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O desafio de adaptar a obra de Milton Hatoum para a tela grande

Redação Folha Vitória

São Paulo - A literatura de Milton Hatoum é um desafio para os adaptadores - prosa concisa, mas rica em palavras que descrevem o íntimo dos personagens, a escrita exige um profundo conhecimento de quem se atreve a levá-la para outra forma de comunicação. Foi o que fez o cineasta Guilherme Coelho em seu filme Órfãos do Eldorado, agora lançado em DVD.

"Creio que esse é o livro mais imagético da carreira do Milton. Ali, temos uma Amazônia sombria", observou ele ao Estado, em uma conversa ao lado do escritor, em 2015, quando ambos comentavam a experiência. "É certamente o mais interiorizado", completou Hatoum. "Como se trata de uma novela, ou seja, de tamanho ligeiramente menor que um romance, precisei ser mais conciso. Guilherme buscou a linha mais forte da história que é a alucinação de Arminto, sua obstinação. Com isso, criou um filme de poucas palavras."

Órfãos do Eldorado é um mergulho na mente de Arminto Cordovil (Daniel de Oliveira), um homem que volta para casa depois de muitos anos ausente. Surpreendido pela inesperada morte de seu pai, Arminto se vê obrigado a assumir os negócios da família, que, no passado, fez fortuna com o transporte de mercadorias pelo rio Amazonas. Aos poucos, no entanto, ele é consumido pelos fantasmas do passado e por suas grandes paixões: Florita (Dira Paes), a mulher que o criou; e Dinaura Mariana Rios), uma misteriosa cantora cuja aparição na cidade fulmina sua vida.

Além da trama recheada de mistérios (como também é a floresta amazônica), o destaque é o elenco, a começar por Daniel de Oliveira - a imediata empatia que provoca no público reforça a veracidade da loucura e o lirismo desesperado de seu personagem. E Dira Paes revela que, mesmo que seu profissionalismo não seja contestado, consegue surpreender em cada detalhe de sua atuação.

Guilherme Coelho fugiu do óbvio e, antes de utilizar a floresta como cenário, preferiu o rio que, embora aberto, esconde muito mais segredos. Finalmente, vale notar a pequena participação de Hatoum como ator, como um barqueiro, já no final da história. "Não sou ator, mas gostei de contracenar com Daniel", diverte-se ele. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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