Entretenimento e Cultura

Cinema se despede da atriz Lauren Bacall

Redação Folha Vitória

São Paulo - Conta a lenda que Lauren Bacall, embora já fosse modelo fotográfica, ficava tão nervosa diante da câmera de filmar que o diretor Howard Hawks deu-lhe uma ideia para que parasse de tremer em Uma Aventura na Martinica, seu primeiro longa, de 1944. Ele sugeriu que Lauren inclinasse a cabeça e puxasse o cabelo para um dos lados do seu rosto. Ela pressionou o queixo contra o peito e olhou para cima, meio enviesada, para a câmera. Nasceu assim The Look, o Olhar, a marca características de Lauren Bacall. A estrela que morreu nessa terça-feira, 11, de um derrame em sua casa, aos 89 anos, trabalhou em filmes que se tornaram clássicos noir no começo de sua carreira, mas o que fez dela um mito foi a união com Humphrey Bogart. Howard Hawks havia feito uma aposta com Ernest Hermingway de que conseguiria fazer um bom filme de sua pior história.

O próprio Papa Hemingway sugeriu To Have and To Have Not, que virou Uma Aventuras na Martinica. Bogart já era casado, mas algo se passou entre Lauren e ele no set. Uma frase dela entrou para as réplicas célebres do cinema - Slim, como Hawks chamava a personagem (e era o apelido de Lauren), diz a Bogart 'Se me quiser, é só assoviar que eu venho.' Casaram-se em 1945, tão logo Bogart conseguiu o divórcio e viveram juntos até a morte dele, em 1957. Fizeram mais um noir, o melhor de Hawks - à Beira do Abismo/the Big Sleep, adaptado de Raymond Chandler. E mais um - Dark Passage/Prisioneiro do Passado, de Delmer Daves. O quarto filme juntos foi Paixões em Fúria, de John Huston, de 1948.

Entronizada como ícone da moda e do cinema, Lauren Bacall nunca mais deixou de filmar, e brilhar. Entre seus grandes filmes estão obras de gêneros - o melodrama Palavras ao Vento, de Douglas Sirk; a comédia Médica, Bonita e Solteira, de Richard Quine; o mistério Assassinato no Orient-Express, de Sidnery Lumet, baseado em Agastha Christie; e o western O Último Pistoleiro, em que contracenou com outras duas lendas, John Wayne e James Stewart. Ao começar, ela tomou como referência Bette Davis, que criara a fama de 'malvada' (embora em All about Eve/A Malvada, de Joseph L. Msankiewicz, a bad girl fosse Anne Baxter). Anos mais tarde, Lauren Bacall colheu um grande sucesso na Broadway com a versão musical de A Malvada, que se chamou Applause/Aplauso. Ela fazia - cantando - Margo Channing e a própria Bette Davis, que criara o papel no cinema, foi cumprimentá-la à saída do teatro.

Lauren nasceu Betty Joan Perske, em Nova York, numa rica família judaica. Ao chegar a Hollywood, chamada por Hawks - a mulher do diretor havia visto a foto de Betty Joan na capa da revista Bazaar e incentivara o marido a testá-la -, ela declarou um dia que teve suas primeiras experiências de antissemitismo. O próprio Hawks teria feito piadas racistas contra judeus e a pretendente atriz, sentindo-se ameaçada, negou a ascendência. Foi Hawks quem a convenceu a trocar de nome. Lauren Bacall filmou com Robert Altman (Prêt à Porter) e Lars Von Trier (Dogville e Manderlay) e ganhou o Globo de Ouro de coadjuvante pelo papel em O Espelho Tem Duas Faces, de Barbra Streisand. Ela também recebeu um Oscar especial e o Prêmio Kennedy. Após a morte de Bogart, casou-se com Jason Robards em 1961, mas se divorciaram em 1969.

Pontos moeda