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Anavitória chega ao cinema falando de amor livre e geração Instagram

Projeto da dupla de folk do Tocantins explora temas tabus de forma "fofa" e sem ser panfletário, ao mesmo tempo que conta a história delas

O folk fofo, também conhecido como "fofolk", deu certo no Brasil para atender uma demanda de jovens muito urbanos para o sertanejo e classe média demais para o funk. Inofensivo, bonitinho e acessível, é o tipo de música que agrada quase todo mundo — muitas vezes por passar despercebido — e ainda é perfeita para trilha sonora de comercial de banco. Anavitória é um dos avatares mais conhecidos nesse segmento, que ainda têm destaques como Tiago Iorc e Ana Vilela.

E é mais ou menos esse o conceito em torno do filme Ana e Vitória, que tenta traduzir para o audiovisual esse conceito em uma comédia romântica misturada com musical e autopropaganda.

Concebido e filmado em menos de oito meses e em apenas dois cenários (um apartamento e um hotel), o longa-metragem independente é ideia do empresário da dupla, Felipe Simas, que, apesar do nome, não é um dos irmãos atores da Globo.

Há dois anos, ele propôs às contratadas que poderia ser uma boa ideia levar às telonas um roteiro que misturasse a curta biografia das cantoras, com temas debatidos fervorosamente na internet, como poliamor, relacionamentos abertos e bissexualidade.

A tarefa de condensar essa ideia em texto e imagens ficou a cargo de Matheus Souza (de Apenas o Fim, 2008, Eu Não Faço a Menor Ideia do que Tô Fazendo Com a Minha Vida, 2012, e Tamo Junto, 2016). E também das artistas. Afinal, o que se vê nas telas é Ana Clara e Vitória Falcão sendo elas mesmo na maior parte do tempo. O que, no fim, é o maior trunfo da produção.

Foi isso que garantiu um resultado da intrepretação que não compromete o desenrolar da história nem as deixam sair desse projeto com fama de más atrizes. E isso era um risco real. Afinal, nunca interpretaram antes.

Mas as duas fizeram o básico: foram elas mesmas na maior parte do tempo. Convenceram pela sinceridade. Principalmente quando falam sobre redes sociais e memes. E também cantam bastante para preencher as cenas mais artísticas do filme.

E nessas incursões, Ana e Vitória mostram um repertório novo, mas quase nunca cantam juntas. Clarissa Muller, que interpreta a namorada de Ana no filme, divide os vocais de grande parte da trilha.

O longa ainda conseguiu retratar o modo como parte dos jovens lidam com relacionamentos abertos na atualidade, sem romantização e sem ser panfletário. Em um momento onde redes sociais servem para fomentar o ódio através de enfrentamento ideológico sobre qualquer posicionamento que se tenha, há de se reconhecer que Matheus Souza soube poupar as duas de ataque dos haters com uma abordagem suave de temas que ainda chocam a família tradicional brasileira.

A parte do romantismo também serve como uma declaração não direta da orientação sexual das duas. Se antes havia dúvidas de que eram bissexuais, o filme sugere que sim, é verdade. Embora sem namorar entre elas, o que também sempre foi especulado.

Mas isso, aparentemente, não é bandeira de militância nem para Ana nem para Vitória. As duas não acreditam que os temas sejam tabus em suas vidas e preferem tratá-los com a naturalidade que lidam nas próprias vidas. Para as duas, é só uma outra forma de amar. E nada mais. Tão difícil e doída como qualquer outra.

Se a proposta foi entregar um filme folk e fofo, a dupla, o diretor e empresário atingiram a meta. E mantiveram a proposta da música que as duas fazem: inofensivo, bonitinho e acessível. O tipo de cinema que agrada quase todo mundo - muitas vezes por passar despercebido — e ainda seria perfeito também se fosse o comercial de um banco.

Com informações do Portal R7.

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