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Após extinguir expulsão em categorias menores, FPF fica em alerta com violência

Após extinguir expulsão em categorias menores, FPF fica em alerta com violência Após extinguir expulsão em categorias menores, FPF fica em alerta com violência Após extinguir expulsão em categorias menores, FPF fica em alerta com violência Após extinguir expulsão em categorias menores, FPF fica em alerta com violência

São Paulo – Os torneios das categorias sub-15 e inferiores organizados pela Federação Paulista de Futebol (FPF) não têm cartões vermelhos. A ideia da entidade é dar um caráter pedagógico para as jogadas mais violentas, mas sem expulsar nenhum garoto das partidas. Contudo, treinadores e dirigentes de algumas equipes transformaram a decisão em uma manobra no mínimo controversa – a ordem é chegar mais forte nas divididas e distribuir pancadas nos adversários para, na teoria, ter a vida facilitada nos jogos.

A reportagem do Estado conversou com pais de atletas (leia mais ao lado), treinadores e a Federação Paulista de Futebol e apurou que alguns clubes têm adotado a tática de agredir adversários, principalmente os melhores, para tirar vantagem da regra determinada pelo Código Brasileiro de Justiça Desportiva. “Os menores de quatorze anos são considerados desportivamente inimputáveis, ficando sujeitos à orientação de caráter pedagógico”, diz o CBJD.

Um atleta que comete uma falta mais dura e já tem cartão amarelo, é substituído e não pode atuar na próxima partida. Como o time não chega a ficar com um jogador a menos, alguns treinadores pedem para chegar mais forte nos adversários, pois já têm reservas prontos para substituir o garoto que cometeu a infração. Na súmula, os árbitros colocam que os atletas expulsos foram substituídos disciplinarmente.

“Sabemos desse problema e existe uma preocupação com isso”, admite o ex-volante Mauro Silva, tetracampeão mundial com a seleção brasileira em 1994 e hoje vice-presidente do Departamento de Integração com Atletas da FPF. Para mudar ou amenizar isso, a entidade que administra o futebol brasileiro foca nos técnicos e não nos garotos.

A partir de 2019, para dirigir um time de base, o profissional será obrigado a ter pelo menos a licença B (para técnico de divisões inferiores) do curso organizado pela CBF. Atualmente, não existe nenhum pré-requisito para alguém ser treinador de garotos. A entidade ainda criará um curso para executivo de futebol especializado nas categorias de base.

“Meninos são reflexos do clube e de quem o treina. O problema é o treinador e não o menino. A gente vive em um país em que só quem ganha é bom e muitos times adotam a tática do ‘vale tudo’ para vencer”, lamenta Rafael Paiva, técnico do time sub-15 do São Paulo. “A gente tem que saber orientar e entender que, nessa idade, ainda estão moldando o caráter e o perfil e que muitas vezes, a postura agressiva vem de casa. Temos que saber administrar isso”, completou o comandante tricolor.

A ausência do cartão vermelho é visto como algo positivo por boa parte dos técnicos, pois acreditam que deixar o time com um a menos não ajudará em nada o desenvolvimento do jovem atleta. “Acaba expondo o jogador e compromete a formação tática”, explica Rogério Ferreira, do sub-13 do Palmeiras. “Os meninos têm inocência e sentem muito quando precisam ser substituídos e não podem jogar depois”, completou.

Ferreira assegura que nunca pediu para seus atletas agredirem alguém e que também não chegou a sentir isso dos adversários, mas percebeu outros problemas. “Acontece de times simulando lesões para ganhar tempo. Mas nunca uma situação de buscar a violência como uma carta na manga.”

A questão disciplinar é algo bastante destacado pela FPF. “Queremos mais jogadores como o Rodrigo Caio no futebol. Cobramos ética de políticos, mas a gente não é ético na nossa profissão? Temos que melhorar isso”, ressalta Mauro Silva, lembrando a jogada em que o zagueiro do São Paulo disse ao árbitro, durante clássico com o Corinthians, que o atacante Jô não cometeu a falta que lhe causaria um cartão amarelo e, consequentemente, deixaria o corintiano fora da próxima partida.

PROFISSIONALISMO – O ex-zagueiro Célio Silva, que comanda o sub-13 do Corinthians, acredita que exista uma superproteção em cima dos meninos. “Daqui a pouco o garoto vai estar no time de cima, vai levar cartão vermelho e vai chorar. Acho que a punição tem que existir desde cedo”, opina o ex-jogador.

Célio diz que se considera “pré-histórico”, por isso tem opiniões mais fortes que alguns de seus companheiros. “O menino vai ficar triste com um cartão? Não é problema meu, é do pai. Não somos uma escolinha de futebol, a gente tem que ter profissionalismo. Eu preparo o menino para o time de cima. Lá, o árbitro te dá cartão e ainda te enfrenta”, destacou.

O ex-zagueiro garante que não manda seus meninos bater, mas entende quando algum deles passa do ponto. “Não quero ignorância, mas são seres humanos e de vez em quando acabam sentando o pé mesmo. Acontece. Futebol é esporte de contato e quando eles forem mais velhos, vão passar por coisa pior. Eles têm que saber lidar com tapa na cara, torcida gritando, falando que vai matar, e gente jogando saco de urina neles. E se o cara for bem, a torcida carrega nas costas. Caso contrário, vão virar o carro deles”, disse.

A decisão de não aplicar cartão vermelho é algo que tem sido usado pela Federação Paulista, mas não se repete em outros campeonatos. Em torneios nacionais e alguns estaduais (como no Rio de Janeiro e Minas Gerais) os meninos recebem o cartão. O mesmo vale para competições internacionais. Apesar da preocupação, a FPF não pensa, no momento, passar a usar o cartão para os mais jovens.