Estamos em maio, o mês das mães. Por isso, trazemos hoje uma entrevista especial.
Kelly Nunes é a mãe do Felipe, que é autista nível 1 de suporte. A família, unida e amorosa, é completada pelo marido Maycon Nunes e pela filha, Alice.
Na entrevista com Voz da Inclusão, Kelly nos conta como foi a descoberta do diagnóstico de Felipe, e como isso mudou a rotina da família.
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Para as mamães atípicas, ela tem uma mensagem muito especial: “Cuidem de vocês com o mesmo amor com que cuidam dos seus filhos. Tenham paciência com seus próprios processos — somos humanas, e tudo bem não dar conta de tudo o tempo todo”.
Leia a entrevista completa abaixo!
Entrevista com Kelly Nunes
1 – Como foi a descoberta do diagnóstico do seu filho?
Coração de mãe sente quando algo está diferente. Quando meu filho estava entre 2 e 3 anos, comecei a notar mudanças no comportamento dele. De um menino calmo, passou a ter crises, se mostrava muito nervoso, me mordia e arranhava — claramente estava sofrendo. Além disso, notei atrasos na fala e em outros aspectos do desenvolvimento. Foi um momento difícil, mas a busca por respostas me levou ao diagnóstico e, com ele, ao caminho do acolhimento e do cuidado.
2 – Você fala que pesquisou muito sobre TEA quando começou a achar que seu filho estava no espectro. Como foi essa busca por informações?
Desde o início, senti a necessidade de entender mais sobre o que meu filho poderia estar vivenciando. A partir do momento em que comecei a notar sinais que poderiam indicar autismo, busquei me informar ao máximo. Procurei fontes confiáveis, como sites de neurologistas e especialistas na área, e passei a reconhecer alguns dos sintomas no meu filho. Também encontrei apoio conversando com outras mães, tanto na escola quanto em grupos.
Após a confirmação do diagnóstico de TEA e TDAH, aprofundei meus conhecimentos por meio de cursos, congressos e eventos sobre o tema, com o objetivo de entender as melhores formas de tratamento e acompanhamento para apoiar meu filho com mais segurança.
3 – Vemos muitas famílias falando da dificuldade de acessar os tratamentos necessários. Que dificuldades vocês encontraram?
A primeira grande dificuldade foi encontrar um médico capacitado para fechar o diagnóstico. Depois do diagnóstico, começa uma nova etapa: entender em que nível de suporte seu filho se encontra dentro do espectro e quais são suas necessidades específicas. Isso exige um investimento significativo de tempo e dinheiro — com exames, avaliações e o início do plano terapêutico.
A busca por boas clínicas e profissionais qualificados também é um grande desafio. Infelizmente, o autismo virou “comércio” e um tratamento mal conduzido pode causar prejuízos irreversíveis. Como diz um médico que admiro muito: ‘tempo é cérebro’. A escolha dos profissionais certos pode mudar o futuro da criança e um tratamento mal direcionado pode comprometer ainda mais o desenvolvimento.
4 – De que forma o diagnóstico impactou a vida da família?
O diagnóstico, num primeiro momento, foi um choque. Enfrentar a realidade de que nosso filho vê e sente o mundo de uma forma única e precisa “treinar” habilidades sociais é difícil. Mas, depois do impacto inicial, o diagnóstico que nosso filho é autista nível 1 de suporte também foi libertador. Trouxe respostas, deu nome ao que víamos e nos permitiu começar a ajudá-lo de forma mais eficaz e consciente.
Na nossa família e acredito que como em muitas outras, eu como mãe fui a primeira a aceitar o diagnóstico. Meu marido precisou de um tempo maior para assimilar e compreender o que isso significava. Durante esse período, me senti bastante sozinha. Hoje, caminhamos juntos, dividimos as idas a médicos, terapias e outras necessidades do nosso filho. Foi importante também dar a mesma atenção para minha outra filha para que ela não se sentisse excluída de nossa atenção.
Reconheço que, dentro da realidade do Brasil, somos privilegiados por conseguirmos, por meio do nosso trabalho, oferecer a ele um bom atendimento médico, terapias, medicações e uma rede de apoio. Mas essa definitivamente não é a realidade de muitas famílias. Há mães que mal têm tempo para se alimentar ou tomar banho, porque não podem deixar os filhos sozinhos, já que correm risco de se machucar. Mulheres que são abandonadas pelos parceiros, crianças que ficam sem tratamento ou medicação por falta de recursos. O maior medo de uma mãe atípica principalmente de nível 3 de suporte é morrer antes do filho — e, infelizmente, essa é uma angústia real e constante.
5 – Alguma mensagem especial para mães de filhos com deficiência?
Cuidem de vocês com o mesmo amor com que cuidam dos seus filhos. Tenham paciência com seus próprios processos — somos humanas, e tudo bem não dar conta de tudo o tempo todo. Sempre que possível, busquem se fortalecer emocional e fisicamente. Procurem grupos de apoio, compartilhem vivências e, acima de tudo, estudem. Informação é poder, e conhecimento nos dá voz e direção.
Nós somos as maiores defensoras da evolução dos nossos filhos. Nosso amor, que é infinito, é capaz de romper o cansaço, o desânimo, o preconceito e até as falhas do sistema. Por isso, desejo à todas as mães sabedoria, paz, força e muito amor em sua jornada.