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Destaque do Brasil na São Silvestre, gari Johnatas de Oliveira sonha com Tóquio

Para ajudar a família a se manter financeiramente, Johnatas começou a trabalhar ainda jovem em um posto de gasolina

Destaque do Brasil na São Silvestre, gari Johnatas de Oliveira sonha com Tóquio Destaque do Brasil na São Silvestre, gari Johnatas de Oliveira sonha com Tóquio Destaque do Brasil na São Silvestre, gari Johnatas de Oliveira sonha com Tóquio Destaque do Brasil na São Silvestre, gari Johnatas de Oliveira sonha com Tóquio
Foto: Pixabay

Johnatas ganha a vida correndo pelas ruas de São Paulo coletando lixo, mas há quatro anos decidiu transformar a atividade na fonte de novos sonhos. Passou a aliar as botas utilizadas no trabalho aos tênis das maratonas. A “brincadeira” virou coisa séria e o atleta foi simplesmente o quarto melhor brasileiro na disputa da última São Silvestre, ao terminar na 13ª colocação a tradicional prova do dia 31 de dezembro.

Mineiro da pequena cidade de São Pedro dos Ferros, Johnatas de Oliveira Cruz chegou a São Paulo aos 12 anos. Na época, sua paixão era o futebol. Ele conta que era aficionado pela modalidade e chegou a tentar a sorte em peneiras por diversos clubes, como Corinthians, Santo André e São Caetano. “Passei em todas, mas como os meus pais não tinham condições de bancar minha ida para o clube, acabei não indo em frente”, diz.

Para ajudar a família a se manter financeiramente, Johnatas começou a trabalhar ainda jovem em um posto de gasolina. Aos 15 anos, auxiliava na lavagem dos carros. Passou a calibrar pneus e, aos 18, conseguiu seu primeiro emprego com carteira assinada: frentista. Ele ainda trabalhou no caixa do posto, mas sonhava com outra vida.

De tanto caminhar em frente à empresa EcoUrbis, responsável pela coleta de lixo nas Zonas Sul e Leste de São Paulo, Johnatas decidiu tentar uma vaga. No fim de 2012, deu certo. “Sempre passava em frente e tinha vontade de trabalhar ali. Achava legal aqueles garis correndo atrás do caminhão. É muito feliz o trabalho. A gente coleta sorrindo e brincando. Sinto e vivo isso até hoje.”

Ele não esconde que outro fator pesou na decisão de buscar o novo emprego. Desde 2005 a empresa promove um programa de incentivo aos funcionários que se arriscam no atletismo. “Entrei na EcoUrbis com o pensamento de correr, porque fiquei sabendo que a empresa dava esse apoio. Pelo fato de a gente correr atrás do caminhão, já ajuda bastante na parte aeróbica.”

A empresa explica que percebeu nos funcionários o desejo de transformar a corrida, principalmente a de longa distância, em hobby. De tanto perseguirem os caminhões no dia a dia, os coletores desenvolviam a paixão pela modalidade, o que fez com que a EcoUrbis passasse a realizar seletivas e a bancar as inscrições dos melhores colocados na São Silvestre de cada ano, além de fornecer ajuda de custo e até materiais àqueles que mais se destacassem. E foi justamente assim que Johnatas começou, não sem antes superar novos obstáculos: duas hérnias que o obrigaram a passar por cirurgias e atrasaram sua iniciação no atletismo.

“Comecei treinando em 2015, fui participando de corridas aqui e ali, e gostando. Hoje, encaro como um amor à corrida. Graças a Deus, o resultado está vindo. O fato de ter uma biomecânica boa, a genética, ajuda muito nos treinos. Os amigos aconselham a continuar. Então, seguimos na batalha”, relata.

Apesar de estar com 28 anos, idade considerada avançada para quem ainda inicia no esporte, Johnatas sonha alto. Para isso, treina de segunda a sábado em dois horários: pela manhã, em um parque no bairro Cidade Tiradentes, onde reside, e à noite, durante seu expediente, correndo atrás dos caminhões. Ele tem o auxílio de um treinador e desde o ano passado passou a contar com acompanhamento médico.

Todo esse esforço tem dois objetivos. “Meu sonho é disputar uma Olimpíada e ganhar uma maratona, qualquer uma, principalmente fora do Brasil. Tem que sonhar alto para disputar uma Olimpíada ou uma edição dos Jogos Pan-Americanos, mas eu sonho sim”, admite.

Johnatas reconhece a importância e a transformação que a corrida lhe trouxe. “Encaro a vida com muito mais paciência. Os fundistas pensam muito. Você está ali correndo 5 km, 10 km, 20 km e até 42 km. Tem de pensar bastante, e isso acaba mexendo contigo. A gente foca muito no que fazer e acaba levando isso para o dia a dia”, diz.