Esportes

Dupla brasileira destaca força mental em título inédito do Rally Dakar

Dupla brasileira destaca força mental em título inédito do Rally Dakar Dupla brasileira destaca força mental em título inédito do Rally Dakar Dupla brasileira destaca força mental em título inédito do Rally Dakar Dupla brasileira destaca força mental em título inédito do Rally Dakar

São Paulo – São 103 anos de vida, 58 para Lourival Roldan e 45 para Leandro Torres. Combinação que deu o título inédito ao Brasil no Rally Dakar, “competição em que os cabelos brancos falam mais alto do que o preparo físico dos participantes”, na definição do mais jovem deles. Para percorrer quase 9 mil quilômetros entre Paraguai, Bolívia e Argentina, por duas semanas, os campeões da categoria UTV usaram a experiência como trunfo.

“A persistência de querer completar uma prova tão difícil cria outro tipo de ânimo. Força mental é 70% da prova”, afirma Leandro, que destaca as condições meteorológicas como maior desafio enfrentado pela dupla ao longo do caminho. “A gente pegou 47ºC no Paraguai, fomos para -3°C na Bolívia, a 4.900 metros de altitude, depois voltamos para 45°C na Argentina, isso mexeu muito com a parte física, com a parte mental e com a própria máquina”, conta.

As adversidades exigiram perseverança dos brasileiros, que precisaram de paciência para lidar com os problemas mecânicos do veículo. Segundo Lourival, os reveses não atrapalharam a convivência. “A gente não pode ficar gastando energia nos erros, nosso foco é na solução. A gente se dá muito bem porque temos a mesma filosofia, a gente não fica brigando no carro”, explica.

E o navegador, ex-analista de sistemas, vê no colega o equilíbrio fundamental para o sucesso da parceria nas provas off-road. “Fiquei muito satisfeito com a evolução dele como piloto, em termos de rapidez e concentração. Quando precisa, ele sabe andar devagar. Eu tenho um ímpeto muito competitivo e, em determinados momentos, é preciso tirar o pé e ter juízo. Ele me complementa. Dakar não é só sentar e acelerar, é muito desafiador.”

Os limites estão sempre sendo testados por Leandro, mesmo na vida pessoal. Em 2004, mudou-se do Rio de Janeiro para São Paulo devido ao trabalho no mercado financeiro e em pouco tempo o ponteiro da balança passou dos 95kg para os 135kg. Com o objetivo de acompanhar o ritmo dos filhos, decidiu submeter-se a uma cirurgia bariátrica, popularmente conhecida como operação de redução do estômago, mas enfrentou complicações logo após a operação com uma infecção que o obrigou a ficar 51 dias internado – 48 sem ingerir alimentos via oral.

“Em momento algum eu surtei, a grande preocupação dos médicos era eu me entregar para a doença, mas sempre me comportei bem. Ali comecei a descobrir que eu não sabia qual era o meu limite, que meu limite era muito maior do que eu achava. Cada dia uma vitória”, relembra Leandro, que hoje voltou a pesar 95kg e não abre mão da cerveja e do churrasco no cardápio.

A superação da doença deu coragem para o piloto se redescobrir. Em 2007, competiu o Rally dos Sertões de moto pela primeira vez e, no último dia de prova, quebrou a clavícula. Alguns nos mais tarde, encontrou o veículo ideal. “O UTV me dava o prazer de andar de moto, mas sentado e com menos risco. Resolvi testar o veículo novo, que era uma febre nos Estados Unidos, e me encaixei. Era tudo o que precisava: prazer, diversão, menos esgotamento físico e segurança.”

A consagração de Leandro no Dakar não tardou, ao contrário de Lourival que precisou de dez anos para comemorar o feito inédito. Mas a longevidade é um dos orgulhos do veterano. “São 32 anos nas provas de rali e continuo atual, competitivo e aprendendo. Nunca parei de evoluir porque nunca deixei de aceitar conhecimento dos outros. Quando você acha que não tem mais a aprender, está na hora de se aposentar”, afirma. E a despedida ainda não está em seus planos.

Lourival estará em ação no Enduro Rally Piocerá, entre os dias 23 e 28 de janeiro, com largada em Teresina (PI) e chegada em Caucaia (CE). Além disso, tem como meta vencer a próxima edição do Rally dos Sertões, em agosto, ao lado do companheiro do Dakar. Já Leandro vê além do horizonte. “As portas estão se abrindo para ele no exterior, a comunidade asiática sondou Lourival para correr ralis na China. Se ele continuar no Brasil, não tem motivo para a gente mudar um time que está vencendo”, projeta.