A discussão já foi: você prefere carro a álcool ou a gasolina? Mas isso tem muito tempo. Hoje a pergunta é? Você teria um carro elétrico? Ou híbrido? E no meio dessa discussão está o apaixonado consumidor capixaba. Uns odeiam, outros já se apaixonaram pelos veículos eletrificados. Porém, um termômetro é incontestável. O mercado.
A média de veículos zero quilômetro vendidos por mês no Espírito Santo varia, mas gira em torno de 3 mil a 4 mil unidades, segundo dados do Detran-ES. Esse volume inclui automóveis de passeio e comerciais leves. Do mesmo modo a frota de veículos eletrificados, que inclui híbridos, híbridos plug-in e elétricos dobrou em um ano aqui no ES. Passou de mais ou menos 4 mil unidades em junho de 2023 para mais de 8 mil em meados do ano passado.
E só no começo deste ano, as lojas já venderam quase 4,5 mil carros eletrificados no Estado. Aumento de 27% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo dados da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE).
Todo mundo fala que o consumidor capixaba é conservador e prefere comprar carros já consagrados. Mas esse comportamento parece que está mudando.
Desde 2015, o crescimento foi de 140 vezes. O setor registrou um crescimento de 84% nas vendas em 2024 em comparação com o ano anterior.
Para o diretor do Grupo Líder, Bruno Conti, o mercado capixaba de eletrificados é surpreendente. E olha que ele fala com propriedade. O grupo tem 11 marcas em seu portfólio. As tradicionais (Fiat, Jeep, RAM, Volkswagen, Hyunday, Toyota, Chevrolet e motos Honda) e as novidades chinesas (GWM, Omoda & Jaecoo e GAC).
Veja abaixo a entrevista com Bruno Conti:
O capixaba está deixando de ser conservador na hora de comprar um carro?
Há dois anos e meio, quando entrou a GWM aqui, eu já vi a diferença brutal do capixaba para outros estados. A gente atua em Minas, Rio de Janeiro e também no Paraná.
O capixaba sempre foi mais à frente no sentido de eletrificação, de carro eletrificado. Até perante o mercado nacional, o eletrificado aqui já está mais à frente que a média da indústria.
Quando a gente entrou com o portfólio da GWM, que tinha híbrido convencional e híbrido plug-in, este segundo sempre esteve à frente. Em outros estados, como no Rio, o híbrido convencional ainda tinha mais força. Aqui, o cliente já queria experimentar o plug-in. Foi notória a diferença.
Quais são os atrativos dos eletrificados?
Às vezes, para a gente que está na indústria, fica muito comum falar essa sopa de letrinhas: híbrido convencional, híbrido leve, plug-in, 100% elétrico. Para o consumidor, isso ainda gera dúvidas.
O híbrido convencional é aquele que você não precisa carregar. Ou seja, o motor a combustão e a frenagem recarregam a bateria. É uma bateria pequena, que melhora consumo e autonomia, mas não entrega a experiência do carro elétrico.
Já o plug-in tem bateria grande, motor elétrico forte – no caso da GWM, dois motores elétricos tracionando as rodas – e ainda pode rodar no modo 100% elétrico, mantendo o motor a combustão para longas distâncias.
O 100% elétrico tem autonomia de 300 a 400 km, alguns até mais, mas ainda é mais urbano, pela infraestrutura do país.
Ter mais motores não significa mais manutenção?
Pelo contrário. A gente tem visto menos problemas. O motor elétrico demanda menos componentes e menos revisão. Nas nossas oficinas, quase não aparece problema. Nesse sentido, só revisões periódicas. Então, a manutenção do híbrido e do elétrico é mais simples e tranquila.
O ES é o maior importador de veículos eletrificados do Brasil. Isso influencia o mercado local?
Acredito que sim. Isso acaba divulgando muito mais notícias e informações sobre os carros que chegam pelo Porto de Vitória. Com certeza, tem vantagem.
O capixaba se informa mais e adere mais rápido às novas tecnologias. Além disso, o Estado tem um fator logístico importante. O Sudeste representa 55% das vendas do país, e o Espírito Santo, como porta de entrada, está perto de São Paulo e de Minas. Isso favorece vendas e divulgação.
Como você vê a relevância das montadoras chinesas no mercado?
Os chineses chegaram há pouco tempo e como um tsunami. Não tem mais volta. Eles evoluíram muito, principalmente em motor elétrico e tecnologia embarcada.
Antigamente, os primeiros carros chineses tinham acabamento ruim e não deixaram saudade. Mas agora é diferente: produto bom, preço acessível e custo-benefício. Quando o cliente coloca na balança, compra.
Já se falou da era do carro americano, japonês, coreano. Agora estamos na era do carro chinês.
O Grupo Líder também trabalha com marcas tradicionais. Como é equilibrar esses portfólios?
O grupo se orgulha de ser relevante nas marcas em que atua. Começamos com Chevrolet em 1967, temos Volkswagen e outras oito marcas tradicionais. Representamos 11 marcas, sendo oito das maiores do Brasil.
A vinda dos carros chineses puxou todo mundo para cima.
Até as concessionárias precisaram se modernizar. Cada marca segue uma estratégia: algumas ficam na combustão, outras vão para hidrogênio. O nosso papel é oferecer o maior portfólio possível ao cliente.
A pegada ambiental ainda influencia as escolhas?
Ainda influencia, mas menos. Muitos clientes procuram o elétrico por questões ecológicas, principalmente quem já tem painel solar em casa. Porém algumas montadoras, como a Volvo, já estão revendo planos de eletrificação total. O elétrico deve encontrar um teto de participação. Por isso, o híbrido ainda é a melhor opção.
Há risco em comprar carro chinês pensando no mercado de usados?
O momento mostra o contrário. O poder de recompra está forte, os carros estão sendo supervalorizados. O mercado usado da GWM, por exemplo, gira muito rápido.
Ou seja, isso acontece porque o carro é bom e gera confiança. Além disso, as montadoras chinesas oferecem bônus fortes na troca, o que valoriza o usado e impulsiona a recompra.
Como o momento da economia capixaba impacta os negócios?
O Espírito Santo representa cerca de 30% das vendas e do faturamento do grupo. O desempenho aqui é melhor que a média nacional, principalmente nos carros chineses.
Estamos ampliando no Estado: abrimos em Linhares, em Santa Maria de Jetibá e vamos abrir duas concessionárias em Vila Velha. Acreditamos muito no mercado capixaba.
O agro pode ser um caminho para o grupo?
Sim. No Norte do Estado, o agro é muito forte. A GWM lança agora em setembro uma picape e o SUV derivado dela a diesel e com preços muito competitivos. Vai ser importante para atender esse público. Outras marcas do grupo, como Chevrolet e Volkswagen, já têm grande participação nesse segmento.
O grupo ainda tem vínculo com logística, sua origem?
Sim, começamos no transporte rodoviário. Hoje, mais de 90% do negócio é concessionária, mas a logística pode ser oportunidade no futuro. No momento, nosso papel é mais como fornecedor de veículos para esse setor.
Como estão os segmentos de carro por assinatura e consórcio?
O carro por assinatura teve um boom, mas arrefeceu. O consórcio está em alta por causa da elevada taxa de juros da nossa economia. Para motocicletas, o consórcio é muito forte, chega a 50% das vendas.
Para carros é menor, na casa de 10% a 15%. Já o financiamento, subsidiado por montadoras e bancos, ainda domina. Nesse sentido, por exemplo, passa de 70% nas marcas chinesas.
O grupo pretende expandir para novos mercados?
Sim. Estamos em 16 cidades no Espírito Santo e vamos abrir em Vila Velha ainda este ano. Expandimos para o Paraná com a Toyota e já fomos nomeados pela Omoda lá. O Paraná tem muito potencial. Novos estados podem acontecer, mas nossa prioridade é consolidar onde já atuamos.
Falta de mão de obra também é um problema para o setor?
Muito. Foi tema no congresso da Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores).
A dificuldade é encontrar profissionais qualificados. A saída é investir em treinamento, capacitação e retenção.
Trabalhamos com consultorias parceiras nesse sentido.
Qual é o futuro do Grupo Líder?
A meta é crescer acima do mercado, que deve avançar 6% este ano. Vamos passar dos 100 mil veículos entre carros e motos e fechar 2025 com mais de 100 concessionárias. Em cada marca que atuamos, queremos ser relevantes. O futuro pertence a Deus, mas estamos preparados para aproveitar as oportunidades.