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'Ausência' foi o melhor filme nacional dos Kikitos

Redação Folha Vitória

Gramado - Além de ser bela mulher, Mariana Ximenes tem se envolvido em projetos interessantes - Operação Sônia Silk -, mas daí a ter sido a melhor atriz no Festival de Gramado encerrado na madrugada desse domingo, 16, vai uma distância imensa. O Kikito que ela recebeu por Um Homem Só, de Cláudia Jouvin, deve ser computado como uma das excentricidades do júri que atribuiu os prêmios da competição brasileira, e nem foi a maior. O mesmo júri achou que duplicar Vladimir Brichta superou o desafio da filmagem noturna, debaixo d'água, de Ponto Zero, o longa do gaúcho José Pedro Goulart e atribuiu o prêmio de fotografia a Um Homem Só.

Não basta agora à crítica analisar e debater os filmes. Os júris de festivais, e os de Gramado, em especial, andam bem pouco razoáveis. Não há muito que objetar aos Kikitos de melhor filme e direção para Ausência, de Chico Teixeira, mesmo que seja inferior a A Casa de Alice, do próprio Chico. O júri acertou nos prêmios para Ponto Zero, melhor montagem e edição de som, mas foram insuficientes para recompensar a ambição estética do filme mais ousado da seleção brasileira. Em muitas categorias, havia sempre alguém melhor, que poderia e até deveria ter vencido.

Pode-se imaginar que, no júri de longas nacionais, como no de latinos, tenham havido divisões internas, e isso favoreceu as chamadas soluções de compromisso. Mas faltou bom-senso, senão grandeza. Com ótimos filmes para premiar - o mexicano En La Estancia, o cubano Venecia, o colombiano Ella e o uruguaio Zanahorria/Cenoura -, como aceitar que o júri tenha escolhido o menos bom, já que não é propriamente ruim, da seleção estrangeira - o argentino La Salada? A menos que o júri realmente acreditasse estar premiando o melhor, e aí a coisa é mais grave. Como admitir que o prêmio da crítica também tenha ido para La Salada?

O ódio do júri pelo alegado esteticismo do concorrente colombiano - segundo diferentes versões que circularam para a premiação - levou o grupo à decisão cega de não premiar o admirável protagonista de Ella, Humberto Arango, e isso sim foi criminoso. O prêmio de roteiro para En La Estancia também não faz justiça às melhores qualidades do longa de Carlos Armella. Os prêmios de atrizes, no plural, e direção (Kiki Alvarez) para Venecia foram os acertos do júri latino. Mas nada para o equatoriano Ochentaisete, de Anahi Hoenseisen e Daniel Andrade, foi realmente demais.

O júri de longas nacionais também acertou nos prêmios de ator e atriz coadjuvante para Breno Nina e Fernanda Rocha, por O Último Cine Drive-in, de Iberê Carvalho. Ainda bem que existe o júri do Canal Brasil, senão o deslumbrante Dá Licença de Contar, de Pedro Serrano, teria passado em branco na competição de curtas. Haveria muito o que falar sobre o tema das relações entre pais e filhos em toda a seleção, mas os percalços da premiação ocupam o foco.

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