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'O Quebra-Nozes' estreia em Joinville

Redação Folha Vitória

São Paulo - A história de Vladimir Vasiliev é de permanência. Enquanto outros bailarinos soviéticos desertavam para o Ocidente, ele continuou em Moscou como a maior estrela do balé russo entre os anos 1960 e 1980. Quando a Rússia se democratizava e reorganizava suas instituições, em 1995 Vasiliev assumiu a direção do Ballet Bolshoi com a missão de preservar as tradições e trazer de volta a glória da companhia cujo nome significa "grande". Hoje, aos 74 anos, ele permanece, com o vigor pelo qual sempre foi famoso, devotado à arte: remonta e coreografa balés pelo mundo e fomenta nova geração de talentos.

O russo está em Santa Catarina desde o dia 17 para acompanhar ensaios gerais e a estreia, nesta quarta-feira, 26, de O Quebra-nozes da Escola do Teatro Bolshoi no Brasil, em Joinville. Ele assina a remontagem da obra, com música de Tchaikovsky, tradicionalmente apresentada no fim do ano.

Vasiliev é sobrenome do mesmo peso de Nureyev e Baryshnikov. Mas, talvez por ter ficado no Oriente, soe menos familiar ao grande público. "Nunca pensamos em deixar nosso país, nossa pátria", disse em entrevista ao Estado, se referindo também a sua mulher, Ekaterina Maximova (1939-2009), outra estrela do Bolshoi.

"Ela foi a minha vida."

Considerados por muitos críticos o melhor casal da dança clássica de todos os tempos, Vasiliev e Maximova já se apresentaram em um palco brasileiro como convidados, justamente nos papéis principais de O Quebra-nozes. O espetáculo aconteceu em 1980 e foi uma produção do Balé Teatro Guaíra, de Curitiba, Paraná.

Da ocasião

O russo se recorda de um episódio. "Maximova tinha dor de dente e fizeram um tratamento na noite anterior (ao espetáculo). Havia um dentista muito bom. Diziam que em 15 minutos ele iria arrumar tudo. Ele ficou duas horas e meia com ela e estava todo suado (quando terminou). No outro dia, possivelmente ainda como efeito do tratamento, Maximova dizia que o palco estava balançando."

O retorno

Décadas depois, a mistura de O Quebra-nozes e Brasil volta à vida de Vasiliev. O conto natalino não é a primeira remontagem que ele faz de uma obra clássica para o Bolshoi daqui, escola da qual é patrono fundador. Antes, já havia recriado Dom Quixote e Giselle.

A produção inclui cerca de 80 bailarinos, entre alunos e professores da instituição, que completará 15 anos em 2015. A apresentação será no Centreventos Cau Hansen - palco do Festival de Dança de Joinville -, com capacidade para receber 4 mil pessoas. Os ingressos, que custam de R$ 1 a R$ 20, estão esgotados desde o dia 18.

Vladimir Vasiliev conta que quis criar uma versão que contemplasse a tradição sem ignorar as mudanças pelas quais a arte passa. "Os corpos vivos são a base da arte teatral. E eles se transformam permanentemente. Então, obrigatoriamente, o tempo e as inovações na dança moderna e contemporânea mudam as tradições mesmo da dança clássica. Por isso, até no nosso tradicional Quebra-nozes, que estamos fazendo, temos bailarinos e coreografia contemporâneos."

Também artista plástico, o russo assina o cenário do espetáculo. "Desde o começo a pintura está na minha vida. O interessante é que a primeira vez que fiz algo para a cenografia foi aqui em Joinville. Depois, em vários espetáculos meus, até mesmo na Rússia, já usei essa experiência."

Desta vez, diferentemente de Dom Quixote e Giselle, as telas do artista ganharão vida por meio de uma técnica chamada projeção mapeada. As pinturas animadas serão sincronizadas com a música.

Orgulho

Vasiliev é um dos responsáveis pela criação da Escola do Teatro Bolshoi no Brasil, a única "filial" no mundo da respeitada matriz russa. O artista era diretor do Bolshoi de Moscou, no fim dos anos 1990, quando autorizou a criação da instituição em Santa Catarina. "Desde o começo, meu sonho foi fazer dessa escola a melhor do mundo. Aos poucos, acredito que ela vai ocupar esse lugar."

Um dos principais desejos do artista é que se concretize a criação de um teatro, onde os bailarinos que se formam na escola poderão trabalhar. É o que, em geral, ocorre nas grandes companhias de balé do mundo, segundo Vasiliev. Em 2003, o arquiteto Oscar Niemeyer (1907- 2012) criou o projeto do Complexo Cultural Bolshoi Brasil, que ainda não tem previsão para sair do papel.

Vasiliev pertence a uma geração em que o virtuosismo e a interpretação de um papel, aliados à técnica, eram mais importantes do que a simples execução de movimentos aparentemente impossíveis para a plateia. A convicção de que um bailarino é, antes de tudo, um artista e não um atleta permanece como um de seus princípios.

Por isso, ele também respeita os artistas do País. "Penso que os bailarinos brasileiros são muito parecidos com os russos. Os brasileiros também dançam com o coração, sentimento, bom humor. Não estão fazendo simplesmente exercícios. Os bailarinos das duas nações realmente dançam." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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