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Cia. Cisne Negro: tudo começou com os estudantes de pernas peludas

Redação Folha Vitória

- Há 40 anos, a escola de Hulda Bittencourt ficava na Rua dos Macunis, 520. Do outro lado do Rio Pinheiros, a Universidade de São Paulo (USP). Dali, da Escola de Educação Física, um grupo de rapazes saiu em busca de aulas de balé. "Chegaram de shorts, pernas peludas e tênis. Disseram que queriam dançar. Falei que não sabia trabalhar com homem, que estavam na porta errada. Perguntei: 'Que dança vocês querem? Eu só ensino dança clássica'. E eles: 'Mas é essa mesma que a gente quer aprender'", conta Hulda.

"Souberam que a dança trazia outro tipo de trabalho físico. Primeiro, achei que queriam namorar as bailarinas. Depois, vi que eram sérios e profissionais. Coloquei todos na barra, ensinei a base. Chamei coreógrafos importantes: Victor Navarro, Neide Rossi, Umberto Silva, Penha de Souza, Luis Arrieta e outros. Eles também se apaixonaram porque viram que os meninos davam conta. Aí surgiu aquela dança bem forte, com uma energia que contaminou as meninas e o público."

Assim, nasceu uma das marcas da Cisne Negro: bailarinos preparados para dançar obras clássicas e contemporâneas. O que o grupo faz há quatro décadas, agora, é regra em toda grande companhia do mundo.

Dois anos após a chegada dos estudantes da USP, escola e companhia se mudaram para o espaço que ocupam hoje na Rua das Tabocas, 55. O prédio - o primeiro da Vila Beatriz, segundo Dany Bittencourt - foi erguido após o engenheiro químico Edmundo Bittencourt, marido de Hulda, vender uma fábrica e alguns terrenos para investir no projeto de vida da mulher. O empreendimento vingou. Entre as conquistas, turnês pelos EUA, pela África, América do Sul e Europa, sempre com casas cheias.

A história da Cisne Negro é de constantes recomeços. Parte do sucesso se deve à perseverança de Hulda e à sua habilidade de agregar parcerias. Nesses anos todos, a companhia desenvolveu projetos sociais na capital e no interior; levou a dança para escolas e hospitais. Há 34 anos, põe em cena O Quebra-Nozes, espetáculo mais tradicional da cidade.

A escolha por não ter um coreógrafo residente fez com que a Cisne Negro fomentasse o desenvolvimento de jovens coreógrafos, como o próprio Rui Moreira. "O olhar da direção sempre foi de descobrir novos talentos. Daí a diversidade da companhia", diz Dany. A qualidade de formadora está no DNA do grupo, talvez por ter surgido a partir da escola e ser liderado por Hulda, uma grande mestra preocupada com o ensino da dança. Ex-bailarinos da Cisne Negro estão espalhados por companhias do mundo todo.

Hoje, Hulda lamenta a inviabilidade de fazer turnês internacionais e a crise, que tem afastado o público. Mas sabe que é uma vencedora. "Me considero uma heroína." Está habituada a superar as adversidades. A de agora não é a primeira nem será a última.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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