Entretenimento e Cultura

Ganha o prêmio abacaxi quem não rir com 'Que Mal Eu Fiz a Deus?'

Redação Folha Vitória

São Paulo - É uma pergunta parecida com a que Pedro Almodóvar já se fez - Que he hecho para merecer eso?, O que eu fiz para merecer isso? No caso do francês Philippe de Chauveron é - Que Mal Eu Fiz a Deus? Quem se queixa é o casal Verneuil, especialmente o marido, Christian Clavier, que não se conforma com o que ocorreu com sua família, isto é, com ele. Católico praticante, perfeito membro da classe média francesa, e da maioria silenciosa do país, ele amarga o fato de que três das quatro filhas tenham se casado com integrantes de outras etnias e culturas (um árabe, um chinês, etc). Quando a quarta anuncia que vai se casar com um católico, a família, e M. Verneuil, entra(m) em êxtase. E é aí, a revelação da identidade do quarto genro, que provoca o desabafo de Clavier/Verneuil.

Que Mal Eu Fiz a Deus? virou um fenômeno nos cinemas da França. Atingiu, somente no país, estratosféricos 12 milhões de espectadores. Em países da Europa e no Japão, o filme totalizou mais 10 milhões, o que o transforma num êxito planetário já visto por 22 milhões de espectadores pagantes. No Brasil, vai indo muito bem, obrigado, exceto no que se refere à crítica. Bonequinho dormindo, troféu abacaxi, deu a louca nos críticos. Não sintonizaram com o humor incorreto de De Chauveron. Mas nem na cena hilária da missa?

Grandes diretores de comédias - Blake Edwards - já definiram o humor como o horror filtrado pela poesia. De Chauveron criou uma espécie de espelho deformante da realidade, colocando os franceses diante deles mesmos. Preconceito racial e religioso, conservadorismo, xenofobia. Que Mal Eu Fiz a Deus? vai mais longe e fundo que Samba, a nova comédia da dupla de Os Intocáveis, Eric Toledano e Olivier Nakache, também em cartaz nos cinemas brasileiros, depois de ter integrado a seleção do Festival Varilux.

De Chauveron e o ator Noom Diawara, que faz o quarto genro, estiveram no Rio, durante o Festival Varilux, para promover as exibições do filme no Brasil. Encontraram-se com o repórter. Diawara é da Costa do Marfim, De Chauveron já dirigiu outra comédia adaptada de uma famosa série belga de quadrinhos, O Aluno Ducobu, sobre garoto que é um pestinha. O diretor contou que o projeto nasceu de uma notícia que ele leu no jornal. "A França é um país contraditório. Ao mesmo tempo que se assiste a um avanço da direita em torno do projeto governista da Frente Ampla de Marina Le Pen, o que se verifica é que, na prática, o país é muito misturado. Existem os que querem devolver os africanos à África, um lema absurdo, mas a França, olhe só, e recordista de casamentos mistos. Foi a notícia que me chamou a atenção. Nada espelha melhor as contradições dos franceses. Comecei a pensar no filme, até como uma possibilidade de homenagear as comunidades de estrangeiros que vivem no país. Queria oferecer-lhes papéis divertidos, mas dignos. Em geral, só aparecem como clandestinos, traficantes, essas coisas."

E De Chaveron reflete - "É um absurdo que os filhos de imigrantes nascidos na França sejam considerados menos franceses. Me parece que só o humor consegue dar conta dessas atrocidades. Gostei de ter criado as cenas que queria ver na tela - a da missa, ou então quando todos cantam a Marselhesa (o hino francês). Essa é a minha favorita." E Noom? "Eu o vi pela primeira vez no teatro, numa peça que arrebentou na França, Amour sur Place ou a Remporter/Amor no Local ou para Viagem. Imediatamente, pensei nele para o filme. Noom é sedutor e engraçado. Humano, como eu queria." E o ator, o que pensa? "Philippe (o diretor) testou 12 atrizes para fazerem minha mulher, todas lindas. Não conseguia se decidir, nem eu. Poderíamos ter formado um harém." E Noom ri. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Pontos moeda