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Preta Gil fala sobre julgamentos e autoaceitação: 'antecipei essa onda de empoderamento'

Ao longo da vida eu aprendi a lidar com as adversidades e transformar o não em sim, o julgamento em respeito, diz a artista

Redação Folha Vitória
Foto: Reprodução / Instagram

Preta Gil está de volta aos teatros com o seu próprio monólogo, chamado Mais Preta Que Nunca. E em entrevista ao colunista Leo Dias, a cantora afirmou que tinha vontade de fazer teatro desde que participou da peça Um Homem Chamado Lee, e que se preparou por dois anos para o seu projeto acontecer. O espetáculo, inclusive, tem direção geral de Otávio Muller, seu ex-marido, e direção musical de Francisco Gil, fruto da relação com Otávio.

- Otávio e eu nos conhecemos desde a adolescência e ele é pai do meu filho, convivemos intensamente a vida toda e eu confiei a missão a ele justamente para não perdermos tempo em fazer sala, focamos no objetivo. Mas o curioso desse processo é que Francisco, nosso filho, é o diretor musical, e eu me vi nas mãos dos dois, acatei as ordens, fui obediente e voto vencido muitas vezes. Não tínhamos tempo para ruídos. Somos gente que se gosta e se respeita há muito tempo.

Preta assumiu que o texto do monólogo surgiu através de um aplicativo de mensagens.

- Fiz um grupo de amigas no Whatsapp e perguntei as lembranças delas, minha irmã Maria também foi fundamental já que vivemos boas coisas juntas. Meu empresário Marcello Azevedo me recordou de histórias que eu sempre contava e que ele achava que era bacana incluir. Tudo começou quando eu e a roteirista Daniela Ocampo ficamos presas em um spa fazendo uma boa viagem no tempo entre risadas, lágrimas e comidinhas fit. Tem muita coisa que ficou de fora, quem sabe eu não faço uma sequência. A peça acaba quando eu viro cantora.

A artista explora bastante a sua trajetória durante o monólogo, mas tomou cuidado para não incluir muitas histórias que envolviam outras pessoas.

- Fiz questão de não envolver histórias particulares que envolviam outras pessoas conhecidas. Não achava justo, conheço muita gente e não seria bacana ficar explorando intimidades dos outros somente de um ponto de vista meu. Toda história tem dois lados.

Uma das histórias inseridas no espetáculo envolve um beijo trocado por Preta e a diretora Amora Mautner, na adolescência.

- Nasci no maravilhoso mundo tropicalista, sou filha de hippies de uma geração que acreditava na paz e no amor, que lutou pela liberdade, e na nossa casa ninguém julgava ou rotulava ninguém. Não tinha isso de fulano é gay, ciclano é hétero, as pessoas eram amadas e respeitadas por serem seres humanos. Demorei um tempo até entender essas diferenças e o preconceito. Nesse episódio eu devia ter uns 16 anos, foi numa aula de Matemática e a professora do nada fez um comentário de que gay era uma doença mas que tinha cura. Eu e Amora [Mautner] éramos melhores amigas, ela também cresceu num ambiente onde a gente achava tudo isso muito normal. A gente era da turma do fundão e quando a professora disse isso, mexeu com a gente. Oi? Olhamos uma para a outra, demos as mãos, fomos até a frente e dissemos que não tinha nada de doença e falamos em tom sério É normal homem namorar homem, mulher namorar mulher e a gente também namora. Demos um beijão na boca uma da outra. A galera foi ao delírio. Fomos convidadas a nos retirar da escola.

Outra menção feita na obra é a postura da cantora em seu processo de autoaceitação.

- Tem uma história que conto no espetáculo que reflete bem isso. O que era para ser bullying na escola eu transformei em showzinho e parei o recreio. Ao longo da vida eu aprendi a lidar com as adversidades e transformar o não em sim, o julgamento em respeito. Não é mérito meu apenas, mas antecipei essa onda de empoderamento. Eu mostrava meu corpo, minha celulites, minha sexualidade e confrontava os padrões muito antes disso virar moda. Nunca é fácil conviver com quem não te entende e tenta te rebaixar, mas a vida me ensinou que a pessoa só tem uma saída para ser feliz: ser ela mesma, se aceitar e se amar.

Arrasou, hein?

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