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Processo criativo do cantor Elomar Figueira Mello inspira exposição

Redação Folha Vitória

São Paulo - É notória a aversão que Elomar Figueira Mello tem pela "urbi", como costuma se referir às (grandes) cidades. Arquiteto formado pela Universidade Federal da Bahia, onde também estudou música, por isso mesmo sabe da dureza de viver na massa compacta de asfalto e concreto. Tem até uma tese em que defende que o mal vem da cidade, e está no ensaio A Era dos Grandes Equívocos, a ser publicado.

Conhecido entre seus admiradores pela atitude reclusa - vive no sertão baiano, perto de Vitória da Conquista, não dá entrevistas, não permite ser fotografado -, vez ou outra ela transcende sua galáxia para se apresentar em São Paulo, cidade onde mais gosta de cantar. Dessa vez, além de um concerto no sábado e dois no domingo no Auditório Ibirapuera, o menestrel aporta na formiguenta Avenida Paulista para a abertura da Ocupação Elomar, que começa neste sábado, 18, no Itaú Cultural.

São Paulo é um dos cenários de tragédia para um retirante numa de suas mais belas e imagéticas composições, Chula no Terreiro. Diz que jamais moraria aqui, mas reconhece nela uma certa beleza, superior a todas as outras cidades que conhece, e o respeito do público educado que sabe apreciar seu trabalho. Curioso é o contraste ao transpor seu universo tão peculiar, rural, árido e silencioso para um espaço urbano numa das avenidas mais movimentadas da Pauliceia. De acordo com sua assessoria, Elomar acha interessante, e um grande desafio para os artistas que montaram essa ocupação, pegar seu universo, que é bem maior em "escala ciclópica", e reduzi-lo em um simples espaço, de 10 X 12 m no piso de um alto edifício. A ambientação do espaço terá réplicas de seu reduto.

Ao avançar a porteira, como aquela da poeirenta estrada das areias de ouro que leva à Casa dos Carneiros, o visitante vai ter acesso a muitas raridades, como o primeiro compacto simples lançado por Elomar em 1968 com as músicas O Violeiro (regravada em seu primeiro álbum, ...Das Barrancas do Rio Gavião, de 1973) e Canções da Catingueira, partituras de suas óperas, trechos originais de livros, poemas inéditos, cartas, objetos pessoais, tirinhas do Bode Orelana, personagem que Henfil (1944-1988) criou inspirado nele, desenhos de sua figura feitos pelo amigo e conterrâneo Juraci Dórea, documentos que Elomar mantém no que chama de "arquivos implacáveis", capas de discos e outras peças iconográficas inspiradas nos temas de suas canções. Porém, coerente com seu padrão de comportamento, não haverá exposição de fotos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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