A BR-101 no Estado tem aproximadamente 462 quilômetros e passa por 25 municípios. O fluxo de veículos bate os 2 milhões por mês, especialmente na Serra, Itapemirim, Aracruz e Guarapari. A maior parte da rodovia ainda não é duplicada, o que, de certa forma, trava a economia do estado. A BR-101 é vital para o desenvolvimento do Espírito Santo e também do Brasil.
Ela facilita o escoamento da produção industrial e agrícola para outras regiões, além de conectar importantes portos e centros de distribuição. O trecho capixaba da BR-101 foi concedido à iniciativa privada pela primeira vez em 2013, mas a empresa vencedora da licitação, a Eco101, alegou dificuldades econômicas e operacionais, levando a um impasse.
Em 2022, a empresa chegou a protocolar um pedido de devolução do contrato. Para evitar a suspensão dos serviços e investimentos, começou um processo de negociação.
Como resultado, o governo federal bateu o martelo no leilão de otimização em 26 de junho deste ano. E quem assumiu a nova concessão é o grupo Ecovias. A Eco101 não existe mais e agora quem comanda a BR é a Ecovias Capixaba.
E quem comanda a nova concessionária é Roberto Amorim. O diretor superintendente da Ecovias Capixaba é graduado em Engenharia Civil e pós-graduado em Finanças e Controladoria. Tem uma carreira construída em Planejamento Financeiro e Gestão de Assuntos Regulatórios em empresas de grande porte e diferentes segmentos.
Veja abaixo a entrevista com Roberto Amorim:
O investimento na BR-101 é o segundo maior do ES para os próximos 5 anos. Como será aplicado?
São R$ 10 bilhões para essa nova etapa do projeto. Desses, R$ 2 bilhões serão realizados nos próximos três anos, após a assinatura do aditivo, que ocorreu em agosto. Teremos a duplicação e ampliação do trevo de João Neiva até o trevo de Safra, em Cachoeiro de Itapemirim.
Estamos falando de aproximadamente 215 quilômetros duplicados nesse período, o que representa metade da rodovia.
Além da duplicação, quais melhorias estão previstas?
Também faremos investimentos em segurança viária. Estamos falando de 40 passarelas, terceiras faixas, e dois postos de parada para caminhoneiros, com estacionamento seguro, banheiros, lavanderia e restaurante, já incluídos na tarifa de pedágio.
Além disso, construiremos dois contornos urbanos em Ibiraçu e Fundão, retirando o tráfego pesado das cidades.
Essas obras realmente serão concluídas em três anos?
Exatamente. São 84 quilômetros de duplicação, além de 12 quilômetros de contornos em Ibiraçu e Fundão.
E em quanto tempo a duplicação completa da BR-101 será entregue?
O programa de duplicação vai da divisa do Rio até Linhares. Após o contorno de Linhares, está prevista a duplicação. Do mesmo modo, acima de Linhares, num primeiro momento, faremos 41 quilômetros de terceiras faixas, até encontrarmos solução para o desafio ambiental de Sooretama.
Qual é esse desafio?
É o licenciamento na reserva ambiental.
Precisamos equilibrar desenvolvimento e meio ambiente. Não adianta duplicar e aumentar o atropelamento de fauna.
Nesse sentido, queremos trazer o que há de mais moderno em equilíbrio ambiental, social e de desenvolvimento.
Quais são os pontos mais críticos para a obra além do licenciamento?
O Estado tem características geológicas peculiares: trechos de rocha e de solo mole. Esses desafios estão previstos nos projetos. Ou seja, incorporamos aprendizados da primeira etapa e as demandas trazidas em audiências públicas.
Haverá tarifas diferentes conforme a duplicação avança?
Sim. Teremos tarifa distinta para trechos duplicados e não duplicados. Do mesmo modo, isso equilibra o contrato e torna o pagamento mais justo para a sociedade.
Qual é o impacto da duplicação para as empresas que usam a rodovia?
A duplicação influencia diretamente os custos. No Norte, os municípios crescem rápido e a rodovia não pode ser entrave. No Sul, o papel é levar desenvolvimento.
O contrato prevê alguma forma de antecipar obras?
Sim. Se anteciparmos obras, há benefício tarifário. Porém é preciso alinhar prazos com licenciamento ambiental e projetos executivos bem feitos.
A duplicação pode atrair novos negócios e empresas para os municípios cortados pela BR-101?
Sem dúvida. A infraestrutura não pode limitar o crescimento. Nesse sentido, estamos acelerando obras para garantir condições adequadas ao desenvolvimento econômico e social.
O governo anunciou o ParkLogBR/ES em Aracruz. Como será a interação com a BR-101?
Os investimentos do governo complementam a logística do Norte. Temos parceria técnica com a Secretaria de Infraestrutura para alinhar os projetos.
Como você avalia o momento da logística no ES?
A vocação logística é inegável. O Estado cresce acima da média nacional, o que exige infraestrutura adequada. Precisamos equilibrar rodovias, ferrovias e portos para reduzir custos.
A concessão da BR-101 impacta a arrecadação dos municípios?
Sim. A receita vem do pedágio e do ISS. Já repassamos cerca de R$ 90 milhões até agora. Durante as obras, teremos de 3 a 4 mil colaboradores diretos e indiretos ao ano, gerando emprego em todas as regiões.
Como a Ecovias Capixaba pode ajudar empresas que dependem da BR-101?
A principal lição que tivemos no processo de obras foi discutir projetos antes de iniciar. Assim, evitamos atrasos e custos adicionais. Do mesmo modo priorizamos obras noturnas para reduzir os impactos no tráfego.
Sobre o turismo, qual o papel da BR-101 duplicada?
Após a pandemia, observamos crescimento das viagens de carro. Nesse sentido, já temos 12 bases de apoio com banheiros, água e 8 com carregadores para veículos elétricos. Do mesmo modo, até o ano que vem, teremos carregadores em todas as 12 bases. E o motorista não precisa pagar para recarregar.
A instalação de pontos de recarga é estratégico, já que pretendemos operar, no futuro, com carros guinchos elétricos em toda a BR-101.
Há projetos específicos para fomentar o turismo?
Não temos investimentos exclusivos para turismo, mas apoiamos a divulgação dos municípios e belezas naturais. Porém, nossas bases oferecem totens com informações turísticas e apoio operacional.
A ES Gás estuda um corredor verde de gás natural. Qual será o papel da Ecovias?
Apoiamos empresas que precisam usar a faixa de domínio. Fazemos o meio de campo para agilizar aprovações na ANTT e estamos abertos a parcerias.
As tarifas dos EUA podem impactar a BR-101?
Sim, há impacto, principalmente no fluxo da movimentação das cargas de café, rochas e celulose. No entanto, acreditamos que, em até um ano, o mercado se reorganize.
A BR-101 será uma rodovia tecnológica?
Já implantamos a balança que pesa caminhões em movimento. Em breve, até 85% dos caminhões serão liberados sem parar. Também estudamos free flow, guinchos elétricos e outras tecnologias disruptivas.
Como você avalia o ambiente institucional no ES?
Evoluímos muito. O novo contrato foi construído a muitas mãos, com Tribunal de Contas da União, Ministério de Transportes e ANTT. Hoje temos um dos contratos mais modernos do país.
Onde a Ecovias Capixaba estará em cinco anos?
Estaremos com quase todo o programa de duplicação executado até Linhares e avançados na solução de Sooretama.
Queremos ser referência em equilíbrio entre desenvolvimento e meio ambiente, sempre prontos para incorporar novos investimentos.