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De aposta de risco, Renato Gaúcho vira um treinador histórico no Grêmio

Em interminável período sabático, o técnico resolveu abandonar a vida de mais de dois anos desempregado e o futevôlei nas praias cariocas para se tornar um dos nomes mais vencedores no clube gaúcho

De aposta de risco, Renato Gaúcho vira um treinador histórico no Grêmio De aposta de risco, Renato Gaúcho vira um treinador histórico no Grêmio De aposta de risco, Renato Gaúcho vira um treinador histórico no Grêmio De aposta de risco, Renato Gaúcho vira um treinador histórico no Grêmio
Foto: Lucas Uebel / Grêmio FBPA

Seria uma aposta de risco por três meses. Se transformou em parceria de sucesso, vitoriosa e a mais longeva da atualidade na elite do futebol brasileiro. Desesperado para salvar um fim da temporada de 2016 que caminhava para ser trágico, o Grêmio resolveu investir em algo que já havia dado certo outras duas vezes: fechar com Renato Gaúcho para tentar vaga na Libertadores. O então técnico, em interminável período sabático, resolveu abandonar a vida de mais de dois anos de desempregado e o futevôlei nas praias cariocas para se tornar um dos nomes mais vencedores à beira do campo no clube gaúcho.

Uma passagem foi boa, duas melhor ainda, a terceira, então… Renato Portaluppi tem seu nome cravado na memória dos tricolores gaúchos como o herói da conquista do Mundial de 1983. Foi dele os gols no 2 a 1 sobre o alemão Hamburgo. Não precisava fazer nada mais pelo clube, que jamais seria esquecido.

Porém, o polêmico e irreverente jogador e treinador, dono de frases de efeito e que costuma não queimar a língua, jamais foi de fugir de desafios. E, se tem o nome do Grêmio envolvido, lá está ele pronto para atender.

Foi assim em 2010 quando assumiu o clube pela primeira vez. Seu feito? Vaga na Libertadores. No retorno em 2013 o roteiro era semelhante. O que conseguiu? Vaga na Libertadores. Se era “especialista” em levar o Tricolor dos Pampas à tão cobiçada competição Sul-Americana, por que não salvá-lo no Brasileirão de 2016?

O time de Roger Machado vinha de seis derrotas seguidas e queda na tabela do Brasileirão. No 8° lugar, flertava com o vexame. Com eleição pela frente, o acordo seria de 90 dias e o famoso “vai lá e resolve”. Conseguiu fechar a competição em 9°. Ou seja, piorou. Fracasso? Pelo contrário, Renato levou o desacreditado time à conquista da Copa do Brasil. Carimbou vaga na Libertadores da melhor forma possível: com seu primeiro título no clube como técnico.

Romildo Bolzan Júnior, o presidente da “aposta” em Renato, foi reeleito e, ainda no discurso da comemoração pela vitória nas urnas, fez seu primeiro e mais certeiro investimento. Quem será o técnico para 2017? “Será o Renato. Temos uma comissão técnica permanente e o Renato é o líder disso tudo. Nenhum treinador viria para ficar só três meses e o Renato veio. Renato é o nosso treinador para 2017, sem dúvida nenhuma. Temos um trabalho que o Roger deixou, e o Renato melhorou o time. Vamos seguir com este trabalho de longo prazo.”

Tiro certeiro. O campeão da competição Sul-Americana como jogador teria a chance de repetir a dose na direção do Grêmio. E o fez com maestria na final diante do argentino Lanús. Com Luan, hoje encostado no Corinthians, sendo o “rei” da campanha, o Grêmio ergueu o tricampeonato da Libertadores e somaria ao menos uma conquista sob o comando de um de seus grandes treinadores da história, ao lado de Valdir Espinosa e Vanderlei, também campeões da América, nos últimos anos.

O Grêmio de Renato Gaúcho é tricampeão estadual gaúcho (2018, 2019 e 2020) e ainda deu a volta olímpica na Recopa Sul-Americana em 2018 e na Recopa Gaúcha em 2019. Apesar das conquistas, o treinador é sempre cobrado para findar o jejum de títulos no Brasileirão, que dura desde 1995, competição que todo ano “deixa de lado” para se dedicar à Libertadores ou Copa do Brasil, por exemplo. Será que em 2021 o treinador dará uma atenção a mais no Nacional para melhorar o vitorioso e recordista currículo? Ganhar um Nacional está em suas ambições.

De certo é que Renato pode ficar eternizado com muitas marcas no Sul. Há pouco mais de três meses, o menino de Guaporé se tornou o treinador com mais número de jogos à frente do Grêmio. Superou Oswaldo Rolla, o Foguinho, ao alcançar a marca de 384 partidas. O recordista anterior tinha dirigido os gaúchos em 383 partidas em seis passagens.

Provocar rivais, colocar seu time como o melhor, não importa a situação, e apostar em falas controversas e frases de efeito marcam o dia a dia do treinador ao longo desses quase cinco anos de clube. Sobre a equipe tirar o pé após abrir vantagem, mandou um “culpa do nana, neném”. Garantiu que era “mais fácil o mar secar” que o Grêmio ser rebaixado no Gaúcho.

Quando seu time atacou muito e fez poucos gols, apelou ao ” tem dia que é noite”. Já chamou o operador do VAR de “Stevie Wonder”, acusando-o de ter deficiência visual a exemplo do cantor. Já chamou rivais de “cavalos paraguaios”, prometeu e cumpriu “decolar” no último Brasileirão, chegando entre os melhores, mas já usou sua artilharia pesada contra o setor defensivo ao baixar o nível para “até mulher grávida faz gol no Grêmio.”

O que o faz ser querido no grupo, contudo, é esse estilo de dificilmente rebaixar sua equipe. Ela pode estar mal ou em desvantagem em pontos corridos ou mata-mata e ele sempre exaltará os comandados como responsáveis pelo “melhor futebol do Brasil”. Exagera por vezes, mas cativa e tem seus elencos na mão. E com conquistas de títulos todo ano, não tem nem como ser contestado.