Com a pandemia do covid-19, as redes sociais se tornaram o refúgio da humanidade, desde as crianças aos idosos. Entendemos que era, no momento, o único modelo de interação e integração de todos. Entretanto, nos últimos anos, estamos vivendo uma transformação profunda nos hábitos sociais, especialmente entre os nossos jovens.
As redes sociais tornaram-se onipresentes, ocupando o tempo, o pensamento e a atenção de milhões de pessoas ao redor do mundo. Enquanto isso, o esporte que antes era protagonista nas rotinas de lazer, saúde e interação social, parece estar perdendo terreno.
A pergunta que se impõe é: estamos perdendo a batalha entre o esporte e as redes sociais?
O poder de atração das telas
As redes sociais oferecem dopamina instantânea: curtidas, comentários, vídeos curtos e desafios virais criam um ciclo viciante de recompensas imediatas. Enquanto o esporte, por outro lado, exige esforço, dedicação, resiliência e resultados que nem sempre vêm no curto prazo.
Em uma cultura digital movida pela pressa e pela gratificação instantânea, é compreensível, mas, ao mesmo tempo, muito preocupante, pois muitos preferem o conforto das telas ao esforço físico do esporte.
Além disso, a exposição constante à comparação social nas redes de corpos perfeitos, performances irreais, treinos altamente editados, atletas que se acham imortais, que no fim acabam desestimulando a prática real do esporte, ao criar expectativas inalcançáveis, longe da realidade do esporte brasileiro.
Você consegue entender o resultado destas ações? Uma geração de jovens mais sedentária, com níveis crescentes de ansiedade, distúrbios alimentares e problemas de saúde mental e física. Uma geração que não consegue sequer tomar uma decisão! Preocupante.
A redução do envolvimento esportivo
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) alertam que mais de 80% dos adolescentes no mundo não praticam atividade física suficiente. Entre os principais motivos estão o uso excessivo de dispositivos eletrônicos e o tempo despendido online.
Mesmo nas escolas, que são o berço do esporte, ele tem perdido espaço para outras prioridades curriculares ou para a falta de infraestrutura adequada. Com isso, os números de jovens com obesidade e depressão vêm crescendo a cada dia.
E não é só entre os jovens. Adultos também estão sendo afetados. O tempo médio diário nas redes sociais supera, em muitos casos, o tempo disponível para qualquer atividade física.
A cultura da produtividade, aliada a fuga da realidade para o mundo digital, tem tornado o esporte um “luxo” na agenda de muitos.
Esporte nas redes: aliado ou rival?
É importante reconhecer que as redes sociais não são, necessariamente, inimigas do esporte. Muitas iniciativas usam essas plataformas para inspirar, motivar e educar. Atletas compartilham treinos, rotinas e conquistas, ampliando o alcance do esporte.
Desafios virais positivos, como as campanhas de incentivo à prática de exercícios, podem gerar engajamento saudável.
O problema está no desequilíbrio. Quando o consumo passivo de conteúdo supera a prática ativa de atividades físicas, criamos uma geração que assiste ao esporte, mas não participa dele.
Isto está cada vez mais normal, infelizmente, o exemplo ainda é o melhor dos caminhos, se os pais não fazem, os filhos não vão fazer!
Mas e agora, como reverter a tendência?
Uma sugestão que sempre passo é que precisamos ter um trabalho de equipe para podermos virar esse jogo, uma ação coordenada.
Famílias e escolas devem promover o esporte como ferramenta de desenvolvimento físico, emocional e social, valorizando a prática cotidiana e o lazer ativo.
Políticas públicas precisam garantir acesso a espaços esportivos, professores capacitados e programas de incentivo.
Influenciadores e criadores de conteúdo podem contribuir ao equilibrar a estética com a realidade, mostrando o lado humano do esporte, suas dificuldades e recompensas reais.
Todos nós, como indivíduos, devemos reavaliar nosso uso das redes e buscar formas de reconectar corpo e mente por meio do movimento.
A batalha entre esporte e redes sociais é real e até o momento, estamos perdendo feio. Mas eu acredito que ainda há tempo de reagir. Mas para que isto aconteça é preciso resgatar o valor do esporte como experiência vivida, não apenas como espetáculo assistido.
Está na hora de virarmos este jogo! Que possamos usar a tecnologia como aliada, e não como substituta, de uma vida ativa, saudável e significativa. Afinal mens sana in corpore sano (mente sã em corpo são).