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Violão e poesia do autor guiam a narrativa

Redação Folha Vitória

Ao fim de um dos ensaios de Piedade, o maestro Luiz Fernando Malheiro voltou-se ao compositor João Guilherme Ripper e perguntou: o que estava acontecendo na sua vida enquanto você escrevia a ópera? "É uma obra muito forte, uma grande ópera, verdadeiramente inspirada no modo como narra musicalmente e constrói os personagens", explica o regente, que é diretor do Festival Amazonas de Ópera.

Para Malheiro, um dos aspectos que mais chamam a atenção é a coesão do drama, o senso de arquitetura e desenvolvimento da história - o que levou o maestro a recusar a presença de um intervalo. "Há um discurso musical único, e ainda assim variado internamente, que perpassa toda a narrativa e que precisa ser mantido por conta de sua fluência", diz ainda.

Um dos elementos a dar essa coesão é a presença do violão, que nas récitas de São Paulo estará a cargo de Edelton Gloeden. "Piedade é uma ópera brasileira e não poderia faltar esse instrumento tão marcante para a nossa música", conta Ripper. "A última cena começa com Dilermando, violão ao colo, cantando a canção que acabou de compor para Anna. É uma ária seresteira cujo tema vai ser, logo em seguida, retomado pela orquestra para acompanhar as brincadeiras apaixonadas dos dois amantes. Depois de escrever a ária, decidi criar Prólogos para Violão Solo e utilizar poemas de Euclides da Cunha para abrir cada uma das cenas."

Para Malheiro, o uso que Ripper faz do instrumento funciona muito bem dramaticamente. "E a sonoridade melancólica do violão já nos insere no drama das relações humanas", conclui o regente.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.