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Classificação etária pesou na reforma de 'Babilônia'

Redação Folha Vitória

São Paulo - Nem só da necessidade de reverter a baixa audiência ou do resultado de pesquisas baseadas em grupos de discussão em São Paulo foram feitas as reformas de Babilônia, a novela das 9 da Globo. O jornal O Estado de S.Paulo apurou que o Ministério da Justiça, por intermédio do Departamento de Classificação Indicativa, questionou a emissora no início da história, ainda em março, sobre a presença de prostituição, preconceito e sexo, justamente os focos que motivaram as maiores viradas de personagens da trama de Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenes Braga. O MJ tem acompanhado a novela nesses últimos 60 dias e, satisfeito com os rumos tomados pela trama, deve publicar, esta semana, seu aval para a classificação etária do enredo em "não adequada para menores de 12 anos".

O casal lésbico, formado por Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg, alvo de uma campanha de boicote da novela encabeçada pela frente parlamentar evangélica, também foi mencionado nas queixas recebidas pelo Ministério da Justiça. "No entanto, tais cenas não são relevantes para a classificação da obra", informou o MJ, por intermédio de sua assessoria de imprensa.

Sobre homicídio, preconceito, prostituição e relações sexuais, o "ministério pediu esclarecimentos à emissora, que respondeu que os capítulos iniciais apresentam concentração maior de cenas com grande impacto para melhor caracterizar os personagens, e que nos capítulos seguintes seriam apresentados contrapontos que atenuariam a abordagem dos temas, o que de fato se verificou por discursos de condenação à violência e à prostituição e a abordagem de conteúdos positivos de respeito à diversidade", continua o MJ, em resposta à reportagem. "O ministério recebeu também uma manifestação assinada pelo senador Magno Malta (PR-ES) reclamando sobre cenas que ultrapassariam a autoclassificação de não recomendada para menores de 12 anos." Evangélico, Malta chegou a pedir em plenário a reclassificação da novela que, em sua visão, não seria adequada nem para maiores de 16 anos.

Foi depois do questionamento do MJ que Beatriz (Glória Pires), a primeira vilã que se permitiu revezar muitos parceiros na cama, sem amor por nenhum deles, se apaixonou perdidamente por um único homem, Diogo (Thiago Martins). Também foi depois disso que o cafetão Murilo (Bruno Gagliasso), inicialmente tão convicto de sua vocação para aliciar garotas de programa, se arrependeu, em poucos capítulos, dos pecados cometidos até então, e Alice (Sophie Charlotte), escalada para ser garota de programa, tornou-se a doce namorada do rico empresário Evandro (Cássio Gabus).

O jornal O Estado de S.Paulo tentou ouvir os autores de Babilônia sobre as reformas operadas na novela, sugerindo que nem eles deveriam estar satisfeitos com os rumos que o enredo tomou. As reformas promoveram sutil crescimento de audiência, que continua aquém do esperado pela Globo na média do País, e não apenas na Grande São Paulo (como sugeriu Gilberto Braga em entrevista ao jornal ‘O Globo’). Mas o ganho é pequeno comparado ao prejuízo da distorção do caráter dos personagens. "Concordo com tudo o que você disse", limitou-se a responder Gilberto Braga, por e-mail.

A O Globo, no domingo, Gilberto atribuiu ao gosto de São Paulo, única praça onde a Globo realizou grupos de discussão sobre a novela, a decisão de tornar Carlos Alberto (Marcos Pasquim) um personagem hétero, e não mais gay. As discussões endossaram as queixas do MJ, atestando que havia sexo demais e amor de menos em cena. Outras reformas da trama teriam sido, segundo o autor, pautadas pelo público de São Paulo, que mesmo após as mudanças, seria a única região onde a novela não emplacou. A audiência, no entanto, fica aquém da média em todo o País, tendo apresentado algum progresso no eixo Rio-São Paulo esta semana (31,5 pontos e 28, respectivamente, na segunda, dia 1.º).

A Globo informa que, embora não tenha realizado grupos do gênero em outras regiões do País, costuma ouvir o Brasil todo por meio da Central de Atendimento ao Telespectador (CAT), de redes sociais, informações de afiliadas e pesquisas periódicas de programas e comportamento.

Quanto ao questionamento do MJ, a Globo informa que não chegou a ser advertida, pois se antecipou às mudanças que considerou necessárias para adequar a história à classificação de 12 anos. Se o MJ tivesse reclassificado Babilônia para 14 anos, ela poderia continuar no ar às 21h, mas certamente comprometeria a pressa da Globo às quartas, quando põe a novela no ar mais cedo, por causa do futebol a seguir. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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