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No terceiro dia do Lollapalooza, Kendrick Lamar foi o 'mestre de cerimônia'

"I got, I got, I got." O começo de DNA, um dos hits de DAMN., foram as primeiras palavras que Kendrick Lamar falou em cima de um palco em território brasileiro. Ele fechou o Lollapalooza Brasil 2019 com um show de rap explosivo repassando as fases de sua carreira, mas com o repertório centrado no disco mais recente - que lhe rendeu um Pulitzer de música. "Demorei muito para vir ao Brasil", admite.

Aos 31 anos, o fenômeno Kendrick Lamar veio ao Lollapalooza pôr à prova o modelo de festivais do Brasil, de preços elevados e acesso complicado, e verificar se ele consegue bancar grandes artistas do gênero mais ouvido na América do Norte hoje em dia, o hip-hop.

Sempre baseados em artistas estrangeiros, os festivais timidamente caminham hoje na direção de escalar os rappers na primeira linha: a dúvida que sempre existiu foi se os cachês encorpados se refletiriam em ingressos adquiridos.

O público do domingo, que viu mais cedo o show animado do rapper carioca BK e o desfile de hits de Gabriel, o Pensador, foi de 76 mil pessoas segundo a organização do evento.

Kendrick Lamar vem ao Brasil em seu momento mais glorioso - ainda que Good Kid M.A.A.D City (2012) e To Pimp a Butterfly (2015) sejam realizações artísticas mais completas, DAMN. segue sendo um disco de rap brilhante.

Ele é um dos pilares da plataforma que tornou o hip-hop o maior gênero do mundo em relevância artística na década de 2010, porque seguiu aprimorando os fundamentos (flow, lírica, rimas, estruturas de frases), mas levou as estruturas rítmicas a novos patamares ao aliar beats ambiciosos com habilidades de músicos revolucionários do jazz como Kamasi Washington e Thundercat.

Depois de fazer todo mundo acender o celular numa reflexiva Pride, ele se emociona ao dizer que "tem algo especial rolando entre nós" (o público) e as lágrimas que caem do seu rosto provam que não há demagogia nas palavras. Love é a última calmaria antes do empurrão final.

"Olê, olê, olá, Kendrick Lamar", pede um animado público brasileiro diante de uma estrela do rap de nível global, antes do bis. Ele termina com All The Stars, parceria com SZA da trilha sonora de Pantera Negra indicada para o Oscar de 2019. O californiano Kendrick Lamar provou que o Brasil está pronto para receber os maiores rappers do mundo.

O Lollapalooza teve de esperar até o domingo para ver um show de rap nacional em um de seus palcos: o carioca BK fez no espaço principal uma versão do seu show de Gigantes, um dos discos mais destacados da música brasileira em 2018 - e não foi interrompido pela chuva, como Rashid havia sido no dia anterior. A última faixa do show, Top Boy, de 2017, vê surgir uma roda na plateia e o coro repetido com vontade por um público que veio ao autódromo por causa de nada mais do que rap.

Rock

O Greta Van Fleet veio como o elo que junta filhos e pais - e, de fato, era possível ver pessoas de diferentes idades curtindo a banda. Os irmãos Kiszka (Josh no vocal, Jake na guitarra e Sam no baixo, além do baterista Danny Wagner), crescem nas memórias de Led Zeppelin e Rush, e é exatamente a mescla dessas duas bandas que seu show mostra.

No entanto, ainda falta ao Greta um repertório mais extenso para segurar um show inteiro em alto nível.

Outra banda com forte influência dos clássicos é o Struts, que une referências do glam rock ao que há de mais novo na cena.

Já o Twenty One Pilots tem de tudo: ukelele, autotune, solo de bateria, coro de rock star, mãozinhas para cima, extintores no palco, levada de reggae, crowdsurfing, letras adaptadas para o Brasil, balada romântica, fantasia de esqueleto, falseto, palminhas, criando um vórtex de entretenimento ao vivo.

Interpol mostrou como as bandas de um período de ouro do indie de Nova York, o meio da década de 2000, alcançam 2019: para fãs dedicados, uma revisão consistente dos sucessos da carreira; para os mais desavisados, a atitude blasé da geração pode ser um obstáculo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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