Entrevista do ValorES

Pablo Pacheco: "O Vital é o evento de entretenimento que mais movimenta a economia do ES"

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O clima de folia invade a capital do Estado e promete gerar negócios. è a expectativa sobre o Vital, que já foi um dos maiores carnavais fora de época do Brasil e agora tenta retomar o protagonismo. A edição de 2024 celebrou 30 anos do evento e movimentou mais de R$ 50 milhões na economia local. O Vital atraiu mais ou menos 45 mil pessoas e gerou aproximadamente 4.600 postos de trabalho diretos e indiretos. A rede hoteleira de Vitória registrou taxa de ocupação de 79,2% durante o período da micareta.

Nessa esteira, bares, restaurantes e pontos turísticos tiveram um aumento de demanda. Motoristas de aplicativo, por exemplo, táxis e outros serviços de transporte também foram muito utilizados. Não há uma estatística exata sobre isso, porém a movimentação é percebida na cidade. Assim como em salões de beleza, em costureiras para customização de abadás e também em segurança. 

O empresário Pablo Pacheco é organizador do Vital e começou lá atrás, no embrião de tudo, na Lavagem do Triângulo, em 1994. Depois disso, o Carnaval fora de época moveu verdadeiras multidões pela Avenida Dante Michelini.

Algumas edições tiveram mais de 500 mil pessoas circulando pelo Vital. Depois a festa teve uma pausa de 16 anos e voltou em 2022. Nesse sentido, foi para o Sambão do Povo, onde está até hoje e começa a tomar mais corpo. 

Veja abaixo a entrevista com Pablo Pacheco, organizador do Vital

Como está a construção da marca Vital?

O nome sempre se manteve forte, muito pelo lado da nostalgia das pessoas que puderam participar. O Vital começou em 1994, foi até 2006, então ele teve uma longa história. Isso gerou casamentos, filhos bem como muita memória afetiva do público.

Também há as pessoas mais jovens que só ouviram falar do Vital, que escutaram seus pais, seus tios, seus irmãos mais velhos contando como a festa era boa. Essas pessoas tinham curiosidade. O nome Vital sempre foi forte nesses dois espectros: de quem conheceu a festa e quem sonhava em conhecer.

Havia muitos pedidos pela volta do evento. Tanto que o plano original era o retorno em 2020, no entanto tivemos que postergar por conta da pandemia da covid. Em 2022, quando voltamos, a repercussão foi muito forte. Nesse sentido, a procura por ingressos superou nossa expectativa.

Como é que foi a decisão de voltar com o Vital?

Ela foi amadurecendo muito em função dos pedidos. Nós tínhamos também a vontade de voltar porque, como organizadores, conhecíamos todo o potencial da festa. Tanto econômico quanto do ponto de vista do entretenimento. Era uma festa alegre, divertida, que trazia pessoas de outros estados e até países a Vitória e ao Espírito Santo.

O número de pedidos só aumentava com o tempo. Quanto mais distante da data em que o evento parou, mais as pessoas pediam. Essa demanda reprimida impulsionou a volta do Vital. Nos estudos, identificamos que o Sambódromo era o espaço mais adequado dentro de Vitória para receber o evento.

Qual é o retorno financeiro?

Tem um impacto direto na cadeia de produção do setor de eventos e entretenimento. O Vital é o evento de entretenimento que mais movimenta a economia do ES.

Estrutura, equipamentos de som, luz, LED, efeitos especiais, mão de obra de segurança, limpeza, brigadistas, equipes de barman, bem como caixas. Toda a cadeia se movimenta. Também há cenografia, comunicação visual e ainda distribuição de bebidas. A montagem começa 30 dias antes e se intensifica na reta final, com muita gente trabalhando ao mesmo tempo.

Fora do Sambão, há movimentação em turismo, hospedagem, bares, restaurantes, bem como comércio. Em 2024, turistas vieram de todos os estados do Brasil e até do exterior. Além disso, há um ganho de mídia espontânea enorme: cada visitante compartilha experiências em Vitória e no Estado durante o evento, projetando a cidade nacionalmente.

Qual a principal diferença do “negócio Vital” dos anos 1990 para hoje?

O Vital sempre foi um grande festival de música em formato de Carnaval. Ou seja, com alegria e diversão como proposta. Nos anos 1990, um artista fazia sucesso seguindo a “receita do bolo”: tocar nas rádios, aparecer nos programas de TV e, às vezes, entrar em novelas. Todo mundo conhecia aquele artista. Hoje, com o streaming e o consumo digital, a música ficou segmentada.

O desafio do Vital foi se reinventar e ajustar-se a essa nova forma de consumo. Por isso, temos diferentes camarotes, cada um com proposta para um público específico. Ou seja, jovens universitários, fãs de pagode, público do axé, espaços mais inclusivos. Além disso, houve a mudança estrutural da ida para o Sambão, diferente do modelo de Camburi.

E como o ES se insere nesse mercado competitivo de turismo e eventos?

O turismo é chamado de “bola da vez”, mas ainda temos limitações. A Secretaria de Turismo tem orçamento pequeno. Do mesmo modo, o Estado se vende pouco. O Espírito Santo compete com grandes festivais em São Paulo, Rio de Janeiro, Nordeste e Sul. Outras regiões contam com incentivos fiscais para atrair patrocínios, mas aqui não temos esse suporte.

Para transformar o turismo em fonte de receita diante da reforma tributária, o Espírito Santo precisa priorizar o setor, identificar pontos fortes bem como criar condições para o empreendedor oferecer produtos que atraiam turistas. Temos localização estratégica, belezas naturais, mas é preciso mais estrutura e incentivo.

O que o Vital pode ensinar sobre turismo de eventos?

O Vital mostra que o turismo de entretenimento é uma mola propulsora no mundo inteiro. Eventos transformam destinos desconhecidos em pontos turísticos nacionais, como aconteceu em Milagres (AL) e Saquarema (RJ).

O Espírito Santo tem potencial em regiões como Itaúnas, Pedra Azul, Caparaó e todo o litoral. Muitas vezes, o evento é o melhor garoto-propaganda, impulsionado pelas redes sociais. Ele atrai desde jovens até pessoas de 50 ou 60 anos, que hoje têm poder aquisitivo, praticam esportes bem como buscam experiências culturais e musicais.

O bom momento econômico do ES?

Sim. O feedback de quem veio em 2024 mostra isso. Foram quase 4 mil pessoas de fora do estado no Vital. Elas perceberam cidades mais cuidadas, equipamentos públicos qualificados e investimentos em infraestrutura.

A experiência positiva começa no aeroporto, que melhorou muito, e se estende à hospedagem, à orla, aos restaurantes. Isso aumenta a chance de retorno do turista e o transforma em propagador do destino.

Porém é preciso que o governo do Estado crie programas de desenvolvimento econômico voltados ao turismo e ao entretenimento, gerando um ciclo virtuoso: mais turistas, melhor qualificação de serviços e mais receita.

E a mão de obra no setor?

É um problema real. O apagão começou ainda na pandemia, quando muitos profissionais migraram para outras áreas e não voltaram. Hoje temos dificuldade tanto em quantidade quanto em qualidade. É mais difícil encontrar pessoas preparadas.

Vencer esse desafio exige treinamento, esforço de substituição e também políticas públicas, porque virou uma questão cultural, com pessoas preferindo benefícios a empregos formais.

O poder público tem dado suporte suficiente?

Ainda não. O Estado precisa colocar o turismo como prioridade, com recursos, planejamento e visão moderna. Temos dificuldade de locais para eventos, de legislações municipais e de incentivos.

O projeto do Parque de Exposições de Carapina pode ser um avanço, mas precisa do Estado como indutor, já que a iniciativa privada sozinha não viabiliza equipamentos dessa magnitude. O impacto, no entanto, é enorme para a economia.

O Vital pode sair do Sambão e ir para Carapina?

Nós gostamos muito do Sambão. Ele é à beira da Baía de Vitória, com um pôr do sol maravilhoso e mantém a característica de rua do evento, com trios elétricos.

Acreditamos mais na revitalização do Sambão do que em migrar para o Parque de Exposições, que tem perfil mais voltado para festivais de palco.

Quantas pessoas o Vital deve receber em 2025?

A expectativa é de 40 a 50 mil pessoas nos dois dias.

E quanto vai faturar?

Esse número a gente não divulga. É importante esclarecer que os R$ 50 milhões citados não são faturamento do evento, mas sim movimentação econômica no entorno: bares, restaurantes, Uber, táxis, comércio, moda, beleza.

O impacto é pulverizado e mostra como o setor de eventos espalha renda pela economia, diferente de setores mais restritos.

Onde você quer chegar com o Vital?

Nosso objetivo é simples: fazer as pessoas felizes.

Quando voltamos em 2022, as fotos e vídeos só mostravam sorrisos. Essa felicidade atravessa gerações. Não colocamos prazo ou limite de crescimento. Enquanto o Vital fizer sentido para o público e continuar sendo desejo de quem já foi e de quem ainda quer ir, estaremos alcançando o objetivo.

Pablo Pacheco é empresário e organizador do Vital
Edu Kopernick

Editor de Economia

Edu Kopernick é jornalista formado na Faesa, especialista em Comunicação Organizacional pela Gama Filho, com experiência em reportagens especiais para veículos nacionais e séries sobre economia do Espírito Santo. Já teve passagens pelos principais veículos de TV, rádio e webjornalismo do Estado. É editor de Economia do Folha Vitória desde 2024, apresentador de TV e host do videocast ValorES.

Edu Kopernick é jornalista formado na Faesa, especialista em Comunicação Organizacional pela Gama Filho, com experiência em reportagens especiais para veículos nacionais e séries sobre economia do Espírito Santo. Já teve passagens pelos principais veículos de TV, rádio e webjornalismo do Estado. É editor de Economia do Folha Vitória desde 2024, apresentador de TV e host do videocast ValorES.