Rio –
Enquanto os Estados Unidos irão trazer 561 atletas para o Rio, o Afeganistão terá apenas três. Ainda sob intervenção de mais de 8 mil soldados norte-americanos, o país do Oriente Médio vive uma crise esportiva. Depois de ganhar medalha tanto nos Jogos de Pequim quanto no de Londres, não conseguiu classificar ninguém para a Olimpíada no Brasil. Seus únicos representantes foram convidados.
“Em Londres foram quatro atletas, mas infelizmente, depois da eleição do Afeganistão, os problemas cresceram. As pessoas do governo não têm experiência com esportes e isso de alguma forma interfere. Nos últimos dois anos não tivemos uma boa situação no nosso esporte”, lamenta Ghulam Rabani Rabani, chefe da missão.
Como técnico e presidente da confederação de tae kwon do do Afeganistão, ele ajudou a formar Rohullah Nikpai, bronze nas últimas duas Olimpíadas. Após passar parte da adolescência em um campo de refugiados no Irã, Nikpai voltou a Cabul em 2004 e, com a medalha obtida quatro anos depois, tornou-se um ídolo nacional.
Mas, pelo que reclama Rabani, o presidente Ashraf Ghani Ahmadzai, eleito em 2014 em meio a denúncias de fraude eleitoral, não tem conseguido dialogar com o comitê olímpico e as federações esportivas nacionais. “Assim a gente não consegue promover os melhores atletas. A gente tem que classificar atletas. No tae kwon do classificamos dois atletas a Londres, mas dessa vez os problemas internos não deixaram.”
Por enquanto, apenas dois atletas afegãos circulam pela Vila dos Atletas: Abdul Wahab Zahiri, de 24 anos, e Kamia Yousufi, de 20, ambos corredores de 100m. Os dois ficaram com dois dos convites dados pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) a países sem grande tradição no esporte.
Ela venceu o campeonato nacional – que, segundo Rabani, não teve muitas atletas -, e foi selecionada para vir ao Rio. “Por causa da situação do Afeganistão, muitas as mulheres são barradas de entrar no esporte. Infelizmente, temos problemas de segurança, problemas culturais que não nos permitem ter mais atletas.”
Há três edições dos Jogos o COI distribui convites para afegãs nos 100m e nenhuma delas nunca correu abaixo de 14 segundos – uma eternidade em uma prova em que a medalha é disputada na casa de 10s. Yousufi até fala em chegar à semifinal, mas o sonho é bastante improvável.
Aos 20 anos, ela circulava pela Vila, na sexta, com hijab – o véu muçulmano – que faz referência à bandeira afegã, em preto, vermelho e verde. Ao seu lado, passavam atletas neozelandesas com shorts na metade da coxa. Ainda que não fale uma palavra em inglês – até o “muito obrigado” precisa ser traduzido -, parecia se divertir com os dois voluntários que acompanhavam o trio.