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O palco é a principal fonte criativa da diretora do Théâtre du Solei

Redação Folha Vitória

São Paulo - Duas sequências de batidas rápidas e fortes, seguidas por mais dois socos espaçados, são a marca da diretora de teatro francesa Ariane Mnouchkine antes de abrir ao público as portas da Cartoucherie de Vincennes, no subúrbio de Paris, para mais um espetáculo do Théâtre du Soleil. Fundadora de uma das mais importantes companhias de teatro contemporâneo no mundo, Ariane garante que seus sentimentos permanecem os mesmos após 51 anos à frente do Théâtre du Soleil.

"Se algum dia eu for abrir essa porta sem uma batida no coração, não terei mais o direito de fazê-lo. Não significa que vou parar. Mas isso vai acontecer, algum dia", disse nessa terça, 16, em debate realizado na Biblioteca Parque Estadual, no centro do Rio.

Aos 76 anos, Ariane afirma que têm sido cada vez mais frequentes perguntas sobre como mudaram suas motivações como diretora teatral ao longo dos anos. "Tenho percebido isso depois que fiquei velha, como se, por causa da minha idade, minha motivação estivesse gasta. No fundo, sou sempre hidratada, alimentada e regenerada pelo desejo coletivo e individual das pessoas com quem trabalho."

Antes dos debates, foi exibido o documentário Ariane Mnouchkine - L’Aventure du Théâtre du Soleil (2009), sobre seu engajamento político e artístico. O filme trouxe relatos da própria Ariane e de artistas que passaram pela companhia. Numa época em que o teatro era um mercado de trabalho majoritariamente masculino, Ariane representou um marco ao liderar produções como A Cozinha (1967), de Arnold Wesker, e 1789 (1970), uma das peças mais marcantes do moderno teatro francês. "Queríamos ser o mais belo teatro do mundo", diz, em um trecho do documentário.

Sobre uma das marcas do Théâtre du Soleil, o fato de os atores vestirem o figurino e se maquiarem em frente ao público, Ariane se remeteu à instalação da companhia em 1970 na Cartoucherie de Vincennes, um antigo depósito de munições no subúrbio de Paris.

"Não tínhamos camarim, não tinha calefação, não tinha energia elétrica. Os atores se maquiavam na frente do público porque não tinha outro jeito", disse, acrescentando que até hoje não há camarim na Cartoucherie. "É o momento em que os atores colocam suas máscaras e o público tira as suas. É um momento único, erótico, entre o público e o ator", comentou.

A diretora também ressaltou sua relação de cumplicidade com as 75 pessoas que atualmente fazem parte do Théâtre du Soleil e sobre o processo criativo do grupo. "Quando há uma reação febril entre os atores, com todos falando ao mesmo tempo, compreendo que minha proposta foi aceita. Mas, quando eles são muito gentis e respondem 'Ah, que interessante', sei que tenho que apresentar outra proposta no dia seguinte."

Nem mesmo ao tomar um suco de maracujá na varanda de um café, Ariane baixa a guarda. "Fiquei observando os personagens cariocas, a forma como se moviam, seus ritmos, olhares. Esse é o trabalho do ator, deixar que o personagem entre como um vírus, antes de decidir que o personagem é assim ou assado." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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