Um segmento que cresce e não dá sinais de que vai ser diferente daqui para frente. Afinal, uma das maiores preocupações das famílias é com a saúde. Em todo o Brasil, o setor de operadoras de saúde registrou lucro líquido recorde de R$ 12,9 bilhões no primeiro semestre deste ano. Ou seja, um crescimento de 131,9% em relação ao mesmo período do ano passado. E a Unimed Vitória está de olho nesse crescimento.

O lucro líquido das operadoras de planos de saúde no Espírito Santo em 2025 não é divulgado isoladamente pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), porém alguns números chamam a atenção para esse mercado aqui no Estado. Na capital, Vitória, por exemplo, 61% da população tem plano de saúde. É a cidade com o maior percentual no Brasil.

Ainda em Vitória, há 18 médicos por mil habitantes. Essa proporção deixa a capital capixaba, mais uma vez, como campeã nesse índice. Nesse contexto, uma das maiores operadoras do país que atuam aqui no Estado é a Unimed. A operadora atende mais de 600 mil pessoas em solo capixaba e possui uma extensa rede própria de hospitais, laboratórios, centros de diagnóstico e especialidades. A projeção da cooperativa médica é faturar R$ 2,5 bilhões em 2025.

Gestão

No entanto, se o momento é favorável agora, já foi muito ruim há cerca de dois anos. A cooperativa enfrentou uma perda de caixa por conta de investimentos que não deram certo.. Nesse sentido, o grupo precisou de um verdadeiro choque de gestão. Foi aí que entrou o atual presidente da Unimed Vitória, doutor Fabiano Pimentel.

O doutor Fabiano é médico cirurgião geral e também do aparelho digestivo, formado na Emescan em 1994. Tem residência em cirurgia geral e especialização em cirurgia gastroenterológica pela UFES. Do mesmo modo, tem larga experiência em cooperativismo médico. Foi diretor financeiro e presidente da Cooperativa dos Cirurgiões Gerais do Espírito Santo, tem MBA em gestão de cooperativas médicas e é cooperado da Unimed Vitória desde 1998.

Veja abaixo a entrevista com o presidente da Unimed Vitória, Dr. Fabiano Pimentel:

Qual é a maior dificuldade em atuar numa área que não é sua originalmente?

Bom, essa dificuldade, esse desafio não é só para um médico que está na área de gestão. A saúde suplementar hoje no Brasil enfrenta um desafio muito grande. Manter a qualidade do atendimento e a condição econômico-financeira de uma operadora tem sido um desafio muito grande.

Nesse sentido, para isso, a gente vem buscando cada vez mais se dedicar e se especializar em gestão. Isso para poder assumir essa condição e entregar aos nossos usuários o que é necessário.

Que diferença faz ter conhecimento de gestão para atuar na Unimed?

É fundamental. Eu, como você disse, venho do cooperativismo há mais de 28 anos e isso passou a ser um desafio imenso. Não só o cooperativismo, mas também lidar e estar à frente de uma operadora, uma operadora de saúde que vende planos de saúde.

Como foi o início da sua gestão na Unimed e quais foram os principais desafios?

Nós iniciamos a gestão em março de 2023 e lá enfrentamos um desafio expressivo. Nós encontramos uma Unimed com um problema administrativo financeiro e também assistencial. E, nesse sentido, criamos uma metodologia, a ASA (Agilidade, Simplicidade, Autoridade). Do mesmo modo, estabelecemos mais de 53 planos de ação. Ou seja, finalizamos o ano de 2023 com mais de 200 ações efetivadas e conseguimos superar dificuldades.

Era um passivo expressivo do ponto de vista financeiro e também assistencial. Finalizamos o ano retribuindo ao nosso cooperado um resultado favorável, bem como aos nossos colaboradores. E, consequentemente, colaborador feliz, cooperado feliz, nós temos os nossos usuários sendo bem atendidos.

A expectativa é chegar a R$ 2,5 bilhões de faturamento este ano. Vai atingir a meta?

A Unimed está em uma crescente, com muita transparência e muito trabalho. A gente está buscando isso. Por quê? Porque a Unimed, além do desafio administrativo e financeiro que nós enfrentamos e assistencial que eu citei, não pode deixar de crescer e de inovar. Nesse período, nós inauguramos vários serviços que são necessários. Vamos, sim, chegar ao final do ano com esses números.

Como foi a retomada de investimentos após um cenário financeiro difícil?

Nós tivemos que fazer mudanças expressivas na Unimed Vitória e ter coragem de mudar. E, com isso, nós atuamos em cada área especificamente, seja no financeiro, seja na TI, seja modernizando as estruturas de recurso próprio. E uma coisa leva a outra.

Para se ter um resultado financeiro, eu preciso entregar o serviço. Do mesmo modo para entregar o serviço, eu preciso investir. É uma bola de neve. Sanada a parte econômico-financeira, a gente investiu e inaugurou vários serviços.

Nós inauguramos a unidade do neurodesenvolvimento, do tratamento do autismo, da hiperatividade na Serra. Inauguramos a mesma unidade em Vila Velha, bem como uma sala de avaliação para poder criar um plano terapêutico apropriado e assim fornecer qualidade no atendimento. Lançamos uma nova oncologia.

Nossa oncologia hoje tem uma estrutura muito maior, mais moderna, que traz acolhimento ao nosso cliente. Inauguramos, também em Vila Velha, uma nova loja de atendimento. É uma atenção primária em saúde três vezes maior, um laboratório voltado para a rua, um serviço que a gente chama de PNFTO, psicologia, nutrição, fonoaudiologia, terapia ocupacional.

A medicina domiciliar, que tinha só em Vitória, nós levamos para Vila Velha. A medicina ocupacional, nós também levamos para o município. E, se Deus quiser, até o início do ano que vem estaremos inaugurando o Hospital Unimed Serra, além de um pronto atendimento Unimed em Cariacica.

Com a chegada de redes de fora do ES, o mercado local ainda tem potencial de crescimento?

O sistema Unimed é muito robusto. Nesse sentido, estamos hoje dentro do maior sistema cooperativo do ramo de saúde mundial. E, baseado na força do sistema Unimed, onde nós temos uma cobertura de 93% do território nacional. Do mesmo modo, cuidamos de 21 milhões de vidas. A Unimed Vitória vai por esse caminho.

Hoje, o share da Unimed Vitória é algo em torno de 42% do Estado. Ou seja, esse é o percentual da população de clientes e usuários. Vale lembrar que aqui nós temos cinco singulares: Na Grande Vitória, no Sul, Norte e Noroeste do Estado. No contexto geral, cuidamos de algo em torno de 640 mil clientes da Unimed e só a Unimed Vitória, especificamente, algo em torno de 435 mil vidas.

Mesmo com ampla assistência, ainda há espaço para crescimento na Grande Vitória?

Na realidade, hoje a estrutura da saúde suplementar está muito bem posta no Estado. O que tem acontecido hoje são operadoras que buscam vidas de outras operadoras. Principalmente no que pese a condição administrativa, econômica e financeira do país como um todo. É uma questão de concorrência. Ou seja, o que acontece hoje é uma migração entre as operadoras do sistema.

O que o mercado de saúde exige das operadoras atualmente?

O mercado exige investimento e isso deve ser com inovação e responsabilidade. Porque não basta só investir, você tem que ter responsabilidade. Ou seja, buscar a sustentabilidade da sua empresa na cooperativa, como a Unimed Vitória faz.

Como é a concorrência com redes de fora do ES?

Bom, é salutar e eu acho que quem ganha com isso são os nossos clientes. Essa concorrência é importante. E, como eu falei, nós estamos inaugurando, trazendo novos serviços para os nossos clientes bem como buscando cada vez mais.

Há dificuldade para achar profissionais de saúde?

Existem algumas especialidades que a gente tem dificuldade. Isso é no âmbito nacional. Especialidades como endocrinologia, reumatologia, psiquiatria. Porém, a gente tem buscado. Nós temos algo em torno de 2.457 cooperados hoje. Alguns se aposentam e novos cooperados estão ingressando. Especialidades que a gente achava muito difíceis, estamos conseguindo repor.

Temos muitos pediatras, ginecologistas, cirurgiões, oftalmologistas e anestesiologistas. No entanto, existem áreas que são muito bem-vindas. Do mesmo modo agora nos voltamos à capacitação dentro da própria cooperativa. Com um centro de pesquisa, para criar residências e suprir as nossas necessidades.

Inclusive na formação técnica também da parte de enfermagem, técnicos de enfermagem, enfermeiros, na área de pediatria. Até na terapia intensiva pediátrica, adulta.

Como está a disponibilidade de mão de obra qualificada na área da saúde no ES?

Nós enfrentamos essa dificuldade, tanto que a gente busca capacitar e formar para poder ter o padrão de atendimento aqui no Estado. Cada vez mais a gente encontra dificuldade e por isso vamos atrás e buscamos realmente capacitar e formar profissionais.

Nós temos estágios, parcerias com a Universidade do Espírito Santo, bem como com outras universidades e faculdades. Tudo para que a gente possa, cada vez mais, ter mão de obra qualificada.

Nós investimos muito também no treinamento dos nossos colaboradores. Isso é fundamental, investir no treinamento e trazer nossos profissionais mais antigos para acompanhar os novos que estão chegando.

Como é a relação com o poder público?

A Unimed Vitória tem um ótimo relacionamento com o poder público. Do mesmo modo, eu acho que eles se complementam, isso é fundamental. Existem determinados planos de saúde que não atendem a demanda completa. O plano ambulatorial, por exemplo, precisa ser complementado e ter continuidade no ente público. E nós temos essa boa resposta.

Como é o investimento em inovação?

Nós fizemos um investimento geral na Unimed, algo em torno de R$ 500 milhões em dois anos. Estamos substituindo o parque de tomógrafos, por exemplo. Hoje as máquinas mais modernas estão dentro do Hospital da Unimed. Temos uma das melhores máquinas de hemodinâmica do país dentro do nosso hospital e, do mesmo modo, acabamos de adquirir uma outra.

A gente vem investindo muito no atendimento. O nosso parque diagnóstico, por exemplo, tem um auto atendimento onde o cliente busca seu exame espontaneamente. Ele chega lá, já pega o seu laudo e evita filas A gente está, cada vez mais, melhorando essa dinâmica.

Como isso melhora a operação diária?

A qualidade é melhor. Nosso usuário se sente muito mais prestigiado. Ele não enfrenta tantas filas, tem de forma mais dinâmica tanto o atendimento quantos os resultados. A gente protege bastante o nosso usuário.

Qual o maior desafio ao atender o usuário hoje?

O usuário é o foco do atendimento da Unimed. A nossa preocupação é em oferecer cada vez mais produtos de qualidade e capacitar cada vez mais os nossos profissionais. Quando o cliente é atendido com os nossos recursos próprios, são 100% médicos especialistas que fazem esse atendimento.

O aperto financeiro da Unimed está superado?

Totalmente superado. Teremos muito mais investimentos e muito mais entrega para os nossos clientes.

Quais são os próximos passos?

Vamos inaugurar o Hospital da Unimed Serra, provavelmente no final de dezembro, início de janeiro. Infelizmente, houve um atraso da obra. Porém estamos superando para entregar um hospital moderno. A estrutura tem um pronto atendimento muito bom com um parque diagnóstico completo. Nós vamos entregar com 100 leitos inicialmente, 80 leitos de internação, 6 salas cirúrgicas, 20 leitos de UTI. Queremos ser um hospital tecnológico.

Outro próximo passo é a a inauguração do pronto atendimento em Cariacica. Será ainda no primeiro semestre do ano que vem. Vamos inaugurar, no início de dezembro agora, um espaço exclusivo Unimed Vitória dentro do Centro Médico Hospitalar de Vila Velha. Ou seja, vai ser um espaço 100% Unimed Vitória, com 44 leitos à disposição dos nossos clientes.

Onde a Unimed quer chegar?

A Unimed quer chegar a um atendimento de excelência ao seu usuário. Temos objetivo de proporcionar melhores condições de trabalho, uma remuneração digna aos nossos cooperados e aos nossos colaboradores, que fazem parte dessa estrutura como um todo.

Se tivermos cooperados e colaboradores felizes, nós teremos os nossos usuários muito bem atendidos. Queremos um atendimento de excelência. Queremos seguir com uma estrutura consolidada, com robustez de atendimento. E, do mesmo modo, com equilíbrio econômico e financeiro, estrutura totalmente viável bem como entregando cada vez mais inovação.

Fabiano Pimentel é presidente da Unimed Vitória
Edu Kopernick

Editor de Economia

Edu Kopernick é jornalista formado na Faesa, especialista em Comunicação Organizacional pela Gama Filho, com experiência em reportagens especiais para veículos nacionais e séries sobre economia do Espírito Santo. Já teve passagens pelos principais veículos de TV, rádio e webjornalismo do Estado. É editor de Economia do Folha Vitória desde 2024, apresentador de TV e host do videocast ValorES.

Edu Kopernick é jornalista formado na Faesa, especialista em Comunicação Organizacional pela Gama Filho, com experiência em reportagens especiais para veículos nacionais e séries sobre economia do Espírito Santo. Já teve passagens pelos principais veículos de TV, rádio e webjornalismo do Estado. É editor de Economia do Folha Vitória desde 2024, apresentador de TV e host do videocast ValorES.