As notícias vindas do banco do Espírito Santo são boas. O lucro líquido do Banestes no primeiro semestre foi de R$ 194 milhões, um crescimento de 15% frente ao mesmo período de 2024. Só no segundo trimestre, o lucro foi de R$ 139 milhões, 39% a mais sobre o ano anterior.
Os ativos totais do Banestes batem os R$ 38,9 bilhões, crescimento de 1,5% em 12 meses e 5,4% no ano. A carteira de crédito comercial está em R$ 12,1 bilhões, 20% a mais em 12 meses. Destaques para o crédito consignado, com carteira de R$ 3,5 bilhões, crescimento de 16,9%. E tem também crédito imobiliário, com R$ 2,9 bilhões e crédito rural com R$ 942 milhões.
Foram cerca de 20 milhões de transações financeiras em canais digitais no segundo trimestre deste ano. Um milhão de operações totais via aplicativo. Do mesmo modo, o Banestes tem AA+, com perspectiva estável no Rating Fitch. É uma das três maiores agências de classificação de risco de crédito do mundo.
Todos esses dados refletem a expansão da atuação do Banestes no crédito, avanço na transformação digital, sólida governança e um papel relevante para a economia capixaba.
O administrador Amarildo Casagrande preside o Banestes. Natural de Alegre e está no banco desde 2019. Com experiência de mais de 39 anos no Banco do Brasil, pelo BB ele atuou em Minas Gerais, Espírito Santo, Amazonas e Distrito Federal.
Veja abaixo a entrevista com Amarildo Casagrande, presidente do Banestes:
Para onde vai o lucro do Banestes?
Uma boa parte retorna para o Estado por meio de dividendos e para nossos 45 mil acionistas. A maior parte, entre 40% e 55%, volta para o governo do Estado. Esses dividendos ajudam o governo a reinvestir em políticas públicas.
E é o Executivo que decide como usar esse recurso?
Sim, o Executivo define como aplicar e investe em políticas públicas.
E o restante do lucro, fica no banco?
Fica. Nós reinvestimos em tecnologia, reformas das agências e modernização. Uma parte significativa também remunera nossos acionistas.
O Banestes sempre tem agências em todos os 78 municípios. Como isso ainda faz sentido na era digital?
O Banestes vem se modernizando. Essa corrida digital precisa ser diária. A gente costuma dizer que somos uma empresa de tecnologia que presta serviço bancário. Porém, o DNA do Banestes está na proximidade com o cliente.
Nossa estratégia é o digital, com bons aplicativos, produtos e serviços. Por outro lado, o atendimento presencial ainda é essencial, principalmente no interior. As pessoas querem saber com quem estão negociando, quem é o gerente. Por isso, atuamos em duas frentes: modernização e relacionamento pessoal.
Mas o banco precisa dar resultado. Como equilibrar o digital e o presencial?
Temos investimento contínuo em tecnologia e modernização digital. O Banestes hoje não perde para nenhuma instituição financeira em modernidade. No entanto, as estruturas são menores. Antigamente, uma agência tinha 50 funcionários. Hoje, tem entre 7 e 9.
Estamos reformando as agências, adotando novo modelo e conceito de atendimento. Queremos mais proximidade e conversas reservadas entre cliente e funcionário. As pesquisas mostram que o cliente ainda quer falar com uma pessoa. Muitos não querem falar com máquina nem com inteligência artificial.
Por isso, criamos o banco digital Bizi, que oferece crédito consignado fora do Estado. E o grande diferencial do Bizi é o atendimento humano. Quando o cliente liga, fala com uma pessoa, não com uma máquina.
Da última vez que conversamos, aqui no Programa Valores, o Bizi estava em gestação. Como está hoje?
Hoje o Bizi já opera em todos os estados do Brasil. Temos clientes em todo o país. O projeto caminha bem, com novos produtos e serviços. Fechamos um convênio grande com a USP, em São Paulo.
Temos também parcerias com prefeituras de vários estados. O crescimento é consistente, mas não queremos pressa. Queremos oferecer uma experiência diferente e humanizada.
Os números mostram aumento nas carteiras imobiliária e do agro. Qual é a estratégia do banco?
Tivemos crescimento expressivo nos últimos três anos. Nossa taxa de juros era a menor do Brasil. Hoje continua competitiva, mas os juros altos travaram o crédito imobiliário.
Por isso, voltamos a atuar no crédito rural. O banco estava afastado desse segmento.
Agora, a carteira rural está próxima de R$ 1 bilhão. Atendemos bem o cliente, especialmente no interior, com foco no contato pessoal. Nossa estratégia é simples: atender bem e gerar bons resultados.
O ano que vem é eleitoral. Como o Banestes se prepara?
O Banestes está bem estruturado. Tem governança sólida e estratégia definida. Independente das eleições, o banco está consolidado e conhece o capixaba como ninguém.
É o banco que mais empresta e mais investe no Espírito Santo. A estrutura é sólida e o crescimento é constante, acompanhando o desenvolvimento do Estado.
Quais são as estratégias para o futuro?
Vamos continuar fortalecendo o consignado, inclusive fora do Estado. Abrimos agência de varejo em São José do Rio Preto, interior de São Paulo. Também temos uma agência empresarial na capital paulista.
Queremos expandir o Banestes para além do Espírito Santo. Aqui dentro, temos 1,4 milhão de clientes. Lá fora, queremos crescer entre servidores públicos federais, estaduais e municipais. Esperamos também que a taxa de juros caia para estimular crédito imobiliário e comercial.
Por ser público, o Banestes tem uma função que vai além da bancária…
Sim, se não tiver essa função social, não faz sentido ter um banco estadual. Apoiamos cerca de 140 projetos sociais. Temos uma carteira de microcrédito forte, referência no país.
Trabalhamos com Sebrae, Aderes e agentes de crédito nas prefeituras. O banco financia microempreendedores e transforma vidas com crédito de R$ 2 mil a R$ 10 mil.
O Banestes acaba de receber R$ 100 milhões da Caixa para microcrédito. Como vai funcionar?
Fechamos uma operação inédita no país. Recebemos repasse da Caixa para aplicar no microcrédito. Temos linhas para jovens, mulheres e empreendedores individuais.
Os recursos serão aplicados em novas operações com taxas menores. Hoje oferecemos juros entre 0,99% e 1,29% ao mês, bem abaixo do mercado.
Por que o repasse da Caixa, se o Banestes tem recursos próprios?
Temos recursos, mas já ultrapassamos a exigência do Banco Central para microcrédito.
A Caixa, com mais capacidade de oferta, pelo tamanho que tem, repassou parte dos recursos que também precisa aplicar nessa linha. Isso nos permite manter taxas mais atrativas e ampliar o alcance.
Como o banco encara o microcrédito?
No microcrédito, não trabalhamos com metas. Trabalhamos com transformação de vidas.
Damos assistência financeira e educação para o empreendedor. O objetivo é fazer o cliente crescer com consciência e sustentabilidade.
Como o senhor enxerga o PIX hoje?
O PIX foi a grande transformação do setor bancário. Antes, as operações paravam à noite. Hoje, funcionam 24 horas, sete dias por semana. Isso exige grande investimento tecnológico.
O Banco Central exige transferências instantâneas. Se o dinheiro não cair em segundos, o banco é penalizado.
Mas o resultado é positivo: o PIX transformou a vida das pessoas. Reduziu o uso de papel-moeda e aumentou a segurança. Hoje quase ninguém usa dinheiro físico no comércio.
Em 2019, o Banestes tinha 3 mil acionistas. Hoje são mais de 43 mil. Por quê?
Confiança. O banco cresce de forma sustentável, com resultados sólidos e consistentes. Pagamos bons dividendos e isso atrai investidores.
Do mesmo modo, somos um dos poucos bancos que pagam dividendos mensalmente.
Distribuímos entre 40% e 60% do lucro anual. Isso atrai e fideliza acionistas.
Com números tão positivos, volta a discussão sobre vender o Banestes. Isso faz sentido?
Não. Essa conversa não tem fundamento. Quando entramos em 2019, o governador foi claro: fortalecer e modernizar o Banestes. Nunca houve discussão sobre venda. Pelo contrário, os acionistas minoritários pedem que o governo venda mais ações.
Porém, o governador sempre responde: se o banco paga bons dividendos, por que vender? Um banco forte e lucrativo deve permanecer público.
O Banestes vai ter uma loteria própria?
Sim. Escolhemos o parceiro e divulgamos fato relevante. Será a World Lottery, grupo internacional com experiência no setor. Agora estamos negociando contratos.
Esperamos iniciar as operações no começo do próximo ano. Vamos atuar com todos os jogos permitidos por lei, incluindo apostas esportivas.
Como o senhor avalia o momento econômico do ES?
Vejo o Espírito Santo em um momento único. Rodamos o Estado e vemos investimento em todos os municípios. Há crescimento público e privado. O setor logístico vive um boom. Não há galpões disponíveis, todos estão ocupados. O Banestes acompanha esse movimento e financia empreendimentos em todos os segmentos.
Como o senhor vê a região de Aracruz?
É impressionante. A cada 30 dias há novas empresas chegando. Quando os portos iniciarem operação, teremos outro boom de crescimento. Com calado maior e navios de grande porte, o Estado vai se transformar.
O Banestes está preparado para atender esse novo ciclo. Temos produtos completos: seguros, consórcios, previdência, cartões e capitalização.
Onde o Banestes quer chegar?
Acho que o Banestes já chegou. Hoje é o principal agente financeiro do Espírito Santo. Vai continuar crescendo dentro e fora do Estado, com solidez e inovação.