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Chico Teixeira lança o novo longa, o premiado 'Ausência'

Redação Folha Vitória

São Paulo - Na entrevista que deu ao jornal O Estado de S.Paulo, há meses, Irandhir Santos contou como foi difícil fazer uma cena de Ausência, de Chico Teixeira. O professor é gay, o aluno é carente. A ausência do título é do pai, é do carinho da mãe. O garoto insinua-se na cama do professor. Irandhir, o mais intenso dos atores brasileiros, surtou. O diálogo não era completamente escrito. Como lidar com o desejo que o personagem sente? "Chicão, socorro!", bradou o ator. E o diretor - "Te vira!". Chico Teixeira lembra da história contada pelo repórter e explode numa sonora gargalhada. "Foi assim mesmo!"

Embora a homossexualidade esteja presente em Ausência, não é o tema principal. "Não é um filme gay", reflete o diretor.

Agora, tudo é festa. Mais de um ano depois de ser premiado no Festival do Rio de 2014 e meses após a vitória em Gramado - em agosto - , estreia nesta quinta-feira, 26, o novo longa de Chico Teixeira, diretor de A Casa de Alice. Em fevereiro, ele apresentava Ausência no Festival de Berlim. Acordou no hotel com o travesseiro cheio de sangue. Foi um susto, mas sem maiores desdobramentos. Dois meses depois, já no Brasil, o sangue voltou. O diagnóstico foi carcinoma. Câncer. Chico Teixeira passou os últimos meses lutando pela vida, que reconquistou. Agora, briga por atenção para o filme. Tem dado muitas entrevistas chamando para a estreia.

Como A Casa de Alice, Ausência é sobre outra família disfuncional. Chico vem de uma família de posses. Como Luchino Visconti, podia fazer filmes autobiográficos, sobre famílias da alta burguesia. "Não acho graça", diz o diretor, que prefere famílias de classe média baixa. "Não miseráveis", esclarece. E de onde Chico tira a inspiração, a vivência para escrever e filmar suas histórias? "Gosto muito de andar pelo centro, de sentar numa praça e olhar as pessoas, de entrar num boteco e tomar uma cerveja ouvindo a conversa da mesa do lado." Anda sempre com uma caderneta, fazendo anotações.

"Acho esse negócio de família lindo, mas complicadíssimo. Venho de uma família unida, amorosa. Mas, ao mesmo tempo, meu pai e minha mãe viviam brigando e havia um clima de concorrência muito grande entre os irmãos. Havia o filho preferido, minha irmã e eu brigávamos pelo lugar na janelinha do carro, para pegar o vento na cara. Tudo era motivo para disputas." Sua ficção foi nascendo desse olhar particular. Família como um negócio esquisito. Ausência é sobre as dificuldades desse garoto, que trabalha na barraca do tio, na feira. Não tem pai, a mãe bebe. A ausência é de atenção. "Ele quer ser escutado", diz o diretor.

Podia ser Visconti - "Quem me dera, adoro tudo o que ele fez", diz Chico Teixeira. Sua pegada é mais Pier Paolo Pasolini. "É e não é", diz o diretor e roteirista. "Poderia ter feito um filme sobre o professor caçando garotos, mas não me interessa. Ele, você, eu somos adultos, racionais e inteligentes. Na cena da cama, ele sabe que não pode avançar. Toma consciência dos seus limites. Acho que, no fundo, é o tema de Ausência. A questão ética, os limites que a gente tem de se impor. O que ocorreria se o professor pensasse só no seu desejo sem medir as consequências para Serginho (o garoto, Matheus Fagundes)? Seria um desastre imensurável."

Mesmo com o risco de acharem que ele entrou numa egotrip, Chico já tem um pouco de distanciamento para avaliar Ausência. "Como filme, é mais maduro, mais bem-feito que A Casa de Alice. Sinto que domino melhor o tempo entre as cenas. O filme tem mais silêncio, amo o silêncio. Pode-se dizer muito por meio dele." Ausência reflete o que tem sido sua vida? "Não, porque a doença veio depois. Isso vai estar no próximo, que estou escrevendo." Dolores será sobre uma mulher de meia-idade que encara a própria solidão. "Ganhei o Ibermedia e o filme está bem encaminhado, graças a Deus", conclui Chico. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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