O setor de energia no Espírito Santo passa por uma expansão acelerada e estratégica. São investimentos em infraestrutura e ainda ampliação de serviços. Nesse contexto, o gás natural aparece como alternativa, com um horizonte de oportunidades. A ES Gás passou para a iniciativa privada em março por R$ 1,4 bilhão. Agora, a empresa mira uma expansão robusta para os próximos cinco anos.
Atualmente, a empresa atende mais de 84 mil usuários, tanto consumidores residenciais quanto industriais. A companhia espera investir R$ 1 bilhão até 2030. Recursos que serão usados na construção de 480 quilômetros adicionais de rede, na conexão de 92 mil novos consumidores e na chegada a cinco novos municípios. O objetivo com tudo isso é tornar o Estado um hub competitivo de energia e estrategicamente relevante para todo o Brasil.
Outra meta importante é chegar a 180 mil clientes até 2030. A empresa também prevê o atendimento a 30 novas indústrias e a integração de quatro usinas de biometano à rede. Isso é fundamental para a estratégia de descarbonização do Estado. Todo esse investimento deve consolidar o Espírito Santo como um dos principais polos energéticos do país.
Fábio Bertollo é o executivo à frente da ES Gás. Ele é economista pós-graduado em Finanças Estratégicas pela Universidade de Oxford e possui conhecimento extenso no desenvolvimento de novos negócios relacionados ao gás natura.
Veja abaixo a entrevista com Fábio Bertollo:
Como a ES Gás pretende alcançar os objetivos traçados para os próximos anos?
Temos uma visão muito interessada no Espírito Santo pela potencialidade que ele oferece. Primeiro, porque conversa diretamente com os objetivos do Grupo Energisa: entrar em regiões com grande potencial de crescimento.
Segundo, é um Estado que enfrenta desafios de descarbonização e possui uma matriz industrial forte, que permite substituir combustíveis com maior nível de emissão de gás carbônico pelo gás natural. Esse combustível é mais limpo, chega a emitir metade ou menos da metade em relação aos demais e ainda pavimenta o caminho para o metano, que tem nível nulo de emissões.
O Espírito Santo é bastante organizado, com potencial de crescimento industrial e em outros mercados. E mais: estamos diante do pré-sal, das grandes produções, o que torna a região muito promissora.
O ES é visto nacionalmente como referência em transição energética. Como você avalia esse momento?
Enxergamos o Estado como um exemplo para o Brasil em termos de estruturação, visão política e ambição. O plano de descarbonização é um dos elementos dessa agenda. O próprio governo tem uma visão de longo prazo com o programa ES Mais Gás, que entende o papel do gás como ponte para a transição energética.
Esse programa envolveu mais de 20 agentes da cadeia de valor do gás natural e do petróleo, além de potenciais consumidores e representantes do governo. Dali surgiram mais de 80 ações distintas com o objetivo de massificar o consumo e eliminar cerca de 900 mil toneladas de gás carbônico equivalente até 2030.
Em relação ao Programa Nacional de Incentivo ao Biometano, como está o ES? Há espaço para novas usinas?
O Estado é vanguardista nesse tema e isso nos deixa bastante animados. A primeira ação foi conectar o centro de tratamento de resíduos para capturar biometano e injetá-lo na rede. A partir do começo do ano que vem, parte do gás consumido no Espírito Santo já será renovável. Além disso, há grande potencial na agroindústria.
Regiões como Santa Maria de Jetibá concentram a indústria aviária e possuem enorme disponibilidade de matéria orgânica para gerar biometano. Esse gás é absolutamente intercambiável com o gás natural, o consumidor nem percebe a diferença. Calculamos que até 30% do consumo do estado pode vir do biometano em pouco tempo.
Nosso plano é trazer o máximo possível de plantas para reduzir ainda mais a pegada de carbono.
Já existe a primeira usina em operação. Onde estão previstas as próximas?
Já mapeamos diversas regiões com potencial e nosso plano prevê conectar pelo menos quatro novas áreas no próximo ciclo. Estamos avançados, por exemplo, em um aterro em Vila Velha, mas não queremos nos restringir a aterros. Estamos buscando todas as possíveis conexões para ampliar a produção e injeção do biometano.
A ES Gás anunciou investimento de R$ 200 milhões para ampliar a capacidade de distribuição no ParkLog. Qual a importância desse projeto?
O ParkLog é genial pela forma como foi pensado, integrando modais logísticos para impulsionar negócios. Naturalmente, essa região demandará gás natural. Por isso, estamos criando um novo ponto de abastecimento em Aracruz, junto com a TAG, aumentando em 50% a capacidade da região.
Isso garantirá redundância da rede e também permitirá receber empreendimentos termoelétricos previstos, além de um potencial terminal de importação de gás natural liquefeito.
Hoje a ES Gás está em 14 cidades. Como será a expansão da rede?
Vamos crescer em ritmo sem precedentes. Nos próximos cinco anos, faremos o equivalente ao que foi feito em 25 anos. Passaremos de 14 para 19 municípios, escolhidos estrategicamente: Pedro Canário, Nova Venécia, Jaguaré, Domingos Martins e Mimoso do Sul.
Também criaremos a interconexão entre Linhares e São Mateus. Nosso plano tem três pilares: interiorizar o desenvolvimento do gás natural, democratizar o acesso em regiões já atendidas, como o centro de Vitória, e garantir uma operação segura e eficiente com redundância, digitalização e qualidade no atendimento.
O ES é um grande produtor de gás natural. Como isso faz diferença para sua operação?
Faz muita diferença. Primeiro, porque não temos os gargalos de infraestrutura de outros estados. Segundo, temos produtores independentes, o que gera competição. Desde que chegamos, o custo do gás caiu cerca de 20%.
Hoje, mais de 80% da molécula distribuída aqui está no mercado livre, com consumidores negociando diretamente com produtores. Isso gera dinamismo, opções e economia.
Que setores mais se beneficiam do gás natural?
Tudo que precisa de energia pode utilizar o gás. Na indústria, ele vai da caldeira à empilhadeira. No comércio, já temos mais de mil estabelecimentos utilizando o combustível. No setor residencial, é usado para cozinhar e tomar banho. E, cada vez mais, no segmento de mobilidade.
Nossa meta é criar corredores sustentáveis para frotas pesadas, substituindo o diesel pelo gás natural. Até 2030, queremos adicionar 50 mil veículos à frota atual de 50 mil já em circulação.
O preço do gás natural tem sido uma reclamação de motoristas. Ainda é vantajoso?
O preço varia conforme o mercado, assim como os combustíveis líquidos. Em alguns momentos, a gasolina ou o álcool serão mais competitivos. Em outros, o gás natural. E essa flexibilidade é positiva. Além disso, para a frota pesada, garantiremos abastecimento rápido em mais de 20 pontos ao longo do estado.
Como você avalia o ambiente institucional do ES?
O Estado tem estabilidade institucional reconhecida nacional e internacionalmente. As instituições são respeitadas, os processos são bem conduzidos e a situação fiscal é positiva. Esse cenário atrai investimentos de longo prazo e aumenta nosso interesse em expandir aqui.
E quanto ao Sul do ES, que tem desafios distintos do Norte?
Já atendemos Cachoeiro, mas o potencial industrial da região é menor. Ainda assim, ela integra nossa estratégia de democratização energética e de corredores sustentáveis. Cachoeiro, inclusive, já conta com bico de injeção rápida. Vamos continuar expandindo infraestrutura e atendimento para indústrias, comércios e residências da região.
Onde a ES Gás estará em 2030?
Serão cinco anos brilhantes para o setor. Adicionaremos 90 mil novos clientes, 30 indústrias, 50 mil veículos e quase dobramos a rede, chegando a mil quilômetros de gasodutos. O gás natural terá participação maior na matriz energética, substituindo combustíveis mais poluentes e trazendo economia, competitividade e conforto para os capixabas.
Qual é sua meta com a ES Gás?
Minha modesta pretensão é transformar a ES Gás em um espelho para a distribuição de gás no Brasil.
Queremos ser referência, mostrando que é possível investir, garantir competitividade e ampliar a liberdade de escolha para o cliente. É nisso que eu e meu time trabalhamos diariamente.