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Com 37 troféus em 50 campeonatos desde 2010, Cruzeiro dá certo no vôlei

Com 37 troféus em 50 campeonatos desde 2010, Cruzeiro dá certo no vôlei Com 37 troféus em 50 campeonatos desde 2010, Cruzeiro dá certo no vôlei Com 37 troféus em 50 campeonatos desde 2010, Cruzeiro dá certo no vôlei Com 37 troféus em 50 campeonatos desde 2010, Cruzeiro dá certo no vôlei

Enquanto o futebol masculino do Cruzeiro foi rebaixado à Série B do Campeonato Brasileiro e acumula dívidas de R$ 262 milhões, o vôlei masculino do clube conquista um título atrás do outro. No último final de semana, o Sada Cruzeiro se tornou heptacampeão sul-americano. Desde 2010, o time disputou 50 campeonatos, chegou a 44 finais e conquistou 37 troféus. O Cruzeiro que vem dando certo nos últimos anos é o do vôlei.

Com os sete títulos continentais (2012, 2014, 2016, 2017, 2018, 2019 e 2020), a equipe celeste disparou na galeria histórica de troféus. Banespa e Paulistano ganharam cinco vezes cada nas décadas de 1970 e 1990, respectivamente. A conquista do Sul-Americano foi a terceira taça da temporada – o time já havia conquistado a Copa Brasil e o Campeonato Mineiro. Além disso, o time é hexacampeão da Superliga e lidera a edição atual.

Para o ponta Filipe, único remanescente desde a criação do time em 2010, a manutenção de uma espinha dorsal foi fundamental para o início da hegemonia. “Mantivemos a nossa base por quatro ou cinco anos. Isso foi muito importante para o início desse período de conquistas”, disse o atleta de 39 anos.

Em 2009, o Sada Betim Vôlei se uniu ao Cruzeiro Esporte Clube e passou a se chamar Sada Cruzeiro Vôlei. O histórico de conquistas do clube começou logo no ano seguinte, em 2010, quando conquistou o seu primeiro título mineiro, desbancando o hegemônico Minas Tênis Clube, e chegou em quarto lugar na Superliga da temporada 2009/2010.

As conquistas seguintes, ainda na opinião de Filipe, foram consequência da criação de uma mentalidade vencedora. O ponto de partida para os títulos internacionais foi a decisão do Mundial em Dubai, em 2011, diante do Trentino, da Itália. “A partir daquele jogo, nós descobrimos que era possível vencer as principais equipes do mundo”, afirmou.

O treinador Marcelo Mendez é um dos principais responsáveis por essa era de ouro. São 10 anos e 35 títulos à frente do clube brasileiro. Natural de Buenos Aires, Mendez concilia o comando da equipe com o da seleção de seu país, que se classificou para os Jogos de Tóquio. “Temos uma vontade grande de vencer, melhorando a cada dia”, completou o treinador que coordenou que já treinou a seleção da Espanha, clubes italianos e os argentinos River Plate e Daom.

O clube vai bem inclusive fora de quadra. A associação entre futebol e esporte olímpico serviu para aumentar o público nas quadras, o que se reflete em ginásios cheios e grande apoio dos torcedores que costumam ir aos estádios.

A presença de um patrocinador forte – o Grupo Sada é referência na América Latina em transportes e armazenagem, além de atuar em vários setores da economia – ajuda a manter as contas em dia e trazer jogadores de ponta. O Estado apurou que os investimentos anuais já chegaram a R$ 10 milhões por ano, valor comparável a um clube médio da Europa.

Quando Vittorio Medioli, empresário italiano fundador do time e presidente do Grupo Sada, decidiu investir no vôlei, em 2006, a sua intenção era usar o esporte tentar mudar a vida de jovens carentes em Betim, na região metropolitana de Belo Horizonte. A opção pelo vôlei era uma saudade da infância dele e do irmão, Alberto, que acompanharam a criação do Parma, que se tornaria esquadrão italiano.

O empresário revela que a queda dos investimentos não comprometeu o sucesso do projeto. “Nos últimos três anos, o investimento diminuiu em valores, mas não se perdeu eficiência. Tivemos que ceder atletas que estavam fora da nossa possibilidade de serem mantidos, mas sempre preenchemos com novidades à altura”, disse Medioli, que também é prefeito de Betim. “As empresas do Grupo Sada emprestaram seus princípios e experiências de sucesso a este projeto”, afirmou o fundador.

A saúde financeira do time azul faz contraste com o cenário de dificuldades estruturais do vôlei brasileiro. Equipes como Maringá e Taubaté, por exemplo, estão com salários atrasados há três meses. No caso do time paranaense, os jogadores estão sendo obrigados a se desfazer de seu patrimônio para custear as despesas pessoais. O líbero Daniel Rossi vendeu seu Gol prata 2010 para ajustar as dívidas do cartão de crédito.

O Sada Cruzeiro, no entanto, não é imbatível. No Mundial de Clubes, disputado em dezembro, a equipe foi derrotada pelo Lube Civitanova, da Itália. Ficou com o vice. Na atual edição da Superliga, o time caiu uma vez em 16 jogos. Passou por momentos de instabilidade com as mudanças no elenco. Em 2018, o ponteiro cubano Leal, um dos destaques da equipe, decidiu atuar na Europa e foi para o Civitanova, depois de seis anos em Minas Gerais. Outro craque do time, o central Robertlandy Simon, também deixou a equipe. O substituto de Leal, o norte-americano Taylor Sander, ficou metade da temporada e foi para a Rússia.

Nesta temporada, a equipe vive uma reformulação profunda. São sete novos nomes no elenco, com quatro deles no time principal: o líbero Lukinha, os ponteiros Gord Perrin e Facundo Conte e o central Otávio. “Quando perdemos uma peça, é preciso encontrar outra que corresponda. Esse é um fator importante. Além de bons jogadores, é preciso trabalho, conhecimento e aperfeiçoamento”, avaliou Marcelo Mendez.