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'O Sucesso a Qualquer Preço' desnuda a cobiça de agentes imobiliários

Redação Folha Vitória

São Paulo - Com O Sucesso a Qualquer Preço, David Mamet ofereceu uma descrição dramática daquela época, os anos 1980, quando Ronald Reagan estava na presidência promovendo a competitividade, aqui representada pela cobiça de uma geração individualista de agentes imobiliários.

"A peça tem personagens peculiares e representativos dessa sociedade capitalista", observa o diretor Alexandre Reinecke. "Temos Dave, o grande perdedor, o eterno 'looser'; também o superstar, o protótipo do ganhador, representado por Roma; já Levene é o ultrapassado, aquele cujos métodos já não funcionam mais, e ainda Aaronow, o mediano, sujeito com empáfia e que se julga talentoso, mas não é. Finalmente, o chefe, Williamson, incapaz e que só conseguiu a vaga por indicação."

Além de personagens característicos, a peça retrata com precisão o acirrado clima de competitividade entre os homens que, na disputa pelas "fichas quentes", ou seja, aquelas que trazem os dados dos melhores compradores, participam de brigas e tramas dentro da empresa. Tudo muda, porém, quando as tais fichas são furtadas, originando uma investigação que coloca todos sob suspeita, o que aumenta ainda mais a fervura do caldeirão.

Mamet parece escrever de um fôlego só, dada a profusão de palavras e diálogos que marca suas peças. "Aqui, há um requinte matemático, em que cada frase tem de ser dita no momento certo", comenta Marco Pigossi, que vive o talentoso Ricky Roma. "A escrita de Mamet tem de ser dita como uma sinfonia é executada por uma orquestra: basta uma nota fora para que o resultado seja comprometido."

Por conta disso, segundo ele, os ensaios foram intensos, buscando o entrosamento no ritmo e na intensidade das falas. "No início, dizíamos as falas em uma determinada velocidade e, à medida que aumentava o entrosamento, as falas eram disparadas cada vez mais rápido, até descobrirmos o tom adequado."

O resultado é, de uma certa, perturbador, como percebeu o elenco em apresentações prévias, em cidades como Vitória, Goiânia, Campinas, além de São Paulo. "A peça evidenciou reações do politicamente correto", notou Pigossi. "Os personagens se ofendem muito com palavrões, o que causou um grande espanto."

"Também a competitividade feroz entre os corretores mexeu com a plateia, algo com a qual não estamos ainda acostumados", completa Garolli. "Aqui, ao invés de passarmos as melhores dicas para o vendedor mais astuto, é preferível passar para o coitadinho, que não tem muita chance."

O Sucesso a Qualquer Preço foi levado ao cinema, em 1992, com roteiro de Mamet e direção de James Foley, além de um elenco estelar, formado por Al Pacino, Jack Lemmon, Alec Baldwin, Ed Harris, Alan Arkin e o então iniciante Kevin Spacey.

"O filme tem um personagem que não existe na peça, vivido por Baldwin, pois os produtores queriam um elemento mais evidente para fomentar a discussão", comenta Garolli, que reviu o longa, ao contrário de Pigossi, que vive o mesmo papel interpretado por Al Pacino.

"Há um toque muito especial e particular do Pacino, que vai além do papel, é sua persona aparecendo", comenta. "Não se trata de crítica, pois ele é um grande ator, mas preferi me moldar ao papel e não o contrário, como ele faz."

Realmente, Pacino é um ator cuja figura paira em um nível superior aos personagens escolhidos, uma posição semelhante à de Marlon Brando, que se tornou mais emblemático que seus papéis. Tanto que, em 2012, em uma remontagem da peça na Broadway, Pacino assumiu um novo personagem (antes vivido por Jack Lemmon) e conseguiu novas falas, que marcaram ainda mais sua presença no palco. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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