Entrevista do Valores

Ricardo Gesse: "O aeroporto apoia a vocação logística do ES com infraestrutura"

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Ricardo Gesse acredita que o Aeroporto de Vitória pode estar mais voltado para o dia a dia da cidade. Crédito: Reprodução de TV
Ricardo Gesse acredita que o Aeroporto de Vitória pode estar mais voltado para o dia a dia da cidade. Crédito: Reprodução de TV

De uma “rovoviária” capenga a um dos mais modernos aeroportos do país. Muita gente se lembra de como era e como foi o processo até chegar ao Aeroporto de Vitória que temos hoje. Atualmente, o terminal movimenta, em média, 50 voos e 7 mil pessoas diariamente. No ano passado, foram 3 milhões e 300 mil passageiros. Este ano, o movimento já aparece 10% acima do ano passado. A expectativa é de 3 milhões e meio de passageiros em 2025. 

As novas instalações permitem operações mais robustas, tanto de transporte de passageiros quanto de transporte de cargas. E, do mesmo modo, até recepção de aeronaves de outros países, que são importadas pelo Espírito Santo. Só para posicionar, o Espírito Santo é o maior importador de aeronaves do Brasil. Só no ano passado, mais de 400 aeronaves foram importadas aqui pelo estado. 

E ainda tem a área do aeroporto que abriga, atualmente, um home center, um atacarejo, vai ter escola já este ano e mais empreendimentos que virão pela frente. 

O CEO da Zurich Brasil, Ricardo Gesse, que comanda a concessionária que administra o aeroporto, é um executivo que defende o conceito de Aerotrópolis. Isso significa que, segundo ele, os aeroportos devem se transformar em grandes centros de serviços e negócios para as cidades.

Veja abaixo a entrevista com Ricardo Gesse:

Como você avalia o movimento de diversificação no Aeroporto de Vitória até agora?

Eu acredito que, entre os aeroportos no Brasil, o de Vitória é o mais bem posicionado para diversificação de receitas e movimentação econômica. Essa diversificação acontece principalmente por meio do desenvolvimento imobiliário. 

Hoje temos um aeroporto central dentro da cidade, algo raro, com uma área total de 5 milhões de metros quadrados e 1 milhão de metros quadrados destinados a desenvolvimento. Não vejo nenhum outro aeroporto tão bem posicionado quanto o nosso nesse aspecto.

Qual é o objetivo da Zurich com a diversificação?

Nosso objetivo está diretamente ligado à nossa missão: desenvolver pessoas, negócios e regiões onde atuamos, sempre com sustentabilidade. Queremos criar uma nova centralidade ao redor do aeroporto, com empreendimentos que gerem desenvolvimento regional. 

Do mesmo modo, isso não só traz receita para a Zurich, mas principalmente para os demais stakeholders. Ou seja, para empreendedores locais e para o governo, com a arrecadação de impostos. Já temos atacarejo, home center, casa de shows e a Escola Americana, que deve ser inaugurada ainda neste ano.

O que mais pode caber na área do aeroporto?

Cabe praticamente tudo que faz parte da vida da cidade. O espaço não é apenas da Zurich, mas de Vitória, do Espírito Santo e do Brasil. Temos uma concessão de 30 anos, até 2049, e depois devolvemos tudo ao governo federal. 

Realizamos um estudo para identificar potenciais econômicos e vocações de cada área. Por exemplo, na Fernando Ferrari, onde já havia o Leroy Merlin, identificamos vocação para o varejo, o que atraiu o Assaí e outros empreendimentos. Outras áreas têm vocações diferentes: serviços, educação, entretenimento.

O que já está em construção ou em fase de implantação?

Temos a Escola Americana e uma nova igreja que também contará com uma escola. Além disso, há outros empreendimentos em negociação com a prefeitura. Eles ainda estão em fase de licenciamento, então não posso divulgar detalhes, mas existe uma gama ampla em análise. 

O processo é de longo prazo, típico do desenvolvimento imobiliário. A Escola Americana, por exemplo, foi contratada em 2021 e só abrirá em 2026.

Quantos empreendimentos a área deve comportar no total?

Falamos em mais de oito empreendimentos além dos que já estão em andamento.

O aeroporto de Vitória movimentou mais de 700 mil passageiros no primeiro trimestre, alta de 10% sobre 2024. Como esse crescimento impacta o negócio?

Esse é um movimento positivo. Demoramos um pouco para retomar os níveis pré-pandemia, porque nosso tráfego é mais voltado a negócios. Tivemos ainda a suspensão de voos para o Santos Dumont, o que atrasou a recuperação. 

Em 2025 devemos atingir 3,5 milhões de passageiros, número maior do que no período pré-pandemia. Nosso limite é de 8,4 milhões ao ano, mas já trabalhamos com projeções de 5 a 6 milhões no médio prazo. 

Esse crescimento vem de forma orgânica, com incentivos e novas rotas, como o voo da Latam para Brasília, que amplia a conectividade.

Qual a importância desse crescimento para a Zurich?

O passageiro é o que mais faz diferença para o nosso negócio. A tarifa de embarque, em torno de R$ 50, é nossa principal fonte de remuneração, além do consumo em lojas e restaurantes. 

Uma loja no terminal gera mais receita que dois ou três empreendimentos de real estate. O desenvolvimento imobiliário é complementar, mas o core business é a aviação. Cada passageiro adicional significa receita adicional.

Como o aeroporto se insere no contexto logístico do ES?

O Espírito Santo vive uma realidade logística estratégica, com portos, ZPE e incentivos fiscais.

O aeroporto apoia a vocação logística do ES com infraestrutura. Para importação e exportação. Recebemos mais de 300 aeronaves importadas por ano. Reformamos hangares e criamos posições para aeronaves, como no caso da Azul e do Mercado Livre. 

Também prospectamos novos voos, como o da Avianca, que exporta produtos capixabas como mamão papaia e gengibre.

Há expectativa de internacionalização de tripulações no aeroporto. Em que ponto está esse processo?

Estamos em fase de autorização com Receita Federal, Polícia Federal, MAPA e Anvisa. Existe um hangar específico para isso e o empreendedor responsável está fazendo as adequações. 

O processo é cuidadoso, porque envolve transformar um espaço em área de internacionalização de pessoas e tripulações. Não é burocracia excessiva, é segurança. Acreditamos que será aprovado em breve.

Como você avalia o ambiente de negócios no ES?

Avalio de forma positiva. O Estado tem uma sociedade civil organizada atuante, entidades como Espírito Santo em Ação e Apex, além de governos sérios e abertos ao diálogo. Para nós, que temos um contrato de 30 anos, é fundamental ter essa parceria de longo prazo.

Quais são os desafios e oportunidades hoje no Estado?

O principal desafio é a reforma tributária de 2032, que pode extinguir incentivos de ICMS para importação. Precisamos discutir como manter a força logística do Espírito Santo sem depender apenas de benefícios. 

Por outro lado, a grande oportunidade é o turismo. Temos um produto de qualidade, mas pouco explorado. Investir em promoção nacional e internacional pode gerar um efeito catalítico: mais turistas, mais voos, mais renda e mais desenvolvimento.

O Aeroporto de Vitória pode receber voos internacionais voltados ao turismo?

Sim, com pequenas adequações. O desafio não é infraestrutura, mas sim a estratégia das companhias aéreas. Hoje elas concentram operações em hubs como Guarulhos, Brasília e Galeão. 

A tendência é primeiro fortalecer rotas nacionais e, com o crescimento da demanda, viabilizar voos internacionais.

Onde a Zurich quer chegar com o Aeroporto de Vitória?

Meu sonho é que, daqui a 10 anos, possamos ver uma nova centralidade criada a partir do aeroporto, com empreendimentos diversos, malha aérea robusta, destinos nacionais ampliados e voos internacionais operando. Queremos também expandir o transporte de cargas e consolidar a relevância logística do Estado.

E em relação à sustentabilidade? Quais ações estão em prática?

Esse é um pilar estratégico da Zurich. Investimos R$ 8 milhões em equipamentos que fornecem energia limpa para aeronaves em solo, reduzindo 3 mil toneladas de carbono por ano. O Aeroporto de Vitória é lixo zero, com 99% dos rejeitos desviados de aterros. 

Plantamos 16 mil mudas na Curva da Jurema e doamos área para a obra do Mergulhão de Camburi. São exemplos de nossa responsabilidade ambiental e social em parceria com o Estado.

Ricardo Gesse é CEO da Zurich Airports, que administra o Aeroporto de Vitória
Edu Kopernick

Editor de Economia

Edu Kopernick é jornalista formado na Faesa, especialista em Comunicação Organizacional pela Gama Filho, com experiência em reportagens especiais para veículos nacionais e séries sobre economia do Espírito Santo. Já teve passagens pelos principais veículos de TV, rádio e webjornalismo do Estado. É editor de Economia do Folha Vitória desde 2024, apresentador de TV e host do videocast ValorES.

Edu Kopernick é jornalista formado na Faesa, especialista em Comunicação Organizacional pela Gama Filho, com experiência em reportagens especiais para veículos nacionais e séries sobre economia do Espírito Santo. Já teve passagens pelos principais veículos de TV, rádio e webjornalismo do Estado. É editor de Economia do Folha Vitória desde 2024, apresentador de TV e host do videocast ValorES.