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A santa guerreira batizada em fogo

Redação Folha Vitória

Todos os anos, a cidade francesa de Orleans elege uma jovem católica que simbolizará a mártir e santa guerreira Joana D’Arc nos comemorativos que relembram o conflito contra os britânicos ocorrido em 1429, durante a Guerra dos Cem Anos. Neste ano, a tradição não agradou a todos. A moça escolhida irritou os franceses por "não parecer fisicamente com a santa", lembra a atriz Silmara Deon, que visitou a cidade e vive o papel de guerreira no espetáculo O Julgamento Secreto do Joana D’Arc, que estreou na quinta, 26, no Teatro Oficina.

De origem africana e polonesa, a jovem de 17 anos escolhida para a cerimônia realizada no mês de abril foi vítima de ataques racistas, o que provocou debate político sobre imigração no país. "O mais estranho é que não há registros que comprovem como Joana era fisicamente. As reações extremas se apoiam na representação feita pela Igreja Católica. A mesma que um dia a condenou à morte", lembra a atriz.

Silmara também não se parece fisicamente com a heroína, e, apesar de sua idade também ser incompatível com a personagem, não viu problemas para interpretar a célebre figura histórica tão retratada nas artes, no cinema, na literatura, na música e nos palcos. No Brasil, já foi vivida por Christiane Torloni em Joana Dark - A Re-Volta (2000). "Lembro que a montagem tinha foco no aspecto feminino e humano de uma mulher que enfrentou instituições sagradas e comandadas por homens."

Nascida em 1412, a donzela de Orleans liderou 4.000 homens contra a ocupação britânica na França. Vestida com roupas de soldado, a jovem dizia ter recebido um chamado divino para libertar seu país e levar o rei Carlos VII ao trono. Capturada em 1430 por aliados dos ingleses, foi condenada, entre outras coisas, por usar roupas militares em vez de vestido. Foi queimada viva aos 19 anos. Para a atriz, a rebeldia da mártir encontra paralelo nos tempos de hoje quando as mulheres estão sujeitas a diversos tipos de violência. "Há uma parte da história que narra uma garota analfabeta, frágil e ingênua, que estava apoiada em suas visões religiosas. Aqui, tentamos não desqualificar o ideal de sua missão, mas reforçamos a determinação e liderança da jovem."

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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