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Após início incerto, palco secundário do Rock in Rio engrena com Lenine

Redação Folha Vitória

Rio - É curioso pensar que um palco chamado Sunset, ou seja, diretamente ligado ao pôr do sol, exponha suas atrações ao Sol implacável desse inverno carioca. Se os termômetros apontavam 36ºC, aqueles que estavam diante da estrutura montada dentro da Cidade do Rock, nesta nova edição do Rock in Rio, iniciada na sexta-feira, 18, certamente sentiam que a temperatura já ultrapassava a barreira das quatro dezenas de graus centígrados. Enquanto Lenine e a homenagem a Cássia Eller desfrutaram de uma noite agradável - e arrastaram multidões -, o mesmo não pode ser dito para a banda carioca de jovens recém-saídos da adolescência Dônica.

O grupo não é de todo ruim, é bom que se diga, mas sofreu de dois males. O primeiro, externo, o Sol. Não havia espaço de sombra para todos que estavam dispostos a assistir ao primeiro show do Rock in Rio 2015. A sonoridade psicodélica, que bebe de fontes setentistas, também não conseguiu criar uma dança entre público e artista ao longo daquela uma hora no palco.

Há uma ligação umbilical com Clube da Esquina, disco dos mais clássicos da música brasileira. Mas há pouca novidade ou frescor. No disco que leva o nome do grupo, o Dônica é prejudicado por uma cristalinidade irreal. No palco, ganham crueza e mostram potencial para engordar a fileira de fãs - no Rio, poucos de fato se empolgaram com a banda. Paula Lavigne, mãe de um dos integrantes, Tom Veloso, se juntou ao público na sombra. Um cover de Freddie Mercury que passou pela plateia causou mais alvoroço do que a banda e a participação do maestro Arthur Verocai.

O segundo show, às 16h30, já foi ajudado pelas condições climáticas. A adversidade foi outra. A voz de Nasi. Ou a falta dela. A apresentação conjunta entre Ira!, Rappin Hood e Tony Tornado tinha tudo para empolgar - e foi uma das poucas que realmente seguiram à risca a ideia de que o Sunset seja um palco de encontros inusitados. Uma banda de punk rock paulistana, um rapper e um soulman. E, ao fim de uma hora de performance, o público estava entregue ao trio de atrações, mas o início do show pareceu soar um sinal de alerta com a voz do veterano roqueiro do Ira!.

Mesmo em canções como Núcleo Base, hit clássico dos paulistas, que ele já deve ter cantado algumas centenas de vezes, o músico vacilou. Edgard Scandurra, parceiro de Ira! e guitarrista, ajudou como pôde com backing vocals. Não foi suficiente para garantir que os deslizes passassem despercebidos.

Encontro está na essência do novo projeto do pernambucano Lenine, grande destaque da noite. Já em clima sereno, de fim de tarde, Lenine levou uma big band de nada menos do que 50 músicos para executar as canções do novo disco, Carbono. De Nação Zumbi a Orkestra Rumpilezz, de maracatu a baladas ao violão.

Em uma bonita homenagem à Cassia Eller no palco Sunset, um momento inusitado e cheio de simbologias. Depois da atriz e cantora Tacy Campos erguer a camisa para mostrar os peitos, voltaram ao palco e seguiram o gesto Zélia Duncan e Mart’nália. Terminava assim a primeira tarde do Sunset. O palco, encerrado em nostalgia, fez uma homenagem a Cássia, como já o fez em anos anteriores, com Raul Seixas, mas já era noite e o Sol, ufa, já tinha se posto há horas.

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