Uma empresa que teve lucro de R$ 130 milhões no ano passado. E caminha em 2025 para superar essa marca. A Vports, primeira autoridade portuária privada do país, investiu em dragagens, equipamentos e tecnologia para alcançar resultados mais impressionantes.

Uma das principais mudanças proporcionadas pelos investimentos foi a possibilidade de receber navios da classe Panamax. São embarcações projetadas especificamente para ter as dimensões máximas permitidas para atravessar o Canal do Panamá. Do mesmo modo, eles seguem limites rígidos de tamanho, ou seja, altura de 57 metros, comprimento de 294 metros, largura de 32,3 metros e calado de 12 metros. Nesse sentido, navios maiores podem entrar e sair do complexo portuário de Vitória. Mais carga chegando, mais carga saindo. Mais atividade econômica no ES.

O CEO da Vports, Gustavo Serrão, acredita que vem muito mais por aí na operação dos portos de Vitória e Vila Velha. E ainda tem a expectativa de operação em Barra do Riacho, que espera para o ano que vem a liberação de licenças ambientais. Mais uma saída e entrada de mercadorias pelo Espírito Santo.

Veja abaixo a entrevista completa com Gustavo Serrão, CEO da Vports:

A Vports administra portos em Vitória, Vila Velha e Aracruz. Como funciona esse arranjo?

A Vports é responsável pela gestão do complexo portuário de Vitória e Vila Velha, um porto centenário e ativo. Somos também responsáveis pelo porto da Barra do Riacho, que ainda é uma área de desenvolvimento. Estamos trabalhando o licenciamento ambiental para essa nova frente da Vports. 

Somos a primeira e única autoridade portuária privada do Brasil. Atuamos como gestores, como se fosse de um grande shopping. Fazemos parceria com exploradores de áreas, que oferecem serviços aos clientes.

Cuidamos das áreas comuns, acessos, segurança e da competitividade logística. Todas as demais autoridades portuárias brasileiras são públicas, companhias DOCAS. Fomos a primeira a ser desestatizada, antiga Codesa. Nesse sentido, esse modelo trouxe mais agilidade e flexibilidade às decisões.

Em três anos, fechamos 14 novas parcerias, contra uma a cada quatro anos antes. Essas parcerias geraram R$ 600 milhões em investimentos e há mais de R$ 1 bilhão contratados. Com isso, batemos recordes de movimentação e crescemos 15% no ano passado, contra 1% no Brasil.

Como a liberação de navios Panamax mudou a operação?

Trabalhamos para eliminar gargalos e aumentar a eficiência marítima. Realizamos uma dragagem de R$ 30 milhões que dobrou a capacidade e abriu a possibilidade de receber navios Panamax. Esses navios são maiores e transportam grãos no mundo todo.

Hoje, exportadores e importadores podem operar o dobro de embarcações. Isso reduz custos e aumenta a competitividade. Já recebemos navios grandes após a liberação, batendo recordes em importações de fertilizantes.

Os berços estão mais ocupados e operamos embarcações que antes não podíamos receber. Com isso, atraímos navios que ficariam em fila em outros portos. Do mesmo modo investimos em equipamentos móveis que reduzem o tempo de descarga pela metade. Assim, dobramos o número de navios e reduzimos custos com mais eficiência.

O lucro líquido da Vports foi de R$ 130 milhões em 2024. Como será 2025?

Não divulgamos resultados financeiros antecipadamente. Porém a movimentação continua forte. Mesmo com incertezas, registramos aumento de 7% nas importações até setembro. São dois recordes consecutivos de importação.

O trigo cresceu 82% e o coque e petróleo aumentaram 30%. Na importação de veículos, registramos mais de 49 mil carros. Ou seja, esses resultados mostram como a economia capixaba está aquecida com o porto.

As principais cargas continuam sendo café e rochas?

Sim, mas também há destaque para veículos, fertilizantes e trigo. O porto é um hub consolidado de importação de carros há décadas. Ou seja, a mudança de alíquota em junho gerou um pico de importações naquele mês.

Mesmo assim, seguimos recebendo carros durante o ano inteiro. Já há parceiros interessados em estender contratos de longo prazo.

A chegada de fábricas chinesas pode alterar o perfil das importações?

Sim, mas o Espírito Santo tem experiência para se adaptar. Já passamos por ciclos com carros coreanos, japoneses e russos. Nosso conhecimento logístico garante resiliência diante das mudanças.

Com fábricas no Brasil, o fluxo muda, mas novos insumos e peças passam a circular. Porém, temos capacidade técnica e logística consolidada há muitos anos.

O tarifaço dos EUA impactou as operações?

Barra do Riacho ainda está em licenciamento, então não sofreu impacto. Já em Vitória e Vila Velha, reagimos com agilidade. É o que acontece quando enfrentamos algum obstáculo. Foi assim com o embarque ensacado, quando faltaram navios, por exemplo. Ou seja, Construímos alternativas. c

Agora, o maior impacto foi nas exportações especialmente de café. Houve redução de 50% no embarque, porém o produto ficou estocado no interior. Do mesmo modo, o Porto de Vitória está pronto para escoar assim que o mercado reagir.

Quais os impactos dos investimentos da Vports em Barra do Riacho?

A região é muito promissora. Vemos sinergia com o Porto da Imetame e o PortoCel. Essas três capacidades juntas formam escala suficiente para grandes investimentos logísticos.

O licenciamento de Barra do Riacho deve sair em meados do próximo ano. Nesse sentido, esperamos fechar novas parcerias até o fim de 2026.

A região de Aracruz será de concorrência entre portos?

A relação será de complementaridade total. Nenhum porto isolado tem escala suficiente para gerar uma alternativa nacional. Juntos, formamos uma rede logística integrada. Do mesmo modo, o Brasil precisa de infraestrutura, e esforços somados geram eficiência.

O que representa o ParkLog nesse contexto?

O ParkLog é fundamental porque integra todos os projetos do Norte capixaba. Ele cria governança e coesão entre os portos. O governo do Estado participa ativamente. Colocamos um executivo dedicado à infraestrutura para acelerar o desenvolvimento.

O objetivo é consolidar o ES como maior hub logístico do país.

A reforma tributária pode acelerar esses avanços?

Sim, sem dúvida. A reforma é um desafio, mas também uma oportunidade. A sociedade capixaba entende sua vocação logística. Infraestrutura e eficiência são temas centrais para manter a competitividade. Temos tudo para consolidar o Espírito Santo como polo logístico nacional.

O que falta para o ES ser reconhecido como hub logístico do Brasil?

Já somos um hub logístico, mas podemos ser muito maiores. Temos localização estratégica e uma agenda comum de infraestrutura. Estamos construindo resultados concretos, investimento a investimento. A transformação está em curso, com seriedade e coesão institucional.

Como o porto interage com as cidades, especialmente Vitória e Vila Velha?

Porto e cidade têm histórias entrelaçadas. Temos responsabilidade de preservar e revitalizar esse patrimônio. Requalificamos armazéns e devolvemos espaços à cidade. Firmamos parcerias com o Senai e a Findes, com 1.800 alunos diários. Haverá também um museu moderno e restaurante panorâmico com a Vale.

Essas ações reacendem o orgulho e o movimento no Centro de Vitória. A revitalização já começou e deve gerar um ciclo virtuoso de negócios.

Como os operadores logísticos veem o ES hoje?

Eles percebem a transformação em andamento. O porto está modernizado e eficiente. Dobrou a capacidade de navios e reduziu o tempo de descarga. Projetos ferroviários e novas áreas de armazenagem reforçam essa visão positiva.

E quanto ao retorno dos cruzeiros de passageiros?

A escala regular antiga não é mais possível pelos tamanhos dos navios. Porém, trabalhamos com o governo em novas alternativas. A Ilha do Boi e o Iate Clube são opções em estudo. Barra do Riacho também pode receber navios no futuro, com infraestrutura adequada.

O que falta para Vila Velha ser mais conectada ao porto?

Hoje, 95% da movimentação da Vports ocorre em Vila Velha. A integração com retroáreas é essencial para fluidez e competitividade. Com o crescimento, surgem novas oportunidades para empresários locais. Estamos discutindo com o prefeito e o setor produtivo formas de expandir.

Quais são os próximos passos da Vports?

Cada porto tem sua vocação. Vitória e Vila Velha buscam produtividade e novas parcerias. Barra do Riacho é foco de desenvolvimento e licenciamento. Queremos consolidar o Norte como grande hub logístico nacional.

Onde a Vports quer chegar?

O limite é o tamanho do nosso sonho. Já conectamos o Espírito Santo ao Centro-Oeste pela ferrovia. Seguimos construindo iniciativas que reforçam o Estado como grande player logístico do Brasil.

Gustavo Serrão é CEO da Vports
Edu Kopernick

Editor de Economia

Edu Kopernick é jornalista formado na Faesa, especialista em Comunicação Organizacional pela Gama Filho, com experiência em reportagens especiais para veículos nacionais e séries sobre economia do Espírito Santo. Já teve passagens pelos principais veículos de TV, rádio e webjornalismo do Estado. É editor de Economia do Folha Vitória desde 2024, apresentador de TV e host do videocast ValorES.

Edu Kopernick é jornalista formado na Faesa, especialista em Comunicação Organizacional pela Gama Filho, com experiência em reportagens especiais para veículos nacionais e séries sobre economia do Espírito Santo. Já teve passagens pelos principais veículos de TV, rádio e webjornalismo do Estado. É editor de Economia do Folha Vitória desde 2024, apresentador de TV e host do videocast ValorES.