Quatro histórias inspiradoras de “Apaixonados pela Dez Milhas Garoto”

O Blog Corrida de Rua aproveita a emoção da expectativa para a maior prova de rua do Espírito Santo e resgata quatro histórias de “Apaixonados pela Dez Milhas Garoto” que são exemplos de inspiração, amor, superação, alegria e bom-humor.

Emocione-se com Daniel Gracie Pereira, o pai que em 2015 guiou o filho Isaac, de 8 anos, com paralisia cerebral, pelas ruas de Vitória e Vila Velha, e emocionou pelo exemplo de amor incondicional.

Inspire-se em Dona Maria Otília, a corredora que participou de 25 edições da Dez Milhas Garoto e começou a correr em uma época que não era tão comum a participação de mulheres em provas.

Sorria com Martonni Bomfim, que ao invés de vestir a camisa da prova, se fantasia para distribuir alegria e irreverência nas corridas realizadas no Espírito Santo. Correndo, o “Rei da Fantasia” tem o dom de transmitir felicidade e arrancar sorrisos.

Cante com Gilson Soares, o poeta, compositor e corredor, de 61 anos, que criou o bem-humorado “Samba da Panturrilha”, para superar uma lesão e encarar os 16km de Vitória a Vila Velha só no sapatinho.

Leia a história de cada um e emocione-se!


Daniel Gracie, ele corre guiando o amor!

 

Daniel-Gracie-e-filho-Isaac-Foto-Everton-Nunes6-1200x800

“O olhar dele para mim no final das corridas é como querendo dizer “é bom demais, pai”.

A foto que fala. E não precisa ser corredor para ouvir o que ela diz. Quem viu Daniel Gracie Pereira guiar o filho Isaac, de 8 anos, em um triciclo pelas ruas de Vitória e Vila Velha durante a edição 2015 da Dez Milhas Garoto, se emocionou com o exemplo de amor incondicional.

A imagem, captada pelo fotógrafo Everton Nunes, reflete uma história de superação. Do pai e do filho. Mineiro da cidade de Manhuaçu, o ex-atleta profissional se recuperou de sete cirurgias ao lado do enteado, que tem paralisia cerebral, hidrocefalia e epilepsia.

“Parei de correr profissionalmente quando fui submetido a uma cirurgia na coluna. Comecei a namorar a mãe do Isack e fazia caminhadas com ele durante a minha fase de recuperação. Eu percebia que ele ficava muito alegre enquanto eu empurrava a cadeira de rodas. Foi então que começamos a trotar e depois a correr”, conta Daniel.

Guiado pela esperança de melhora no quadro clínico de Isaac, Daniel intensificou os treinos com o filho nos finais de semana até encarar a primeira prova. “A equipe responsável pela fisioterapia e ecoterapia do Isaac percebeu uma grande melhora no tratamento dele após começarmos a correr. Foi então que começamos a treinar bastante nos finais de semanas e passei a levá-lo nas corridas”.

A primeira corrida de Isaac foi emocionante. “Ele ficou louco com a quantidade de gente! Ele balançava os bracinhos para o pessoal que passava e que assistia. O olhar dele para mim no final das corridas é como querendo dizer “é bom demais, pai”, emociona-se Daniel.

Daniel-Gracie-e-filho-Isaac-Foto-Everton-Nunes4Emoção da Dez Milhas Garoto em 2015
Em 2015, a participação dos mineiros na maior corrida de rua do Espírito Santo emocionou os corredores e espectadores capixabas. A ocasião foi a segunda participação de Daniel na prova e a 1º de Isaac. “Em 2014 concluí os 16km em 1h22 e em 2015, com Isaac, em 1h14. O percurso é excelente! A gente sofre muito para subir a Terceira Ponte, mas é lindo quando a gente chega no final dela. Sem dúvida, é a melhor prova que já participei até hoje por causa do calor humano ao longo do percurso”.

Bastante aplaudido por onde passava guiando o triciclo com Isaac, o corredor, como todo bom mineiro, brincou sobre a popularidade. “Eu fui até motivo de gozação, afinal, mineiro é bobo por natureza, né… Na Dez Milhas Garoto ouvi todo mundo gritando meu nome na torcida, aí cheguei em casa falando pra minha esposa: ‘engraçado que até em Vitoria o povo me conhece’. E ela disse: ‘não bobo, é porque seu nome estava escrito no número de peito’”, brincou.

A chegada emocionante de Daniel e Isaac foi registrada pelas lentes do fotógrafo do Folha Vitória, Everton Nunes. “Da arquibancada, o povo gritava o meu nome, batia palma e chorava. E eu chorei junto. E o Isaac se emociona bem mais do que eu e fica doido querendo expressar sua alegria”.


Maria Otília, a corredora que participou de 25 edições da Dez Milhas Garoto!

Dez-Milhas-Garoto-Maria-Otília-Corredora-que-participou-de-todas-as-edições-3

“Eu não me intimidava, corria entre os homens e o clima era de muita amizade”.

No dia 17 de setembro de 1989, a corredora Maria Otília Moraes de Barros era uma das poucas mulheres alinhadas na largada da “1ª Grande Corrida Rústica dos 60 anos da Chocolates Garoto”, que contou com a participação de 735 corredores. “A maioria era homem. Tinham poucas mulheres e, que eu me lembre, era só eu e mais duas amigas. Mas eu não me intimidava, corria entre os homens e o clima era de muita amizade”, relembra.

Dez-Milhas-Garoto-Maria-Otília-Corredora-que-participou-de-todas-as-edições-1

Vestindo uma camiseta amarela de algodão, com o slogan “60 anos com cara de Garoto”, dona Maria Otília, na época com 44 anos, largou para a 1ª edição da Dez Milhas Garoto, que já tinha o percurso de 16km, passando apenas por bairros de Vila Velha. A largada, como mostra o mapa guardado até hoje pela veterana, era da Fábrica da Chocolates Garoto, passando pelos bairros: Santa Inês, Ibes, Guadalajara, Jardim Colorado, Coqueiral de Itaparica, Itapoã, Praia da Costa, Centro, até a chegada na Glória.

Em 1991, na 3ª edição da Dez Milhas Garoto, Maria Otília estreou o novo percurso da prova passando pela primeira vez na Terceira Ponte, um marco na história da corrida. Em 1992, na 4ª edição da prova, subiu pela primeira vez ao pódio no 1º lugar na chamada “categoria G”. E foi premiada com troféus durante outras nove edições da corrida mais gostosa do Espírito Santo – a maioria nas categorias faixa etária – 45 a 49 anos; 50 a 54 anos, 55 a 59 anos, 60 a 64 anos e 65 a 69 anos. “Subi a pódio várias vezes. Esses são apenas alguns dos troféus que tenho guardado, mas até premiação em dinheiro eu recebi na Dez Milhas Garoto”, conta cheia de orgulho!

Além de ter participado de 25 edições da prova, Dona Maria Otília começou a correr em uma época que não era muito comum ver mulheres no asfalto aqui no Espírito Santo.

Dez-Milhas-Garoto-Maria-Otília-Corredora-que-participou-de-todas-as-edições-2Maria Otília encontrou na corrida uma opção para acompanhar a família de esportistas. O recém-falecido marido, José Maria de Barros, professor de Judô, e os filhos também se tornaram atletas representando o Espírito Santo no cenário nacional e internacional. Quando pergunto por que ela não seguiu as artes marciais, a corredora responde: “Correr é melhor!”

Em luto após a morte do marido e se recuperando de uma lesão na coluna, a veterana da maior corrida de rua do Espírito Santo, não estará alinhada na linha de largada da Dez Milhas Garoto na manhã do próximo domingo (18). “Estou me recuperando após a morte do meu marido e já “pendurei as minhas chuteiras nas corridas. Ano passado mesmo, fui só na Corrida Garotada”.

No ano passado, fiz uma visita à corredora, e em cima do tatame da família, ela estendeu as 17 camisetas da prova que ainda guarda com muito carinho. A da 1ª edição, considerada uma relíquia, teve uma parte destruída por traças e ela rapidamente improvisou um bordado em formato de flor. “Já recebi até proposta de amigos corredores para vendê-la! Mas eu falei para esquecerem. Nem pensar!”, brinca.

E é na academia, ao lado das conquistas dos filhos e do marido, que ela guarda os troféus e todas as suas medalhas das 25 edições da Dez Milhas Garoto. Algumas de plástico, outras com as gravações apagadas pelo tempo, mas cada uma representando uma vitória para Maria Otília. “Tenho o maior orgulho de dizer que estive em quase todas as edições da Dez Milhas Garoto e já incentivei muita gente a correr a prova”.

Sobre as mudanças ao longo dos 26 anos de corrida, Maria Otília é enfática: “O percurso ficou muito mais bonito e cheio de belezas, por que o nosso Estado cresceu. Sem falar no aumento do número de participantes e a amizade e o entrosamento que vemos entre os corredores no dia da prova”.


Martonni Bomfim, o Rei das Fantasias, distribui alegria!

Martonni Bomfim

“Eu sempre gostei de fazer as pessoas rirem, seja fazendo piada, entre os meus familiares ou no ambiente de trabalho”

O “Rei das Fantasias” é baiano e mora no Espírito Santo há sete anos. Mudou para a terrinha a trabalho e foi no asfalto capixaba que ele começou a correr para perder peso. “Estava com 20 quilos acima do meu peso e foi a opção que encontrei para emagrecer”, conta.

Ele chegou a participar de algumas provas à paisana, mas foi em 2012, na Corrida Pela Vida, em Vila Velha, que Martonni começou a incorporar os personagens e perceber que tinha o dom de transmitir alegria e arrancar sorrisos dos corredores. “Minha primeira fantasia foi de ‘Fred Mercury Prateado’, personagem do Programa Pânico que fazia muito sucesso na época. Foi muito divertido e eu comecei a perceber o quanto era prazeroso, pois levava alegria para as pessoas. Eu sempre gostei de fazer as pessoas rirem, seja fazendo piada, entre os meus familiares ou no ambiente de trabalho”, revela.

mona-criseDe lá pra cá, foram dezenas de fantasias, entre os personagens de destaque: Elvis Presley, Sílvio Santos, Papa Francisco, Minnie, Zorro, Super Mario e Penélope Charmosa. Em 2015, ele caprichou na criatividade do figurino “Mona Crise”. A Gioconda, interpretada pelo corredor durante a disputa da 26ª edição da Dez Milhas Garoto, não era nada sorridente. Sofrendo com a crise e com a ausência do “Bolsa-Corrida”, programa social fictício sugerido por corredores que precisam de ajuda para pagar as inscrições das provas, o personagem posava para as fotos “chorando”.

“A MonaCrise (foto), fantasia que usei na Dez Milhas Garoto 2015, foi a de maior repercussão até hoje. Fez muito sucesso! Eu saí pedindo alguns trocados para os corredores e, olha, comprovei que estamos mesmo em crise! Só arrecadei R$ 1,10 em moedas. Quase não deu para pagar o pedágio na volta da corrida”!, brinca Martonni.

Infelizmente, esse ano a Dez Milhas Garoto caiu na mesma data de uma viagem internacional, por isso, Martonni Bomfim, não vai participar dessa edição! “Infelizmente na manhã do dia 18 eu não poderei correr. Mas é por um bom motivo! Vou tirar férias e viajar para o Chile e pra Argentina com minha esposa. Fiquei muito sentido com esse conflito de datas…”.

Confira uma entrevista especial com Martonni e veja as dicas dele para correr fantasiado!

O que te leva a correr fantasiado?
Bom, nos dois primeiros anos, eu usava fantasias aleatórias sem conexões com a prova ou com o momento social e político do país. Agora, de um tempo pra cá, passei a escolher as fantasias como forma de protesto, para defender alguma causa ou homenagear alguma entidade.

Como você faz a escolha do personagem?
Eu analiso a quilometragem da prova e penso na mensagem de alegria que quero passar. Na verdade, o processo de escolha funciona como uma terapia para mim. Quando me vesti de Papa Francisco, por exemplo, a escolha foi por dois motivos: era a mesma época em que ele havia assumido o comando da Igreja Católica e a largada da corrida era na Praça do Papa, em Vitória. Eu fiz todo o percurso da corrida ouvindo cantos franciscanos. Quando corri de Zorro, fiquei uma semana assistindo o filme. Ou seja, também tem algo de artístico envolvido.

Depois de correr, você publica as fotos nas redes sociais e dedica a algumas pessoas. O tema da fantasia tem algo a ver com os homenageados?
Eu já escolho a fantasia pensando no homenageado. Hoje as pessoas têm certa dificuldade de elogiar as outras, mesmo aquelas importantes que passam por nossas vidas. É por isso que eu faço questão de homenagear não apenas os meus familiares, mas os amigos mais próximos ou do trabalho. Antes a homenagem era dedicada a uma só pessoa. Hoje eu faço questão de citar também algum grupo ou entidade.

De todas as que você vestiu, qual personagem é o mais parecido com o Martonni?
Eu diria que a Maria Bethânia. Não só porque eu sou baiano e porque eu sei imitá-la. (Martonni imita e canta por telefone: “Quem me chamou… Quem vai querer voltar pro ninho… E redescobrir seu lugar”). Mas porque eu sou muito alegre e feliz e amo alegrar as pessoas. Eu tinha muita vontade de soltar a cabeleira e homenageá-la. Ali, era eu, o Martonni, só que com a peruca bizarra!

Quais as dicas que você dá aos corredores que pretendem correr fantasiados?
É preciso analisar a quilometragem da prova para escolher a roupa e os acessórios. Em provas longas, escolho fantasia mais leves e com cores claras. Quando a corrida é mais curta, de 5km ou 10km, uso as mais elaboradas. É importante ainda levar em consideração também todos os detalhes para não atrapalhar os movimentos. Se possível, faça testes antes em casa, uma simulação dos movimentos dos braços e pernas para verificar se algo pode causar um tropeço. Imagina, cair com a fantasia e se machucar? Por fim, que usem a fantasia em prol de alguma causa ou no intuito de alegrar alguém.


Deu samba! Gilson Soares transformou a corrida em música!

gilson-soares

“Panturrilha, minha filha, quero correr as Dez Milhas, você tem que me ajudar, tô treinando há quase um ano, pra vencer os quenianos, não atrapalhe os meus planos, na Glória quero chegar”.

A maior corrida de rua do Espírito Santo acabou em samba! O poeta, compositor e corredor Gilson Soares criou o bem-humorado “Samba da Panturrilha”, em homenagem à prova. Na letra da música, Gilson, que já participou de 20 edições da Dez Milhas Garoto, pede a “ajuda” da panturrilha para conseguir correr os 16km de percurso mais lindo do Estado.

O “Samba da Panturrilha” é o que se pode chamar de um samba de circunstância. Há cinco anos, o corredor estava nos preparativos finais para a Dez Milhas, quando começou a sentir a panturrilha esquerda. E foi durante os treinos que o samba foi se desenvolvendo. “Escrevi essa letra quando tive o problema nas semanas antes da prova. Aí não teve jeito, como sou apaixonado pela Dez Milhas Garoto, fui para a prova mesmo com dores e corri cantando”, conta Gilson.

Mas foi em 2015 que a letra saiu do papel após uma parceria do letrista com o grupo de samba capixaba Sandália de Pescador. Com Sérgio Lobão (voz e violão) e Betinho Capoeira (voz e cavaquinho) o “Samba da Panturrilha” também fala das belezas das cidades de Vitória e Vila Velha e homenageia a santa padroeira do Espírito Santo, Nossa Senhora da Penha.

“Culpada” pela criação da letra do samba, a panturrilha de Gilson não reclamou durante a fase de treinamentos dele para a disputa da prova esse ano. Ou seja, dor nenhuma vai impedir o corredor e compositor de encarar a Dez Milhas Garoto com a letra na ponta da língua e o samba no pé!

“Minha expectativa para esse ano é muito boa. Fiz ano passado a prova com 85 minutos e meu objetivo esse ano é baixar de 80. A minha referência de competição sou eu mesmo há um ano. Estou sempre procurando baixar meu tempo anterior”.

Gilson Soares nasceu em Ecoporanga, tem 61 anos e, como todo apaixonado pela Dez Milhas Garoto, prefere corridas de percursos longos. Utiliza a bicicleta como veículo de locomoção urbana e já pedalou todo o território capixaba em cima da magrela: do extremo sul (Praia das Neves) até o extremo norte (Praia do Riacho Doce) e do nível do mar (Vila Velha) até o Portal do Pico da Bandeira, no Caparaó.

O poeta já publicou os livros: Rosa-dos-ventos (poesia, FCAA/Ufes, Coleção Letras Capixabas, 1985), Canção da meia-idade (poesia, Edit, 1997) e Minério (poesia, edição do autor, 2014).

musicOuça, cante e corra com Samba da Panturrilha! 

Samba da panturrilha
Compositor: Gilson Soares

Panturrilha, minha filha,
quero correr as Dez Milhas
você tem que me ajudar
tô treinando há quase um ano
pra vencer os quenianos
não atrapalhe os meus planos
na Glória quero chegar

Colabore panturrilha,
pois Vitória é uma ilha
Vila Velha é maravilha,
mas no meio tem o mar
e é sobre o mar
que eu vou passar correndo
com a Penha me protegendo
na Garoto eu vou chegar

e é sobre o mar
que eu vou passar voando
com a Penha me abençoando
sou garoto, eu chego lá.


Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *