduada e mestre em Psicologia pela Ufes, Raissa Rodrigues Módulo (CRP 16/3440), o fenômeno não se limita a relações heterossexuais com o homem no papel de agressor e a mulher no papel de vítima ou ao ambiente físico e relacional conjugal (apesar dessas serem as condições mais comuns de ocorrência).

O gaslighting pode efetuar-se em diversos ambientes (acadêmico, familiar, religioso, profissional etc.) com diferentes tipos de vínculos entre os envolvidos (mães/pais e filhas/filhos, médicos e pacientes, amigos etc.).

Ainda segundo a Psicologia, o gaslighting em si não é classificado como uma doença pelos manuais mais utilizados na área da saúde, mas pode ser considerado um sintoma de relações doentes em uma sociedade também adoecida.

Perguntas servem de alerta

Algumas perguntas podem auxiliar a se atentar para a situação. Você percebe que seu parceiro mente deliberadamente para você e quando você o confronta ele nunca admite que está errado? 

De alguma forma, todas as discussões terminam com você se desculpando, apesar de você ter certeza quando começou de que estava com a razão?

Você consegue perceber que muitas das discussões ele ganha na chantagem emocional (se você me ama você vai me entender...) ou na ameaça a si mesmo ou a você (se você terminar comigo eu vou me matar ou você não pode terminar comigo porque nunca vai encontrar ninguém que te ame como eu)?

O discurso e a prática dele são incoerentes, mas quando você o questiona ele te trata com condescendência (como se você não fosse inteligente o suficiente para entendê-lo)?

Você se sente mentalmente exausta depois de interagir com ele? Você percebe que se afastou de pessoas que são muito importantes para você por influência dele?

E por último, você consegue se imaginar bem numa vida em que ele não faça parte? "A avaliação constante das relações nos auxilia a dar notoriedade a um fenômeno “invisível” e a validar as emoções e julgamentos novamente", explica a psicóloga.

*Texto da estagiária Sofia Galois, com a supervisão da editora Erika Santos

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