O Espírito Santo se tornou uma menina dos olhos, não só da Região Sudeste, mas de todo o Brasil, na captação de empresas e geração de negócios. Muito graças a incentivos fiscais que favorecem a instalação de empresas, principalmente voltadas ao comércio exterior. O Norte capixaba tem ainda o benefício da Sudene, que isenta impostos de quem quer empreender por aqui. Mas ainda falta algo.
Com um horizonte de reforma tributária pela frente, o ES tem que correr para compensar as perdas futuras de arrecadação. E para o governo, a saída é melhorar infraestrutura e captar mais empresas. Nesse contexto, está a nomeação de Rogério Salume ao cargo de secretário de Estado de Desenvolvimento.
Formado em Jornalismo, mas com a vocação para vendas, Salume iniciou sua carreira no setor comercial. Sua ascensão no mundo dos negócios veio com a fundação da Wine, o maior e-commerce de vinhos da América Latina e o maior clube de assinatura de vinhos do mundo. Ele liderou a empresa até 2018. Nesse sentido, consolidou sua reputação como um empreendedor capaz de criar e escalar negócios de sucesso.
Em maio de 2025, Salume foi anunciado como o primeiro presidente da recém-criada agência capixaba de atração de investimentos, o Invest-ES. A missão era clara: utilizar sua experiência no setor privado para posicionar o Espírito Santo como um polo atrativo para novos negócios.
Veja abaixo a entrevista com Rogério Salume:
Por que você resolveu deixar o setor privado e empreender agora no setor público?
Eu acho que você usou a palavra certa que está defininda a minha decisão. Eu resolvi empreender, continuar empreendendo. É o meu DNA, só que nos próximos meses ou nos próximos anos, na iniciativa pública.
A gente que sempre esteve do lado da liderança de empresas, do setor produtivo, muitas vezes olha para o setor público com certa desconfiança, criticando, mas nunca indo lá para entender o fazer. Estou num momento da minha vida em que tive um sucesso muito grande com a Wine, nossa empresa capixaba que se tornou o maior clube de vinhos do mundo e uma das maiores empresas de e-commerce de vinhos.
Depois da venda, em fevereiro de 2024, fiquei estudando e organizando minha vida. Então recebi o convite do governador Renato Casagrande para assumir o Invest-ES, uma agência de atração de investimentos que tem como objetivo divulgar e vender o Espírito Santo para o mundo.
No meio do caminho, com a saída do antigo secretário de Desenvolvimento, Sérgio Vidigal, o governador e o vice Ricardo Ferraço me convidaram a assumir a secretaria. Aceitei com muita honra e estou dedicando minha energia, conhecimento e conexões a todos os capixabas.
Quais são as possibilidades de atração de investimentos para o ES hoje?
O Espírito Santo está completamente preparado para atrair qualquer tipo de empresa, mas precisamos de foco. Primeiro vamos olhar para dentro, desenvolver as que já estão aqui e o ecossistema em volta delas. Em seguida, buscamos atrair empresas nos pilares de infraestrutura, turismo, tecnologia, inovação, biotecnologia e serviços de alta complexidade.
Não quer dizer que estamos fechados a outros setores, mas precisamos de foco para manter o arranjo organizado. Todos nós, no Invest-ES e na Secretaria, somos vendedores, e temos o melhor produto do momento: o Espírito Santo. Um Estado preparado, organizado, AAA, sem dívidas e com fundo soberano.
O que o Espírito Santo tem a oferecer para atrair empresas?
Temos um Estado organizado fiscal e financeiramente. Há 13 anos o Espírito Santo tem nota A, a máxima na análise fiscal das instituições federais. O Estado tem capacidade de quitar todas as suas dívidas futuras em até 48 horas, tamanha a solidez do caixa.
Além disso, somos o único Estado com fundo soberano, que investe em tecnologia, inovação e empresas alinhadas com ESG. Lançamos o primeiro fundo de descarbonização do Brasil – e talvez do mundo. Também investimos em segurança, saúde, educação, rodovias, ferrovias e portos, como o Porto Central, no Sul, que será o maior porto do Brasil quando concluído.
Como o ES pode enfrentar os riscos da reforma tributária?
Esse é um grande debate e também um receio real das empresas. Hoje temos incentivos fiscais legalizados e seguros, porém eles vão acabar em oito anos.
Por isso precisamos fortalecer os pilares sociais – saúde, educação, infraestrutura, segurança – e manter a qualidade do ambiente de negócios. Empresas decidem se instalar onde existe qualidade de vida, mobilidade, mão de obra qualificada e relações público-privadas saudáveis. Isso vai ser nosso diferencial quando os incentivos fiscais acabarem.
O turismo pode ser um pilar de desenvolvimento para o Estado?
Sim. O governador Casagrande já determinou que o turismo seja prioridade. Queremos atrair redes de resorts, criar espaços para grandes eventos e profissionalizar o setor com capacitação.
Por que o ES ainda tem pouca projeção nacional e internacional?
Historicamente os capixabas não divulgaram seu Estado. Hoje isso mudou: temos orgulho de falar do Espírito Santo. Agora é hora de divulgar em grande escala. Queremos que, ao desembarcar em qualquer aeroporto do Brasil, as pessoas encontrem um painel: “Visite o Espírito Santo”. Vamos investir em feiras, redes sociais e campanhas nacionais e internacionais.
Como equilibrar o desenvolvimento entre o Norte, beneficiado pela Sudene, e o Sul do ES?
De fato existe um desequilíbrio. O Norte, com apoio da Sudene, já atrai grandes investimentos. No Sul, precisamos potencializar a indústria da rocha, o agronegócio, o turismo de Guarapari até a divisa com o Rio e, principalmente, o Porto Central. Quando totalmente implementado, será o maior porto do Brasil e trará equilíbrio às regiões.
O Estado pode se transformar em um polo de tecnologia?
Não só acredito como isso já está acontecendo. Grandes empresas de tecnologia já operam daqui para o mundo, como a Tata. Temos base de infraestrutura, fibra ótica e capital humano. Precisamos continuar investindo.
Que tipo de empresa é prioridade?
Empresas que agreguem valor aos seus produtos. Em vez de exportar apenas café em grão, podemos exportar cápsulas, café solúvel, embalado. Isso gera empregos mais qualificados e aumenta a renda média da população.
O relacionamento é um diferencial competitivo no Espírito Santo?
Sem dúvida. Aqui, duas mensagens e você chega a quem precisa. Essa agilidade nas conexões é um fator de sucesso e acelera decisões e soluções.
Você disse que seu trabalho será muito fora do Estado. Como será essa estratégia?
A Secretaria de Desenvolvimento é uma secretaria de negócios. Vamos equilibrar a gestão em todos os 78 municípios e, ao mesmo tempo, vender o Espírito Santo no Brasil e no mundo.
Eu e meu time somos vendedores. Vamos bater na porta de investidores e mostrar que o Espírito Santo é o melhor lugar para viver e empreender.
Qual o legado que você quer deixar?
Quero deixar a certeza de que o futuro chegou. Sempre ouvimos que o Espírito Santo é o estado do futuro. Eu quero que, ao final da minha gestão, possamos dizer: “O futuro é agora”. Estamos vivendo o que sonhamos – desenvolvimento tecnológico, industrial, social. O Espírito Santo é hoje o melhor lugar para morar e empreender.